POESIA NA REDE|08
Deixo aqui um poema que escolhi para a “minha antologia de Cecília”, mas que também foi compartilhado por algumas pessoas na celebração de seu aniversário.
Inscrição
Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente
humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura e encanto indiferente
de herança, em cada lugar.
Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.
Poema Inscrição de Cecília Meireles livro Mar
Absoluto e Outros Poemas (1945)
Finalizo com um belíssimo poema feito em homenagem a Cecília Meireles, de Nic Cardeal, um passeio pelas obras e suas belezas na companhia de Nic:
CECÍLIA
Hoje tu vês bem melhor¹, eu sei!
Espectros²?
Nunca mais³... ou, quem sabe... que importa?
Tuas mãos já se abriram ao infinito⁴
e podes ver o Mar Absoluto⁵ em tua eternidade!
Já não te fazes em solombra⁶:
não há mais nenhuma tristeza por causa da morte,
os mistérios, o tempo, as memórias, mesmo a solidão,
passaram...
Teu corpo, que te foi dado em pai e mãe
e em todos os que te fizeram⁷
em retrato natural⁸
ou em doze noturnos⁹,
também passaram...
Tu és a aeronauta¹⁰ que escolheu o seu sonho¹¹
e viveu a viagem¹²,
fazendo-te de ti mesma o poema dos poemas¹³!
Não. Não foste um sonho a realizar¹⁴,
foste a própria vida:
vaga música¹⁵ que se fez à imagem do mar¹⁶,
sem perder a sina da terra!
Tu sabes: não terminaste!
Agora vês com os teus [próprios] olhos¹⁷
que o que se diz e o que se entende¹⁸
nem sempre está no mesmo lugar!
Não há lugar... nem tempo,
o que há são as baladas para El-Rei¹⁹ para sempre
entoadas...
Porque agora tu és o cântico dos cânticos²⁰
e te pões em tudo, como Deus²¹!
(Nic Cardeal*, poema participante da antologia 'Memorial
Cecília Meireles - Homenagem em Poesia',
São Paulo: Selo Editorial Independente, 2021, p. 85/86 e 109/110)
Referências:
(1) “(...) Mas tu verás melhor...” (excerto do Cântico XXVI,
in: Cânticos, Cecília Meireles, livro de 1981).
(2) Espectros, Cecília Meireles, livro de 1919.
(3) Nunca mais... e poema dos poemas, Cecília Meireles,
livro de 1923.
(4) “(...) E abre as tuas mãos sobre o infinito. (...)”
(excerto do Cântico XXV, in: Cânticos, Cecília Meireles, livro de 1981).
(5) Mar absoluto e outros poemas, Cecília Meireles, livro de
1945.
(6) Solombra, Cecília Meireles, livro de 1963.
(7) “Não digas: Este que me deu corpo é meu Pai. / Esta que
me deu corpo é minha Mãe. / Muito mais teu Pai e tua Mãe são os que te
fizeram/Em espírito. (...)” (excerto do Cântico XXIV, in: Cânticos, Cecília
Meireles, livro de 1981).
(8) Retrato natural, Cecília Meireles, livro de 1949.
(9) Doze noturnos da Holanda, Cecília Meireles, livro de
1952.
(10) O aeronauta, Cecília Meireles, livro de 1952.
(11) Escolha o seu sonho, Cecília Meireles, livro de 1964.
(12) Viagem, Cecília Meireles, livro de 1939.
(13) Nunca mais... e poema dos poemas, Cecília Meireles,
livro de 1923.
(14) “Não faças de ti/Um sonho a realizar. (...)” (excerto
do Cântico XXIII, in: Cânticos, Cecília Meireles, livro de 1981).
(15) Vaga música, Cecília Meireles, livro de 1942.
(16) “(...) Faze-te à imagem do mar. (...)” (excerto do
Cântico XXII, in: Cânticos, Cecília Meireles, livro de 1981).
(17) “(...) Tu verás com os teus olhos. / Em sabedoria. / E
verás muito além.” (excerto do Cântico XXI, in: Cânticos, Cecília Meireles,
livro de 1981).
(18) O que se diz e o que se entende, Cecília Meireles,
livro de 1980.
(19) Baladas para El-Rei, Cecília Meireles, livro de 1925.
(20) Cânticos, Cecília Meireles, livro póstumo, de 1981.
(21) “(...) Que o teu olhar, estando em toda parte/Te ponha
em tudo, / Como Deus.” (excerto do Cântico I, in: Cânticos, Cecília Meireles,
livro de 1981).
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* Nic Cardeal, catarinense radicada em Curitiba, graduada em Direito, é autora de Sede de céu (poesia, Penalux/2019) e Costurando Ventanias - uns contos e outras Crônicas (Penalux, 2021). Atualmente tem textos publicados em 44 antologias e coletâneas no Brasil, Portugal e Alemanha. É integrante do movimento Mulherio das Letras desde sua criação. Seus escritos estão compilados na página do Facebook “Escrevo porque sou rascunho”. É editora adjunta da Revista Feminina de Arte Contemporânea Ser MulherArte.
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Flavia Ferrari [foto arquivo pessoal] |
Cecilia! Presente! Vivo ceciliando nos meus escritos ... E quem não?Obrigada por nos presentear com o relevante texto e a live que foi maravilhosa! Parabéns Flávia!
ResponderExcluirMuito obrigada querida Rilnete! Adorei o "ceciliar", vamos juntas! Beijo grande
ResponderExcluir“Ceciliar” Muito bom!👏🏼
ResponderExcluirLinda homenagem à Poeta Cecília Meireles! Parabéns, Flávia!
ResponderExcluirObrigada por partilhar meu poema, sinto-me honrada por estar junto de uma das minhas Poetas Maiores!
Seu poema é lindo demais Nic!
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