POÉTICA DA DESCONSTRUÇÃO/01
POR MARINA MARINO
Dia desses parei para
refletir sobre meu processo de escrita. O que vem a ser essa poética que tem se
feito tão presente em meus escritos? Como defini-la? Estaria em conexão com
algum movimento literário? Ou é apenas a forma que encontrei de me expressar?
A urgente reflexão
levou-me à palavra que me move, sem dúvida, a desconstrução. É ela que estabelece
um diálogo intenso e profundo comigo mesma, com o que vivo e com o que sinto.
Tudo o que acreditei - ao longo dos meus 64 anos - ser verdade, ser justo, ser real se desfaz nesta fase de minha vida. As crenças não mais se sustentam, foram construídas sobre a ilusão. Até mesmo as que usei como apoio ao longo da caminhada, como a religião, a espiritualidade, hoje sei que basearam-se em projeções, condicionadas ao mito da individualidade, da forma, do mundo. As frágeis paredes, erguidas ao longo da existência, desabam, uma a uma, revelando o que não sou, o que nunca poderia ter sido.
A consciência, tão humana, prendeu-me a conceitos da dualidade e foi incapaz de perceber suas próprias limitações, mantendo-me em seu estreito ponto de vista. Mas, numa reversão incrível, a revelação se fez presente. Com ela soltei-me do que era conhecido e lancei-me ao desconhecido, sem medo.
O tempo da desconstrução chegou para mim, está em minha porta, entreguei-me a ele e hoje funciono neste novo formato. Decidi me abandonar nisso e não resistir mais, atrelada aos últimos tijolos, pois é nessa desconstrução sem limites que a essência se manifesta, livre, sem controle de mais nada, fluindo por onde tiver que fluir.
Deixo aqui alguns escritos que evidenciam esta minha fase desconstrutiva. Gratidão por sua leitura,
O Instante
Ir
Partir
Deixar para trás
Tudo o que foi
O vivido
O atravessado
O que não serve mais
Ir
Viver o agora
O instante
O que a vida tem a oferecer
Sem medo
Com confiança
As circunstâncias são incertas
Mas o destino é sempre o mesmo...
Rumo à felicidade...
[Coletânea Enluarada II: uma Ciranda de Deusas, Editora Sarasvati, 2021]
*_* *_* *_*
A DANÇA DA LIBERTAÇÃO
Vem menina...
Veste agora teu melhor vestido
Colorido e alegra como tua essência
Este que esvoaça em tua imaginação
E vai em direção à tua verdade
Você é livre, menina, finalmente
Nada mais te aprisiona
Os véus foram retirados
Os nós foram desatados
As algemas destravadas
Dá-me tua mão
Eu impulsiono teu voo
Voa à tua origem
Voa ao teu verdadeiro lugar
De onde nunca te moveste, apenas esqueceste
E vibra no ritmo que o Amor estabelece
Até encontrar outras meninas
Que, como você, voam também
Ao encontro do que sempre foram
E com você, dançam a dança da libertação.
[Coletânea Enluarada II: uma Ciranda de Deusas, Editora Sarasvati, 2021]
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Marina Marino é escritora, editora e livreira, é
criadora da Voo Livre Revista Literária. É autora de 4 livros, sendo 2 infantis,
1 romance e 1 para mulheres. Publica poemas e contos em antologias tanto no
Brasil como em Portugal, desde 2013. Marina se encontra no que escreve, porque
tudo sempre é sobre o que ela vive.
Muito bom desapegarmo-nos de nós e deixarmo-nos fluir.. O corpo resiste, a mente se aventura e a poesia nos faz companhia!
ResponderExcluirMarina, tocou-me fundo seu texto, também encontro-me em desconstrução e reformas intimas. Tarefa dificil, como remover entulhos da alma e pesos desnecessários...estamos em busca de um novo Eu. Parabéns, querida! 🌻
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