terça-feira, 20 de dezembro de 2022

PROCESSOS DE ESCRITA: VARIADOS POEMAS, POR CAROLLINA COSTA

 

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PROCESSOS DE ESCRITA: VARIADOS POEMAS DE CAROLLINA COSTA


POR CAROLLINA COSTA


Gestar e parir não é tarefa fácil, quer sejam filhos, projetos ou... Livros. Diferente dos meus outros dois livros — O Singular do Dual, que foi um livro mais montado do que propositalmente escrito, e 30 Dias 30 Poemas, que foi um desafio poético que criei para mim mesma —, Variados Poemas foi um livro que me surgiu através das músicas “Carcará”, na voz de Maria Bethânia, e “Compasso”, de Angela Ro Ro, cada uma com sua marcação e em seu momento particular. É um livro dividido, porém não separado, em três partes, que apesar de temáticas são como três artérias que irrigam as páginas de um único livro com versos pulsantes em uma mesma harmonia.

Capa de Variados Poemas

Meio Bethânia, meio Ro Ro, Variados tem seu embrião no meu poema “Memórias”, que compõe a primeira parte do livro. Escrevi esse poema de sobressalto, ao me deparar com um vídeo no Instagram da música “Carcará”, cantada por Maria Bethânia ainda jovem. Até então eu só conhecia a música na voz de Nara Leão, mas a profundidade da voz de Bethânia logo no início da música me transportou diretamente para os caminhos da minha ancestralidade paterna, sendo meu pai nascido no interior da Bahia, porém criado no Rio de Janeiro. Não sei muitas histórias porque, como digo em um dos meus poemas dessa primeira parte, “sofrimento a gente só quer esquecer” e ficam as histórias deduzidas pelas cicatrizes que vez ou outra dão o ar da graça.

Apesar de ter sido trazido por “Carcará”, o poema “Memórias” também fala da minha ancestralidade materna, vinda do interior de Portugal. Essa conexão entre minhas duas ancestralidades no poema não surgiu à toa, visto que foram dois “interiores”, cada um com sua penúria, buscando uma nova vida em uma nova cidade ou país que me trouxeram até aqui. Quando terminei o poema junto com a música eu sabia que ainda faria algo com ele, só não sabia o quê. Então o guardei.

Algum tempo depois, ouvindo a rádio JB FM, tocou a música “Compasso”, de Angela Ro Ro, enquanto eu fazia alguma coisa no computador. Lembro que larguei o que estava fazendo e, já com alguns poemas soltos que escrevi desde o “Memórias”, escolhi o título do que seria meu novo livro de poemas, Variados Poemas. Estreei um novo caderninho de poemas e, a partir dali comecei a escrever intencionalmente para o livro. De início pensei apenas no que eu queria levar para esse livro: ancestralidade e processos de escrita. Eram dois temas que estavam me transpassando com frequência e de forma intensa na época, há uns três anos atrás.

Foram dois anos de escrita. Nem tudo que eu escrevia era pensando no livro — até porque também escrevia crônicas, microcontos, e os trabalhos da faculdade —, mas boa parte dos poemas eu escrevia intencionalmente para ele. Se eu gostasse, guardava, se não, deixava esquecido ou colocava na internet se achasse mais ou menos. Enquanto “Carcará” deu o pontapé para a primeira parte do meu livro sem que eu soubesse, “Compasso” me apresentou de cara a visualização de um livro completo, um livro que não era apenas feito de memórias, mas que unia os vários passados que não vivi com o presente que está constantemente em criação e o devir da potência criativa que é o motor de todo escritor, criador, artista. “Compasso” trouxe a linha que faltava na costura da obra para que eu também me visse representada no que escrevia, sem ser apenas uma narradora de memórias.

Ao buscar espelhar meus processos criativos na minha escrita, senti a necessidade de uma terceira parte no livro, e foi quando comecei a pensar na estrutura que se tornou a forma final: dividido em três partes, com poemas em inglês e português. Sou formada em Letras: Português-Inglês e professora de língua inglesa, o que faz com que eu tenha um grande contato com o idioma e muitas vezes crie textos em inglês por conta disso. Por um tempo estive imersa nos poemas de Emily Dickinson e no livro Walden, de Henry David Thoreau e deles tirei a terceira parte do livro — que, ao organizar as partes, ficou sendo a segunda — e a maioria dos meus poemas em inglês estão nela.

Ancestralidade, natureza e angústia criativa. Essa é a ordem na qual dividi o livro. Nem todos os poemas têm título, então coloquei uma pequena marcação em espiral no fim da página correspondente ao fim de cada poema para marcá-los, mas nada impede que o leitor as ignore e monte poemas novos. Espirais são círculos que voltam a um mesmo ponto por caminhos diferentes, talvez esse movimento possa inspirar leituras.

A capa também foi um processo criativo meu, mas pensada só depois do livro já montado. A lótus, uma flor que cria suas raízes na lama e floresce em água limpa, na cor vermelha é entendida como símbolo da compaixão por algumas culturas orientais. Pintei de forma simples em uma tela com tinta a óleo porque não sou nenhuma profissional de artes plásticas, mas também quis trazer certa simplicidade e autenticidade criando uma ilustração com minhas próprias mãos para o meu livro, como já tinha feito com O Singular do Dual. Penso na compaixão que a natureza tem com seus ciclos e na compaixão que precisamos ter tanto com nossas memórias quanto com nosso presente. De alguma forma a compaixão também transpassa esses versos.

Capa de Variados Poemas

Mesmo depois do livro escrito, ainda fiquei um ano pensando se publicaria ou não e como publicaria. Decidi publicar na primavera desse ano de forma independente pela plataforma da Amazon e da UICLAP, já disponível para todos que quiserem adquirir seu exemplar. Do tanto que todo esse processo me trouxe, desejo que o devir desses versos, desde a capa até a última folha, possa incentivar à busca de possibilidades nos (com)passos de cada leitor. Abaixo, deixo o meu poema “Memórias”, que foi como tudo começou:

Memórias

É o sangue do sertão que corre nas veias

O solo quente e infértil

A memória da fuga pelo sol

Da trajetória errônea que só quem não tem destino sabe viver

 

Aquela memória juntou com a vinha fria da segunda guerra

A benção de comer o que se planta

Mas também não saber como vai ser na próxima estação

 

A memória da roupa rasgada

Da fuga pela promessa de uma nova terra

A junção do imigrante de país com o estrangeiro de cidade

 

Dois interiores que se encontraram

E juntos formaram

O arcabouço de memórias

E as centenas de histórias

Que passaram de parto em parto

Até parirem

A mim

 

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Carollina Costa é licenciada de Letras: Português-Inglês pela UFRJ e atua como professora de língua inglesa e escritora. É autora dos livros de poemas O Singular do Dual e 30 Dias 30 Poemas. Faz parte do coletivo de escritores Ecos Poéticos.


4 comentários:

  1. Deve ser lindo!! Sua resenha nos deixa com desejos de leitura :)

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  2. Parabéns Carollina por expressar com tanta sensibilidade as suas vivências, ressaltando nestas um apreço especial pela natureza!

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