quarta-feira, 30 de novembro de 2022

ENLUARADAS: A POÉTICA DO ABRAÇO, POR JOCINEIDE MACIEL

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ENLUARADAS: A POÉTICA DO ABRAÇO NO I TOMO DAS BRUXAS


POR JOCINEIDE MACIEL


O livro I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida, organizado por Marta Cortezão & Patrícia Cacau, é composto por três partes que relacionam às três condições necessárias para a liberdade: meu Corpo, minhas normas, meu Templo Sagrado; Dos Silêncios que ardem no fogo das injustiças e dos Prodígios da Palavra; Da chama Poética que abrasa o ventre Divino das Bruxas.

Ao percorrer a primeira parte da obra, o leitor poderá encontrar diversos eus poemáticos que se embrenham na perspectiva histórica sobre o lugar que a mulher ocupou/ocupa ao longo da história da humanidade, principalmente as mulheres que ousaram sonhar, pensar, e acima de tudo assumiram a autonomia dos seus corpos e de suas vozes “negra índia branca amarela/ sou mulher!/ [...] não me julgue pelo que vê/ ou pelo que tenho na bolsa/ respeite minha identidade biológica ou social/ esse lugar é meu e dele não abro mão!” (CACAU; CORTEZÃO, 2022, p.43).

O encadeamento dos poemas que compõem a segunda parte da obra permitirá o vislumbre da escrita feminina num olhar que transcende: “as obrigações imposta socialmente a mulher” e alcança a magnitude da alma humana, em um envolvente jogo de palavras em que o fazer poético e o existir se metaforiza “[...] Quando eu começar a escrever,/ a mulher que, até um dia,/ pelas janelas olhava,/ abrirá as portas que nunca/ lhes deveriam ter sido fechadas,/ E será, na vida, tudo aquilo/ que um dia havia desejado.” (CACAU; CORTEZÃO, 2022, p. 105).

A última parte do livro finaliza a grande roda, onde cada uma e todas têm o seu lugar, onde os corpos bailam aquecidos em volta da fogueira que elas acenderam para clarear os caminhos e as noites escuras, nos gritos eufóricos por liberdade de expressão, elas se fortalecem na compreensão de que as bruxas nunca andam sós, mas são povoadas por muitas, com diversas paragens, espaços em que a escrita é a única e necessária poção “[...] é tempo de origens/ e coreográficas travessias/ despojadas da carne/ expõe-se às fibras/ e a nada mais” (CACAU; CORTEZÃO, 2022, p. 192).

Destacamos a escrita da poeta, professora, doutora, crítica literária e pesquisadora Elizabete de Nascimento, que nessa coletânea nos agracia com dois poemas intitulados: Promessas do meu Patoá e Essa miserável, uma dobradinha perfeita, que repercute dois pontos essenciais na produção dessa obra de forma geral. No primeiro poema, compreendemos que a vida e a poesia são metaforizados pelo próprio sangue a correr na veia: “[...] Sangue, música torrencial dessa vida dissoluta, minha essência./ Você! Ah, você!?/ Você é minha melhor poesia,/ é quem sustenta as missivas da minha biografia”. (CACAU; CORTEZÃO, 2022, p. 132) e o segundo reúne a força de todas as escritoras que se lançam à escrita, e que em suas condições de poetas anseiam pelo reencantamento do mundo: “[...] Essa miserável, que dá boca e orelha ao papel, que torna público o impublicável/ Ah! Essa miserável, a poeta, ainda tiro-a do anonimato e entrego-a à forca” (CACAU; CORTEZÃO, 2022, p. 133).

Que esse meu eco de leitura encontre com os ecos de outros leitores e promovam um alarde literário a fim de fortalecer, ainda mais, a escrita feminina contemporânea.

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Referência bibliográfica:

CORTEZÃO, Marta; CACAU, Patrícia (Org.). I Tomo das bruxas: Do Ventre a Vida. Juiz de Fora, MG: Editora Siano, 2022.

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Jocineide Catarina Maciel de Souza é Quilombola Pita Canudos, possui graduação em Letras (2009) e Mestrado em Estudos Literários pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2014). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários PPGEL/UNEMAT (2021). Componente do Grupo de Pesquisa em Poesia Contemporânea de Autoria Feminina do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste do Brasil - GPFENNCO-UNIR/CNPQ. Professora de língua portuguesa, atuando como formadora no DRE/CEFAPRO em Cáceres/MT. Bolsista do Programa de Apoio à Pós-Graduação da Amazônia Legal Edital 013/CAPES. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura mato-grossense, historiografia literária, Literatura de Autoria Feminina, literatura e ensino, letramento literário, literatura afro-brasileiras e Poéticas orais. É membra fundadora (2017) do Coletivo de Mulheres Negras de Cáceres/MT.

 

5 comentários:

  1. Quanta honra, passear nessas paragens que abraça a escrita de tantas vidas inscritas na vida de cada mulher que se debruça em poesia.

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  2. Muito obrigada, Jucineide Maciel. Já sabe que, quando quiser escrever para o Feminário Conexões, será sempre muito bem-vinda. Um fraterno abraço💙🤝💙

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  3. "I Tomo das bruxas" é um caldeirão poético em efervescência! !!É uma honra e prazer fazer parte dessa magia que transforma nossa escrita em visibilidade , reconhecimento e encantamento.Parabéns pelo texto Jucineide !

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  4. Linda análise, Jucineide! O I Tomo das Bruxas: do ventre à vida é um convite poético à libertação do feminino pela palavra! Palavra viva que, como as cinzas, se espalham mudando os cenários! Abração Margarida Montejano

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