sexta-feira, 23 de julho de 2021

NAS TEIAS DO POEMA II: DAS ESCREVIVÊNCIAS QUE NOS HABITAM



 

NAS TEIAS DO POEMA II: DAS ESCREVIVÊNCIAS QUE NOS HABITAM


Por Marta Cortezão

“O que em mim sente, está pensando”

{Fernando Pessoa}


Pensar as teias do “fazer poético” é também refletir sobre os abismos que habitam nossas escrevivências (termo criado por Conceição Evaristo para referir-se à sua literatura), que aqui tomamos de empréstimo, a suas devidas proporções, a fim de falar de como nós, autoras contemporâneas do coletivo Enluaradas, vivenciamos o duplo processo de nossa escritura: a vida que cada uma escreve com base em suas vivências, e a forma como o mundo se abre/apresenta a cada uma de nós através de outros olhares e suas particularidades. Que escrevivências se manifestam nestas teias? Que versos conectarão estas teias de cada “fazer poético”? Há um novelo interno que alimenta estes teares?

Como esta modernidade líquida – que se esvai pelos dedos via tantas informações fragmentadas e superficiais – afeta nossa escrita poética? Romper com a sintaxe, com a semântica, com a morfologia, com o convencional é também uma forma de rebelar-se? Cada uma de nós carrega infinita pluralidade de vozes, anseios, concepções, aptidões, sensações tão contraditórias, sonhos... Estamos sempre em contínua construção, em processo crônico de ser... caminhos, becos, vielas, prados, montes, horizontes... E que teias tecemos com todos esses fios?

Nosso fazer poético está em constante estado de alquimia, como afirmou Fernando Pessoa: “o processo alquímico é quádruplo: 1) putrefação; 2) albação; 3) rubificação; 4) sublimação. Deixam-se primeiro apodrecer as sensações; depois de mortas embranquecem-se com a memória; em seguida rubificam-se com a imaginação; finalmente se sublimam pela expressão.”[i]  

Para esta aventura poética que nos propõe o Projeto Enluaradas, estaremos na companhia das autoras da Coletânea Enluaradas II: uma Ciranda de Deusas:

Ale Heidenreich é de Recife/PE e vive desde 2004, na Alemanha. Iniciou-se na escrita poética através da Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa. Desde então não mais parou, e tem participações nas seguintes publicações: Mulherio das Letras Portugal; Que nem Jiló; (In)Sensíveis Sentimentos; Deixe-se Florescer e Mulheres Imortais.

Aline Galvão é jornalista, escritora, poeta. Amazonense, de Manaus, já participou da antologia “A imortalidade amazônica II”, das coletâneas “O universo poético da mulher amazonense” e “Coletânea Enluaradas I – Se Essa Lua Fosse Nossa” e Antologia “Permita-se florescer”.

Vania Clares – de São Paulo, gestora da Sarasvati Editora, poeta, escritora. Cursa Filosofia, é membro da Academia Contemporânea de Letras. Autora de vários livros, entre eles Urgência de Auroras (prefaciado por Caio Fernando Abreu), Do Parapeito Vital,Ouso, Salão de Baile e Permanências Outonais.



[i] In D’OFRIO, Salvatore. Literatura Ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Editora Ática, 2000, p. 467.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Empoeme-se em Poesia: Abraço





EMPOEMESE/11

Autoria, de Elisa Lago

Para ouvir o podcast, clique AQUI.

 

ABRAÇO
 
Queria um abraço apertado
Colado, sem embaraço
Coração com coração
Sentir na troca de energia
A amizade, o laço.
 
Queria olhos nos olhos
Em silêncio ficar
Sentir no abraço apertado
Querença do bem
Sem medo de machucar.
 
Queria um afago nas mãos
Encontro num canto qualquer
Sentir plena segurança
De uma amizade de fé.
 
Queria falar de amor
Palavras com exatidão
Caminhar pela calçada
Sentar num banco de praça
Livre de julgamento e de hipocrisia
Na alma só gratidão.
 
Queria ganhar uma bela flor
Pra enfeitar meus cabelos
Abrir um largo sorriso
Aquebrantar o pesadelo.


(No livro "Versejando")




terça-feira, 20 de julho de 2021

MOMENTO COM GAIA: Poesia em tempos de pandemia|52




Momento com Gaia/52


Esse projeto, de autoria da poeta Janete Manacá, nasceu em 16 de março de 2020, com a chegada da Pandemia causada pelo novo Covid-19. Por se tratar de algo até então desconhecido, muitas pessoas passaram a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Com o desejo de propiciar a essas um “momento poético” no conforto dos seus lares, toda a noite é enviado, via WhatsApp, um áudio com poesias de sua autoria para centenas de pessoas do Brasil e de outros países. E estas são replicadas pelos receptores. Acompanhe o poema abaixo:


Por Janete Manacá




Para ouvir o PODCAST clique AQUI.


Semeadoras


quando o sol mostrou sua face

elas já estavam a caminho

para  preparar o solo e semear


lenço branco sobre a cabeça

filhos pequenos no colo

e lindos sonhos na mente


em sintonia com a terra

solidárias e corajosas

seguiam soltas como o vento


cultivaram cada semente

como se fosse diamante

para entregar ao fecundo ventre 


libertas da obediência

no ritmo do coração

conduziam a direção


simples e dedicadas 

na luta do dia a dia

canto, sorriso e poesia


a lua prenunciava a chegada

felizes elas voltavam para a casa

para celebrar o banquete da comunhão




sábado, 17 de julho de 2021

Leitura de Lâminas da Mãe Terra para os Ciclos Lunares


(Lua Crescente, de 17 a 23/07)/24


Por Ana Luzia de Oliveira


Sente a Lua Crescente!

 



Quitação. É hora de liberar, pessoal! Não é de hoje que as cartinhas vêm nos mandando recados. Ao longo da vida e, para quem acreditar ao longo de muitas delas, vamos assumindo obrigações que, com o passar do tempo, perdem seu contexto. Ainda assim, quantas vezes carregamos a sensação de sermos eternos devedores ou credores de algo ou alguém? Chega disso! Vamos quitar nossas dívidas cármicas e energéticas. Está na hora de reconhecer que, tanto um lado, como o outro, já fez o bastante. Ou, então, que já se passou tempo demais para continuarmos nos atrelando a pactos que não fazem mais sentido. Quitemos os decretos que não nos são mais úteis, para possibilitar que todas as partes sejam liberadas e possam seguir seus próprios caminhos. Libera e segue, eu te libero e sigo.


 A liberação encadeada torna a todos nós mais leves!

 

Flor da Vida. Sim, tudo está conectado! E, quando nos damos conta disso, percebemos o quanto nos mantemos presos, se não deixarmos que o outro siga seu caminho. Essa cartinha de círculos entrelaçados nos ajuda a entender que somos seres multidimensionais, assim como a realidade é. O Universo não se sujeita a uma visão linear e simplória, as tramas se entremeiam e a nossa compreensão se amplia quando percebemos que os acontecimentos estão interligados e fazem sentido ao longo do tempo, de forma que não vale a pena estacionarmos nossa vidinha numa fila que não anda. O que afeta a um, afeta a todos. Então, ao fazermos nossa parte liberando um, liberamos muitos, inclusive a nós mesmos. Sigamos rumo ao que interessa e deixemos para trás aquilo que já passou.

 

Aho Mitakwye Oyassin! Obrigada por todas as minhas relações, Ana Luzia Oliveira.


Sobre o Oráculo Lâminas da Mãe Terra


As Lâminas da Mãe Terra são um oráculo formado por frequências que foram intuídas, apresentando-se em imagem, nome e funcionalidade, representados por Ana Amélia Moura, Ana Luzia Oliveira e Neysi Oliveira, em processo de canalização. 

Suas cartas podem ser interpretadas por seus significados arquetípicos e, também, podem ser tomadas por frequências que nos auxiliam naquilo a que se propõem ativamente.



Sua leitura destina-se a fins terapêuticos e de autoconhecimento, para ampliar a consciência das dinâmicas que existem em nossas vidas e dos recursos que temos para solucionar as questões que se apresentam.


 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

NAS TEIAS DO POEMA I: CARNE E TECIDO POÉTICOS

 



 

VERBUM

“E a palavra suicida/ precipitou-se, / desesperadamente, / da boca / e caiu / no mundo... / Estraçalhou-se / em verbo / e foi ser Vida.”

{Marta Cortezão} 

NAS TEIAS DO POEMA I: CARNE E TECIDO POÉTICOS


Por Marta Cortezão

 

Hoje, às 17h30m (Brasília), o Projeto Enluaradas estreia o quadro Nas Teias do Poema, que será transmitido pelo perfil do Instagram @enluaradas__, cujas autoras convidadas são Anna Liz (Santa Inês / MA), Artane Inarde (Belo Horizonte / MG) e Maria Alice Bragança (Porto alegre / RS). O objetivo deste novo quadro é conhecer um pouco mais do trajeto literário das Deusas Enluaradas que se juntaram a esta Ciranda de Deusas.

E para isso, nos atiraremos neste tecido de teias de cada poema, este fio de Ariadne que percorre labirintos tantos, em busca deste fero Minotauro que habita os múltiplos (des)caminhos do poema. Desejamos sentir a tessitura da tecedura poética, os entrelaçamentos verso a verso, a urdidura da teia que se tece em um poema, a sua consistência nas vozes de autoras contemporâneas e na interação com nossa plateia.  

Não podemos deixar de mencionar à intrigante Penélope nesta festa de teares a tantas mãos! Deusa mestra na arte homérica de tecer e destecer o tempo, o enredo, a sorte. Encontraremos quantos Ulisses neste percurso? Quantos amantes renegados? Quantas longas esperas?  Quantos sudários há em um poema? Quantos novelos compõem uma centena de versos? Ah, Deusa, sem o seu tear, seria impossível que o grande rapsodo Homero lograsse tanto encantamento em seu cantar. Qual é a teia que tece seu poema, poeta Enluarada? Quantos fios de silêncio se entrelaçam a esta voz que se esgueira pelo nó que obstrui a garganta a diário e encontra a existência na palavra? A palavra cai no mundo e se (des)mistifica e se justifica pela existência do tecido que se forma na branca folha branca, onde agoniza o poema, esperando por ávido olhar que o resgate de sua inércia.

E o que dizer do entramado de teias, tão bem urdido e tecido pelas diligentes Deusas Moiras? Coto, a que cuida do princípio, a que fia e tece o fio da vida; Láquesis, a que distribui o quinhão da sorte, do que se ganha em vida, e Átropos, a que corta o fio, decide o fim da vida. A palavra vive na contramão da vida e da morte, habita e percorre estes vãos, nada se constrói fora destes dois caminhos adversos. O para além da teia, a poesia, se entrelaça em outra teia e, por sua vez, em outra, em outra e em outra... Assim formamos esta bela Ciranda de Poemas, nas vozes potentes de autoras contemporâneas da literatura luso-brasileira, porque, de mãos dadas, somos Deusas; juntas, Enluaradas!  Vamos lá, minha gente, cair nas teias destes poemas! É HOJE, VENHA NOS FAZER COMPANHIA!    

Estamos com EDITAL ABERTO. Você pode acessá-lo clicando AQUI

segunda-feira, 12 de julho de 2021

MOMENTO COM GAIA: Poesia em tempos de pandemia|51




Momento com Gaia/51


Esse projeto, de autoria da poeta Janete Manacá, nasceu em 16 de março de 2020, com a chegada da Pandemia causada pelo novo Covid-19. Por se tratar de algo até então desconhecido, muitas pessoas passaram a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Com o desejo de propiciar a essas um “momento poético” no conforto dos seus lares, toda a noite é enviado, via WhatsApp, um áudio com poesias de sua autoria para centenas de pessoas do Brasil e de outros países. E estas são replicadas pelos receptores. Acompanhe o poema abaixo:


Por Janete Manacá




Para ouvir o PODCAST clique AQUI.


Imprescindível


ensine seu filho 

a ser oásis

e não destruição


Ensine seu filho

a cultivar as flores

e cuidar do jardim

ensine seu filho

que a terra é um organismo vivo

e o planeta está em perigo


ensine seu filho

a respeitar a natureza

e evitar um futuro de incertezas


ensine seu filho

que a fauna e a flora

faz parte da sua morada


ensine seu filho

que se ele não proteger

não haverá amanhã


ensine seu filho

que a vida só terá sentido

se ele aprender conjugar o verbo amar




domingo, 11 de julho de 2021

Empoeme-se em Poesia: Navio Fantasma



 
EMPOEMESE/10

Autoria, de Juliana Moroni

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


Navio Fantasma

 

O Passado é um navio fantasma vagando em alto-mar.

 

A Tripulação:

sentimentos desgastados pelo tempo,

caveiras deterioradas pela ação do mar.

 

O Mar:

espiral do tempo

que corrói a carcaça do navio

e sorve as almas dos tripulantes,

arremessando-as ao infinito.

 

Navio inoperante em alto-mar,

encoberto pela neblina,

sorrateiro,

seus corredores são túneis do tempo

por onde circulam os sentimentos desdenhados,

traiçoeiros e imortalizados,

esperando uma chance

de voltar ao tempo presente.

 

Navio fantasma vagando em alto-mar,

bandeira à meia-haste,

trêmula,

sacolejada pelo vento incessante,

frio e esfoliante

que desloca a neblina para o oeste,

na longa noite erma

a fluir pelas entranhas dos seus sonhos mais profundos.

 

A Neblina:

exílio de pensamentos torturantes

que evocam cenas angustiantes,

cortina que encobre o passado

e dissimula os sentimentos que,

lentos,

esbarram nos corredores do navio,

procurando qualquer fenda

por onde possam trespassar,

açoitar os sonhos

e asfixiar a esperança

de quem remou para longe do passado.

 

Pancadaria!

Os tripulantes se digladiando

pelos corredores lúgubres do navio.

Esbórnia de desavenças,

memórias que se deslocam

através da orgia sangrenta de sentimentos.

 

medroseD!

Golpes desferidos contra o destino

que, surrado e atordoado,

esgueira-se através da neblina,

cansado e desfigurado,

espreita os pesadelos tormentosos

de quem espera ansiosa

o raiar do dia.



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EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

  Clique na imagem e acesse o Edital II Tomo-2024 CHAMADA PARA O EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS: CORPO & MEMÓRIA O Coletivo Enluar...