terça-feira, 12 de outubro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poema de Margarida Montejano


EMPOEME-SE EM POESIA
/19



Leitura de Marta Cortezão

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


RELEITURA EM MEIO ÀS BRUMAS


Toco-me. Examino seios e mamilos.

Cenas que se repetem frente ao espelho.

Vejo-me lúcida e real. Vincos e sulcos marcam meu rosto,

desenham nele minhas experiências, minhas dores e amores.

Tento decifrar o meu ser e ponho-me a escrever quem eu sou. 

Retrato-me. Rascunho um poema de mim e um texto assim me desvela. 

Sou ela. Sou eu. Menina, moça, mulher. Assim me revelo 

na imagem e semelhança da grande senhora.

Viajo às terras de Avalon e, como uma ninfa, me deito 

e me entrego às festas da natureza.  Nas brumas, enxergo. 

Sou a natureza.


Percebo-me. Releio-me:

Sou a louca do dia

quando defronto-me com injustiças.

Brigo. Grito e saio em defesa do que acredito ser certo.

Sou a loba da noite

quando, em insônia, perambulo pelas ruas 

à procura de respostas às incógnitas da sorte.

Sou a santa que vela pelos incautos e puros. 

Oro por eles em silêncio sem que me vejam.

Sou a devassa que diz as regras, 

quando o machismo impera.


Sou a  deusa que se dá sem reservas, 

pois o amor é doação.

Sou a madrasta que diz não,

quando a regra é dizer sim.

Sou a lágrima sincera,

o sentimento profundo.

Sofro como mãe, a dor do mundo

e na morte, sou a vida.

Sou a dor, a lágrima. O riso livre.

As regras das meninas

que chegam sem dar aviso.


Sou o viso na inocência

cambaleante da adolescência.

Sou a ancestralidade

da mãe, da filha, da prima,

da tia, da avó.

Sou mulher

que não remedeia, faço tudo por inteiro.

Sou, em essência divina,

Deus traduzido 

no corpo, na alma

e na veia.


Sou a deusa de toda hora

para toda obra, porque…

sabedoria é também senhora!

Sou poesia, canção

e a entonação das sereias.

Sou lua cheia, minguante e nova,

cresço e encanto em cada fase.

Sou eu, sou você, somos nós

numa só voz e, de mãos dadas, seguimos

juntas, na caminhada.

Somos a estrada, a surpresa e a alegria da chegada.


Somos o tudo e o nada. 

Somos a contradição, mas somos nela o amor.




7 comentários:

  1. Marta querida! Linda leitura tu fizeste! Deu vida ao poema! Muito grata! Muito feliz por caminhar com você, com vocês! Forte Abraço!❤ Margarida

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Um poema forte e inspirador. Obrigada, Margarida Montejano, por contribuir com este espaço. De fato, nos empoemamos com sua poesia. Abraço.

      Excluir
  2. Que trabalho lindo Marta Cortezão🌹bravíssima!👏👏👏👏👏👏
    Margarida Montejano sua força poética é inspiração!! Bjinhos😘😘😘

    ResponderExcluir
  3. Obrigada Deusas maravilhosas! Marta Cortezão e Patricia Cacau! Sou feliz por tê-las encontrado! Pela luta conjunta que travamos em nome de todas as mulheres do mundo! Pela poesia que nos une! ❤❤❤ Margarida

    ResponderExcluir

Agradecemos seu contato. Em breve lhe responderemos. Obrigada.

Feminário Conexões, o blog que conecta você!

CRÔNICAS DA SUSTÂNCIA - HISTÓRIAS DE MINHA MÃE: a curva da Velha Beta... Por Rosangela Marquezi

CRÔNICAS DA SUSTÂNCIA /05   HISTÓRIAS DE MINHA MÃE: A CURVA DA VELHA BETA Rosangela Marquezi Minha mãe... Que ainda brinca! Fonte: Arquivo p...