POESIA NA REDE|02
T R A V E S S I A
Por Flavia Ferrari
Às vésperas das festas natalinas e na entrada dos momentos finais de um ano pra lá de desafiador, a poesia chega para nos ajudar a deixarmos para trás o que não conseguimos alcançar, para nos despedirmos do que deixamos de ser e nos conectarmos com o porvir que um ano novo representa.
Em um cenário pandêmico e politicamente tão catastrófico, a literatura nos enraíza para que sigamos nutridas e ligadas nesta rede poética de encontros e encantos. Como as árvores que estão conectadas por uma rede subterrânea alimentada pelos fungos que crescem ao redor das raízes, em que é possível a troca de nutrientes e alerta para os perigos iminentes, a poesia nos coloca em ação, seja como leitoras ou escritoras, pois o impacto da escrita e da leitura de um poema pode nos afetar de diversas maneiras; seja nos transformando, nos desafiando ou nos protegendo.
Estamos sujeitas às emoções que o mundo sensível das letras nos apresenta diariamente e um poema lido e degustado é um presente, por diversas vezes sob medida.
Apresento o poema Ressignificâncias, de Ale Heidenreich, presente na coletânea Enluaradas II, cujos versos foram projetados no meu imaginário como pintura.
Para ouvir o podcast, clique AQUI.
Me reencontro nas palavras
Como o rio que corre seu curso.
Deparo-me com a cachoeira de
Águas mansas. Ora torrentes.
Escorrem no papel linha por linha
Verso por verso.
Permeiam as folhas do meu
caderno vermelho.
Respingam em palavras formando
Choro, riso ou receio.
Caem como gotas de
Chuva despretensiosa.
Tornam-se poças tímidas que
de mãos dadas se movem até
o córrego manso,
e de lá outra vez serei
Rio de águas renovadas.
Ale Heidenreich é de Recife/PE e vive desde 2004 em Arnsberg/Alemanha. Iniciou-se na escrita poética através da Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa (2021). Desde então não mais parou. Tem participações nas seguintes publicações: Mulherio da Letras Portugal; Que nem Jiló; (In) Sensíveis Sentimentos; Permita-se Florescer e Mulheres Imortais.
Referência:
CORTEZÃO, M.; CACAU, P.; Coletânea Enluaradas II: uma ciranda de deusas. São Paulo: Saravasti, 2021.
Muito bom contar com sua participação aqui no NOSSO blog, querida Flavia Ferrari. Obrigada por nos dar esta alegria.🫂❤🫂
ResponderExcluirDo fundo de minha pobre cama de cobertas puidas e com aranhas guardiãs leio e ouço os versos declarados por Flávia, com uma gota de sangue jorrando de meu nariz a cada linha. Como se meu coração estalasse e dissesse: eis, tome meu tributo vermelho pulsante por tanta beleza.
ResponderExcluirPaulo Adolfo