Mês de janeiro, agradecemos as águas que caem e enchem os reservatórios dos quais somos dependentes para que tenhamos água durante o período de seca. Mas quantas tragédias nos deparamos neste período, com índices de chuva altíssimos que parecem que a cada ano batem recorde e nos colocam em conflito com nosso modo de vida e de como a sociedade está estruturada para cuidar (ou não) dos seus. Choramos pelo Capitólio e pelo Sul da Bahia nos perguntando como agir coletivamente para que as tragédias evitáveis não mais ocorram e que o que não se pode prever, possa ser cuidado, reparado.
O fato é que nos sentimos pequenos diante da magnitude e das consequências do que assistimos.
A rede foi invadia por reflexões, orações, poemas e imagens que mostram como a arte responde à vida. Porque responde sempre de algum modo. Por vezes nos conforta, outras nos desafia ou nos coloca frente a frente com os buracos de nosso tecido social.
Finalizo com o poema de Mayra Luiza Corrêa, Cabo de Guerras:
Um puxa de lá,
Outro polui daqui,
Não há força pra soltar
O preço é esmaecido, aflito.
A gota acaba em manancial
A solidão bomba e flui líquida
Não mais maresia,
Só mar se vai
Ensacam água!
Plastificam água!
Sujam água!
Choram água!
Acordo para ser fluído...
Mas alguns compraram os sonhos
E ainda pagaram com o sangue
Dos outros
Haverá dia sem chuva para beber
Podre é quem usa o céu contra nós
Poluído de ouro-barro, rio...
O que corre em nossas veias é oceano
Um puxa de lá,
Outro polui daqui,
Não há força pra soltar
O preço é esmaecido, aflito.
A gota acaba em manancial
A solidão bomba e flui líquida
Não mais maresia,
Só mar se vai
Ensacam água!
Plastificam água!
Sujam água!
Choram água!
Acordo para ser fluído...
Mas alguns compraram os sonhos
E ainda pagaram com o sangue
Dos outros
Haverá dia sem chuva para beber
Podre é quem usa o céu contra nós
Poluído de ouro-barro, rio...
O que corre em nossas veias é oceano
*_* *_* *_* *_*
Mayra escreve poesia desde criança com mãe poeta. Aos 14 anos participou de sua primeira antologia e, desde então, publicou contos, ganhou prêmios por textos teatrais e falou de temas difíceis.
Referência:
Chorando pela natureza: poesia geopolítica ambiental / Jéssica Iancoski (Organizadora); Adriana Teixeira Simoni, Adriano Bensen, Alana Aguida Berti, et al. – Curitiba: Eu-i, 2021.
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