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CARTA ABERTA ÀS MULHERES-POETAS
Saúdo as mulheres que ousam caminhar pelo solo árido da palavra poética e
se embrenham por becos e vielas, nem sempre iluminados pela luz do dia, porque
o suor que escorre dos seus corpos, por muitas vezes, é tingido com as cinzas
de seus corpos violentados e feridos, num campo escuro e brutal. Portanto, a
vocês que trazem às palavras os múltiplos sabores e odores da (re)existência,
escrevo essas breves linhas, a fim de enlaçar nossas mãos em militância e
enfatizar a importância desse fazer viver às diferentes expressões dessas vozes-mulheres,
para que estas não naufraguem no anonimato e/ou nos arquivos públicos.
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Vocês,
mulheres, sabem que suas formas de dizer/poetizar esses mundos dos escombros
incomodam os conservadores, mas sabem, sobretudo, que desafiam os conceitos
arraigados no imaginário dessa sociedade patriarcal. O percurso em nada tem
sido favorável às suas escritas e/ou as vivência de seus corpos, pois se formos
aos arquivos públicos e/ou documentais da nossa história, verificaremos que há
muito lhes vem sendo negado esse espaço, e que por décadas, vocês se esconderam
em prisões de todos os tipos, quer sejam domiciliares, quer sejam públicas. As
vozes de muitas mulheres permanecem sufocadas e o brado coletivo pode quebrar
e/ou pelo menos fraturar o espaço dessa hegemonia decadente.
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É preciso que vocês resistam mulheres! Que lutem bravamente pelo (re)encantamento do mundo; que ousam desafiar as garras do poder operante e tenham coragem de caminhar, de protagonizar, mesmo com as algemas a prender-lhe os pés ou com as brasas ainda a abrasar os seus corpos e sentidos. Alcem voos e não esqueçam de suas raízes! Mulheres, vocês vislumbram o poder demiúrgico da linguagem. Avante! Soltem ao mundo as palavras vivas que ecoam da [re]existência, da sororidade, da identidade dita do lugar da gênese. Vocês são as mulheres desse novo tempo, que tais quanto as que as antecederam, precisam dar continuidade à luta, para que as que virão possam viver livres e/ou pegar a chama ainda acessa, a fim de prosseguir a caminhada. Utopia? Talvez. Mas, é ela quem engendra a vida.
Eu, mulher/filha/irmã/esposa/mãe/avó/ professora/doutora e eteceteras, desejo juntar-me a vocês nesse brado “informal e despretensioso”. Com palavras leves, recheado de surpresas e de amorosidades, com percursos imprevisíveis, movimentos livres e orgia metafórica, desejo [assim como cada uma de vocês] também, contagiar alguns loucos ou desavisados a juntar-se a nós, gestando, coletivamente, pensamentos autônomos e genuínos, porque a arte, nesse caso específico, a poesia, anseia por comunhão, sem credos, pudor e/ou divisão de gêneros, muito menos, manuais explicativos.
Recebam o meu abraço afetuoso!
Elizabete Nascimento
Cáceres (MT), 16 de fevereiro de 2023.
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[arquivo pessoal da autora] |
Que profunda reflexão, texto maravilhoso!!
ResponderExcluirTexto necessário em uma sociedade, na qual a mulher continua sendo sinônimo de resistência... Parabéns María Elizabete e Obrigada por nos provocar a essas reflexões tão necessárias.
ResponderExcluirQue continuemos existindo e resistindo com nossa escrita. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirUau! Que carta! Brademos sim,
ResponderExcluiraté que possamos nocautear esse violento patriarcado! 🤝🏻👐🏻👐🏻😍❤
Excelente texto! Prossigamos sendo resistência! Nos fortalecendo umas nas outras e nas nossas escritas!
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