DIVULGA E PROMOVE A LITERATURA CONTEMPORÂNEA DE AUTORIA FEMININA DO/NO CIBERESPAÇO.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
Dona Elvira
domingo, 10 de janeiro de 2021
A ESCRITORA POR TRÁS DA PERSONA: ENTREVISTA COM CIDA AJALA, POR ROBERTA GASPAROTTO
MEU TREM BALA NÃO PARA
No meio da conversa com a compositora e escritora paulista, Cida Ajala, lembrei daquela frase de Clarice Lispector: “eu tenho medos bobos e coragens absurdas”. Conversamos durante mais de uma hora por vídeo, Cida estava linda, toda de vermelho, incluindo batom, chapéu e esmalte. “Amo vermelho”. Não é para menos, vermelho é a cor que mais simboliza a vida, e se tem algo que essa bela mulher de sessenta e nove anos tem de sobra, é uma enorme vivacidade.
Cida cresceu em uma família de músicos, de modo que desde quando se entende por gente, esteve cercada por instrumentos. Com seu tio, muito pequena aprendeu a tocar violão. E depois, viola, e depois, harpa. Aos doze anos, compôs sua primeira letra de música, para o seu então namorado, que viria a se tornar marido.
Para ela o processo de escrita e o arranjo da melodia, acontecem simultaneamente. À medida que escreve, a melodia ganha forma e a música é composta. Na sua concepção, escrever é uma forma de louvar e agradecer a Deus, por isso, suas letras sempre tocam em temas pungentes, como a natureza, os animais e o amor.
A vida de shows começou quando tinha cinquenta e nove anos, e de lá para cá, não parou mais. Cida e sua banda percorrem várias cidades, em especial, interior de São Paulo e Mato Grosso. Canta todos os estilos, mas seus xodós são o sertanejo de raiz e a música latina. Um momento de grande emoção foi apresentar-se na famosa festa de Barretos, "meus músculos pulavam igual pipoca". Em todas as apresentações, canta um hino de louvor a Deus. Costuma cantar “Quão Grande és tu”. Nesse momento, muitos da plateia se emocionam. “Certo dia, após um show em minha cidade, um homem grande, forte e todo tatuado, veio falar comigo... Parecia um bebê chorando, ficou muito emocionado”.
Para essa mulher de ideias fervilhantes, nem a pandemia foi motivo de calmaria: idealizou e pôs em prática o projeto Musicando sua Poesia, com a presença de dezoito escritores. Para ela, a maior alegria foi perceber o contentamento dos participantes ao verem seus poemas transformados em linguagem musical. Um deles, começou a dançar, tamanha era sua alegria. Outro projeto realizado durante a pandemia é o “live em família”, onde as pessoas a contratam para cantar músicas que gostam. Um sucesso garantido é a música “beijinho doce”. Casais dançam, se abraçam, rolam beijinhos pra lá e pra cá.
Perguntei sobre algum momento especial que a marcou, “ foi num encontro, lá no Ministério da Música, em Jaciara, no Mato Grosso. Chegando na igreja, havia na porta alguns moradores de rua. Um deles, me vendo com violão, disse que já tinha sido maestro e perguntou se poderia tocar. Ele não só tocou belamente, como me emocionou profundamente. Após, fui fazer meu show dentro da Igreja, e no meio da apresentação, vi um homem bem vestido, sorrindo para mim. Ao final, fui até ele e, para minha surpresa, era o maestro que, horas antes, estava na porta da Igreja. Esse encontro marcou a minha vida”.
Ao final da nossa deliciosa conversa, Cida me presenteia, cantando a música “Aleluia”. Momento divino! E eis que, esse mulherão que parece não ter medo de nada, me faz a seguinte revelação: “tenho medo do escuro, e sempre durmo com uma luzinha ligada”. Gente de verdade, é assim, tem medos bobos, e coragens absurdas!
Sua frase: “para Deus, nada é impossível, tem que sonhar, acreditar, ter fé e agir”. (Lucas I, 37)
FILHO DA NATUREZA
Gosto de viver nos campos
Ouvindo o cantar dos pássaros
Gosto do amanhecer
Sentindo o cheiro de mato
Gosto de ver animais
Estrelas noites de luar
Gosto da brisa da noite
E do sol quente que esquenta a gente
Gosto de dormir tranquilo
Ouvindo o cantar dos grilos
Gosto do alvorecer
Olhando tudo florecer
Gosto das águas dos rios
Que correm calmas cristalinas
E ver as plantas brotando
Nos campos e nas colinas
Amanheço e anoiteço
Sempre com muita alegria
Trabalho todos os dias não sei o que é monotonia
Olho o sol nascer sozinho
E a noite que vem de mansinho
E a chuva que cai no chão
É uma benção para plantação
Eu gosto tanto de viver
Em contato com a natureza
No meio de tanta beleza
Eu nunca sei o que é tristeza
Não me importo
Que me chamem
De caipira ou bicho do mato
Somente afirmo com certeza
Sou filho da natureza.
***
NOSSA HISTÓRIA DE AMOR
Quando eu te conheci
Foi num domingo
Bem no cinema
Eu fui te encontrar
Você olhou para mim
E eu fiquei
Apaixonada a te esperar
Então o filme iniciou
E sorridente me perguntou
Posso sentar-me
Aqui do seu lado?
Já tem alguém? Ou está ocupado?
E o corpo tremia!
O que dizer não sabia!
E foi tanta emoção!
Ao pegar minha mão!
Nosso primeiro beijo!
Foi no portão ao luar!
O Cine Presidente
Foi que marcou
Lá nossa história
Iniciou
Depois desse namoro
Veio o noivado
E o casamento
Tão esperado
Aí depois dessa união
Vieram os filhos
Netos que bom
Foi se formando
Minha família
Cheia de amor e alegria
E o tempo foi passando
E a juventude acabando
Mas nós dois bem juntinhos
Como sempre se amando
Agora infelizmente
Foi para sempre
Está no céu a me esperar
Nossa História de Amor...
Nunca irá se acabar...
ESTA SOU EU, por Cida Ajala:
Maria Aparecida Ajala Jesus, nome artístico Cida Ajala, cantora, compositora, integrante da Orquestra de viola Caipira, do Prenap, filiada a Associação Prudentina dos escritores-APE, participante do Coral Santa Rita. Já se apresentou em grandes shows como, por exemplo, Barretos, 3°Festival de Chamamé, com as Galvão, Perla Paraguaia entre outras. Cida Ajala recebeu várias homenagens e premiaçãos como compositora: Nevado de oro da Argentina e também, no Brasil: arte em movimento, prêmio Benjamim Resende, Compositora Revelação entre outros. Algumas de suas particularidades: não dorme no escuro, tem muita fé e é orante! Todos gostam de suas esfihas, em especial os filhos e netos. Ama laranja e tomate e acredita que com Deus tudo na sua vida sempre dá certo!
Podcast Episódio 2, poema "Mulheres Chovem", de Myriam Scotti (Português/Espanhol)
MULHERES CHOVEM
Como a chuva que cai p’ra limpar
Nuvens
carregadas que se espremem,
Tantas mulheres
chovem p’ra vazar
O que um coração
quebrado sente.
Pois que o choro
nunca é fraqueza,
É natureza a
cuidar do corpo,
Levando os
rejeitos para longe,
Devolvendo o
sorriso que se esconde.
Chuva que limpa
céu torrencial,
Lágrimas que
lavam a alma triste,
Aliviam dor
exponencial,
Sem levar em
conta dor que persiste.
Desafio se
há mulher que chova
MUJERES QUE LLUEVEN
Como la lluvia que cae para limpiar
Nubes cargadas que se exprimen
Tantas mujeres llueven para filtrar
Lo que el corazón roto percibe.
Porque el llanto nunca es debilidad
Es la naturaleza cuidando al cuerpo,
Llevando lejos lo que causa el llanto,
Devolviendo a la sonrisa su encanto.
Lluvia que limpia el cielo torrencial,
Lágrimas que lavan el alma triste,
Alivian el dolor exponencial,
Sin hacer caso a la pena que persiste.
Me pregunto si hay mujer que llueva
quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
LIVROS & ENCANTAMENTOS: O CORAÇÃO É UM MÚSCULO QUE PULSA, SENTE E PENSA - CONSTANTEMENTE, POR ROBERTA GASPAROTTO
'O CORAÇÃO PENSA CONSTANTEMENTE', DE ROSÂNGELA VIEIRA
Qual o gostinho de ser uma das primeiras leitoras a ter acesso a um livro profundo e ao mesmo tempo delicioso? Eu pergunto e eu mesma dou a resposta: me senti como tendo a chave para abrir um tesouro, o que é bom, e ao mesmo tempo, senti uma responsabilidade danada sobre o que fazer com o tesouro recém descoberto.
Nessas minhas reflexões sobre 'O Coração Pensa Constantemente', da nossa querida Rosângela Vieira Rocha, lançado pela editora Arribaçã, espero que eu faça jus (nem que seja um pouquinho) à imensidade da obra.
Em uma época em que muitos usam a faculdade de pensar com o objetivo de travar batalhas e ganhar discussões, Rosângela nos convida a usar essa importante ferramenta com o objetivo de estabelecer conexões.
O coração da narradora do livro, Luísa, é um músculo que pulsa, sente e pensa, constantemente. É a partir desse pensar-sentir, ou melhor, sentir e pensar sobre o que sente, que ela refaz caminhos e , principalmente, revivifica suas relações de afeto.
Em suas ações, a narradora realiza uma deliciosa e inteligente subversão, ao inverter a equação tão em voga em nossa contemporaneidade: de uma vida em favor da racionalidade, para a racionalidade em prol da vida e dos encontros.
Seu pensar é sempre a partir do coração, e é com esse recurso que Luísa procura entender o mundo, suas emoções e, também, o outro. Sendo que o outro mais especial, é sua irmã Rubi.
Há momentos belíssimos , e alguns muito engraçados, dessas duas irmãs que nutrem profundo amor entre si, mas não só. Como humanas que são, outros sentimentos também comparecem em cena, e Luísa usa de sua extraordinária habilidade de pensar os sentimentos, para dar conta de desenrolar muitos nós cegos.
Preciso dizer que Rosângela foi muito generosa com seus leitores: através de Luísa temos a oportunidade de refletirmos sobre como anda nosso sentir-pensar-agir. Mais que isso: aos interessados, Luísa aponta, de certa forma, o caminho das pedras.
Além disso, as emoções são, no meu ponto de vista, a personagem principal do seu maravilhoso e potente livro: há que se ter a coragem de investigá-las, e muitas vezes enfrentá-las para seguir em frente e não estagnar no caminho.
Ao fim da leitura, temos a confirmação de que o esforço da narradora em percorrer seus percalços, e em aceitar os tropeços alheios, deram frutos.
Em uma das frases finais, Luísa reflete sobre a vida, e também, sobre a morte, que um dia inevitavelmente virá, assim como veio para uma das pessoas que ela mais amou, sua irmã.
Ao final, a narradora acolhe com bravura tanto a sua vida, quanto a sua morte: serenidade e maturidade alcançadas só para quem viveu uma existência que fez sentido para si.
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Amor de papel
Poema/03
PARA OUVIR PODCAST CLIQUE aqui
Disse que queria fazer
amor
comigo,
e eu não sabia que
amor
se fazia,
como se faz um
barquinho
a partir de um pedaço de papel,
em branco,
dobrando e
vincando a folha
entre o indicador e o polegar
até ela ganhar forma.
Não sei se foi
amor
o que fizemos,
mas a folha,
que não é mais branca,
rasgou.
ELES LEEM ELAS: RASGA OSSOS, POR MARCELO FROTA
Rasga
Ossos, de
Sabrina Dalbelo/05
Por Marcelo Frota
Rasga
Ossos é um livro de reflexões, de questionamentos. É
uma obra de imagens, uma sucessão de estranhamentos. É soco no estômago, um
desalento. É palavra/evolução, uma montanha-russa, um espaçamento.
Eis o novo livro da autora gaúcha Sabrina Dalbelo,
(Penalux, 2020), que adentra no universo literário em um ano em que nada foi
lugar-comum, em um tempo em que a arte se entrega a seu papel máximo, ou seja, retratar o tempo
presente. Rasga Ossos é tempo
presente. Também passado, também futuro.
A poesia presente na obra, segundo a
própria autora, é um resultado de encontros e desencontros. Entre conhecidos e
estranhos. É, aos meus olhos, um reflexo de experiências e vivencias. Um algo
familiar entre os estranhamentos dos caminhos da vida. É como um filme de
Ingmar Bergman, uma jornada entre a leveza e o lado mais sombrio de uma jornada
que nem sempre tem um começo definido, ou um fim estabelecido, mas que em seu
meio, se faz matéria de reflexão e silêncio.
No poema Cicatriz é
artéria pulsante, Sabrina faz uma reflexão divertida e profunda
sobre os caminhos da tristeza. A autora constrói por meio de frase envoltas em
simplicidade um lamento que nos remete a encontros com presente/passado. “A
tristeza é uma amiga. É ferida que deve ser sentida, vivida. Tristeza é para
ser abraçada, doída”.
Sim, a tristeza é amiga, é companheira, é
constante. A tristeza é o intervalo da felicidade. Aquela visita indesejada,
que sempre aparece, e, muitas vezes, fica além da hora. Mas que quando vai
embora, alivia o clima da casa, tira o peso do corpo. É como cantavam Tom &
Vinicius: “Tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Tristeza tem intervalos, às vezes curtos, às vezes longos, mas fim não tem. Tem
recessos, tem intervalos.
Em Medo
da vida, poema que remete a preocupações, anseios, receios,
paranoias, Sabrina Dalbelo faz um desafio aos medos que estão no íntimo de
todos nós. “Quero falar do medo de receber
resultado de exame, de vislumbrar um futuro de medicação, fisioterapia, de
tratamento, hospital e de, todos os dias, se perguntar o porquê, por que você, por que a
estatística veio lhe pegar”.
Viver é
ter medo da morte? Medo da doença? Medo da ruína do corpo? Da falha da mente?
Viver é uma sucessão de medos, uma eterna estrada de pequenos receios. Ter medo
da vida é ter cautela? Não, ter medo da vida é não viver, é não deixar o acaso
se tornar real. Não deixar o sonho se tornar palpável. Ter medo da vida é não
deixar a vida ser vida, vivida, desfrutada. A morte é natural, e, como disse
Cazuza: “Morrer não dói”. Digo eu, “viver dói mais”.
Em Na teoria o
céu é azul, a tortuosidade da vida cotidiana é matéria para
versos “fofinhos”, que escondem, por trás de sua aparente doçura, a brutalidade
da realidade do nosso tempo. “nas nuvens branquinhas
que pairam no azul/céu azul o passo é manso/o sonho é carinho
de mãos firmes/a brisa é fresca como limão taiti”.
Nas esquinas das ruas da vida, o mal que
ronda por nosso tempo se faz presente. A doença que infesta nosso planeta, o
descaso do nosso governo, a incapacidade e desumanidade o presidente “Mito”, o
descaso com o que é minoria, a desgraça de viver em tempos em que o homem
agride seu semelhante, mata seu semelhante pela cor, pela orientação sexual, pela
diferença. O poema “soco no estômago de Rasga
Ossos para mim.
Em meio à densidade da poesia da Sabrina
Dalbelo, termino com a doçura agridoce de Mulher-goiaba: “mulher
não escreve memórias/em papel de seda ou de presente/calada/tem filho/faz
goiabada”. Lygia Fagundes Teles, a homenageada com o poema,
acredito eu, ficaria feliz.
Rasga
Ossos, como antes mencionei, é um livro para reflexões.
Reflexões profundas, e como toda reflexão, ora leva, ora sombria, mas sempre
relevante. Leitura de uma vez só, para depois ser revisitada, redimensionada,
reinternalizada. Uma
jornada de intensidade.
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