POESIA NA REDE|04
Por Flavia Ferrari
Como
canta Marisa Monte, “Amar alguém não tem explicação/Não há como conter o furacão”
*. O amor se impõe, entra pelas frestas, escancara portas, cria janelas, mas
como vivenciar o amor em tempos de distanciamento social? Observamos que no
início de 2020, quando a pandemia chegou e nos isolou, famílias foram separadas
dos encontros costumeiros, namoros foram desfeitos ou, em alguns casos, foram
transformados em casamento. A situação da pandemia hoje, apesar de gravíssima,
tornou o cotidiano mais presencial, tanto por conta da disponibilidade da vacina,
como pela necessidade econômica, social, política e psíquica da humanidade.
Esta retomada foi acontecendo aos poucos e hoje temos os lugares públicos
abertos e funcionando quase em sua totalidade, apesar do avanço da variante Ômicron
e aumento nos casos de internação pelo mundo afora.
Mas e os novos amores, as novas
paixões, os encontros, as separações? O que mudou? Alguém postou na rede social
que para um primeiro encontro presencial é necessário compartilhar previamente o
comprovante de vacinação, afinal, decidir encontrar alguém pela primeira vez,
estando sem máscara, não é uma decisão tranquila. Há os que relataram que
terminar um relacionamento por telefone ou por vídeo diante da impossibilidade
de um encontro presencial é mais fácil, apesar de toda frieza que a virtualidade
traz. Os encontros amorosos e sexuais virtuais na pandemia foi descoberta por
muitos que não usavam a internet para este fim e a estimativa é que o uso de
aplicativos de relacionamento durante a pandemia tenha aumentado cerca de 400%
no Brasil**. Talvez os encontros virtuais permaneçam em alta, mesmo depois da
pandemia, e um primeiro encontro presencial seja algo a ser plasmado a dois com
muita antecedência e se torne um grande passo para o relacionamento. Ou,
talvez, depois de tanto navegar, as pessoas desejem mesmo sair por aí e dar ao
acaso a oportunidade de presentear as pessoas com a presença do outro.
Em tempos de (des)encontros
virtuais, escrevi o poema abaixo, sobre o desfecho de um relacionamento, que
compartilho com vocês:
Desencontro – Flavia Ferrari
Já não quero receber teu abraço
Meu corpo ressente
Este corpo que recentemente é só meu
Não há toque virtual
Às vezes evito teu olhar
Ele me assusta e me desafia
Acho que me desestabiliza
E fecho a câmera
Reconheço teus esforços
O máximo esforço
Vejo teu apreço, recebo tua ansiedade
Sua vontade de estar comigo
Mesmo quando finge querer ir embora
E se desliga
Você quer me ensinar
Me falar tudo
Me educar e me formar
Quer minha escuta e minha atenção
Entretelas
Quer meu corpo presente
Toda aproximação
Quer meu gosto
Minhas histórias
Fazer de mim o coringa da sua ficção
E caímos
Já não posso mais ser o alimento do teu ser
Talvez ainda te ame
Mas não te quero mais
Fim da chamada
*_* *_* *_* *_*
Referências:
*Música “Amar alguém”, Marisa Monte/ Dadi/ Arnaldo
Antunes, 2011.
** Disponível em https://www.google.com.br/amp/s/www1.folha.uol.com.br/amp/treinamento/2021/10/relacionamentos-online-disparam-na-pandemia-ouca-podcast.shtml.
Acesso em 31/1/2022.
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