quarta-feira, 8 de março de 2023

#8M# CARTA ABERTA ÀS MULHERES-POETAS, POR ELIZABETE NASCIMENTO

[fonte da imagem: Pinterest]

CARTA ABERTA ÀS MULHERES-POETAS

POR ELIZABETE NASCIMENTO

Saúdo as mulheres que ousam caminhar pelo solo árido da palavra poética e se embrenham por becos e vielas, nem sempre iluminados pela luz do dia, porque o suor que escorre dos seus corpos, por muitas vezes, é tingido com as cinzas de seus corpos violentados e feridos, num campo escuro e brutal. Portanto, a vocês que trazem às palavras os múltiplos sabores e odores da (re)existência, escrevo essas breves linhas, a fim de enlaçar nossas mãos em militância e enfatizar a importância desse fazer viver às diferentes expressões dessas vozes-mulheres, para que estas não naufraguem no anonimato e/ou nos arquivos públicos.

[fonte da imagem: Pinterest]
Ao adentrar a essa seara de indagações, dúvidas, dores e desespero; advinda dos corpos femininos, por vezes, busco réplicas no meu corpo e encontro indícios do quanto o brado coletivo coexiste em cada uma de nós. São marcas subjetivas de vozes que trazem assimetrias de raças, credos, condições socioculturais, econômicas e políticas. Elementos importantes para lermos o percurso histórico por outra ótica, onde a poesia se apodera, também, da matéria dos cotidianos e de suas vivências desenhadas com híbridas nuances. As palavras esteticamente lapidadas por esses corpos reverberam num todo significante, em que as metáforas jorram sob a égide dos corpos de mulheres e provocam a olhar às suas/nossas imagens estilhaçadas.

Vocês, mulheres, sabem que suas formas de dizer/poetizar esses mundos dos escombros incomodam os conservadores, mas sabem, sobretudo, que desafiam os conceitos arraigados no imaginário dessa sociedade patriarcal. O percurso em nada tem sido favorável às suas escritas e/ou as vivência de seus corpos, pois se formos aos arquivos públicos e/ou documentais da nossa história, verificaremos que há muito lhes vem sendo negado esse espaço, e que por décadas, vocês se esconderam em prisões de todos os tipos, quer sejam domiciliares, quer sejam públicas. As vozes de muitas mulheres permanecem sufocadas e o brado coletivo pode quebrar e/ou pelo menos fraturar o espaço dessa hegemonia decadente.

[fonte da imagem: Pinterest]

É preciso que vocês resistam mulheres! Que lutem bravamente pelo (re)encantamento do mundo; que ousam desafiar as garras do poder operante e tenham coragem de caminhar, de protagonizar, mesmo com as algemas a prender-lhe os pés ou com as brasas ainda a abrasar os seus corpos e sentidos. Alcem voos e não esqueçam de suas raízes!  Mulheres, vocês vislumbram o poder demiúrgico da linguagem. Avante! Soltem ao mundo as palavras vivas que ecoam da [re]existência, da sororidade, da identidade dita do lugar da gênese. Vocês são as mulheres desse novo tempo, que tais quanto as que as antecederam, precisam dar continuidade à luta, para que as que virão possam viver livres e/ou pegar a chama ainda acessa, a fim de prosseguir a caminhada. Utopia? Talvez. Mas, é ela quem engendra a vida.

Eu, mulher/filha/irmã/esposa/mãe/avó/ professora/doutora e eteceteras, desejo juntar-me a vocês nesse brado “informal e despretensioso”. Com palavras leves, recheado de surpresas e de amorosidades, com percursos imprevisíveis, movimentos livres e orgia metafórica, desejo [assim como cada uma de vocês] também, contagiar alguns loucos ou desavisados a juntar-se a nós, gestando, coletivamente, pensamentos autônomos e genuínos, porque a arte, nesse caso específico, a poesia, anseia por comunhão, sem credos, pudor e/ou divisão de gêneros, muito menos, manuais explicativos.

 

Recebam o meu abraço afetuoso! 

Elizabete Nascimento 

Cáceres (MT), 16 de fevereiro de 2023.

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[arquivo pessoal da autora]


Elizabete Nascimento: Doutora em Estudos Literários, poeta, professora e mulher que sonha com equidade. Livros: Educação Ambiental e Manoel de Barros: diálogos poéticos. São Paulo: Paulinas (2012); Asas do inaudível em luzes de vaga-lume. Cuiabá/MT: Carlini & Caniato (2019), Sinfonia de Letras: acordes literários com Dunga Rodrigues. Paraná: Appris/2021. Professora, DRE-Cáceres/Mato Grosso-Brasil.



5 comentários:

  1. Que profunda reflexão, texto maravilhoso!!

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  2. Texto necessário em uma sociedade, na qual a mulher continua sendo sinônimo de resistência... Parabéns María Elizabete e Obrigada por nos provocar a essas reflexões tão necessárias.

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  3. Que continuemos existindo e resistindo com nossa escrita. Parabéns pelo texto!

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  4. Uau! Que carta! Brademos sim,
    até que possamos nocautear esse violento patriarcado! 🤝🏻👐🏻👐🏻😍❤

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  5. Excelente texto! Prossigamos sendo resistência! Nos fortalecendo umas nas outras e nas nossas escritas!

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