MEU TREM BALA NÃO PARA
No meio da conversa com a compositora e escritora paulista, Cida Ajala, lembrei daquela frase de Clarice Lispector: “eu tenho medos bobos e coragens absurdas”. Conversamos durante mais de uma hora por vídeo, Cida estava linda, toda de vermelho, incluindo batom, chapéu e esmalte. “Amo vermelho”. Não é para menos, vermelho é a cor que mais simboliza a vida, e se tem algo que essa bela mulher de sessenta e nove anos tem de sobra, é uma enorme vivacidade.
Cida cresceu em uma família de músicos, de modo que desde quando se entende por gente, esteve cercada por instrumentos. Com seu tio, muito pequena aprendeu a tocar violão. E depois, viola, e depois, harpa. Aos doze anos, compôs sua primeira letra de música, para o seu então namorado, que viria a se tornar marido.
Para ela o processo de escrita e o arranjo da melodia, acontecem simultaneamente. À medida que escreve, a melodia ganha forma e a música é composta. Na sua concepção, escrever é uma forma de louvar e agradecer a Deus, por isso, suas letras sempre tocam em temas pungentes, como a natureza, os animais e o amor.
A vida de shows começou quando tinha cinquenta e nove anos, e de lá para cá, não parou mais. Cida e sua banda percorrem várias cidades, em especial, interior de São Paulo e Mato Grosso. Canta todos os estilos, mas seus xodós são o sertanejo de raiz e a música latina. Um momento de grande emoção foi apresentar-se na famosa festa de Barretos, "meus músculos pulavam igual pipoca". Em todas as apresentações, canta um hino de louvor a Deus. Costuma cantar “Quão Grande és tu”. Nesse momento, muitos da plateia se emocionam. “Certo dia, após um show em minha cidade, um homem grande, forte e todo tatuado, veio falar comigo... Parecia um bebê chorando, ficou muito emocionado”.
Para essa mulher de ideias fervilhantes, nem a pandemia foi motivo de calmaria: idealizou e pôs em prática o projeto Musicando sua Poesia, com a presença de dezoito escritores. Para ela, a maior alegria foi perceber o contentamento dos participantes ao verem seus poemas transformados em linguagem musical. Um deles, começou a dançar, tamanha era sua alegria. Outro projeto realizado durante a pandemia é o “live em família”, onde as pessoas a contratam para cantar músicas que gostam. Um sucesso garantido é a música “beijinho doce”. Casais dançam, se abraçam, rolam beijinhos pra lá e pra cá.
Perguntei sobre algum momento especial que a marcou, “ foi num encontro, lá no Ministério da Música, em Jaciara, no Mato Grosso. Chegando na igreja, havia na porta alguns moradores de rua. Um deles, me vendo com violão, disse que já tinha sido maestro e perguntou se poderia tocar. Ele não só tocou belamente, como me emocionou profundamente. Após, fui fazer meu show dentro da Igreja, e no meio da apresentação, vi um homem bem vestido, sorrindo para mim. Ao final, fui até ele e, para minha surpresa, era o maestro que, horas antes, estava na porta da Igreja. Esse encontro marcou a minha vida”.
Ao final da nossa deliciosa conversa, Cida me presenteia, cantando a música “Aleluia”. Momento divino! E eis que, esse mulherão que parece não ter medo de nada, me faz a seguinte revelação: “tenho medo do escuro, e sempre durmo com uma luzinha ligada”. Gente de verdade, é assim, tem medos bobos, e coragens absurdas!
Sua frase: “para Deus, nada é impossível, tem que sonhar, acreditar, ter fé e agir”. (Lucas I, 37)
FILHO DA NATUREZA
Gosto de viver nos campos
Ouvindo o cantar dos pássaros
Gosto do amanhecer
Sentindo o cheiro de mato
Gosto de ver animais
Estrelas noites de luar
Gosto da brisa da noite
E do sol quente que esquenta a gente
Gosto de dormir tranquilo
Ouvindo o cantar dos grilos
Gosto do alvorecer
Olhando tudo florecer
Gosto das águas dos rios
Que correm calmas cristalinas
E ver as plantas brotando
Nos campos e nas colinas
Amanheço e anoiteço
Sempre com muita alegria
Trabalho todos os dias não sei o que é monotonia
Olho o sol nascer sozinho
E a noite que vem de mansinho
E a chuva que cai no chão
É uma benção para plantação
Eu gosto tanto de viver
Em contato com a natureza
No meio de tanta beleza
Eu nunca sei o que é tristeza
Não me importo
Que me chamem
De caipira ou bicho do mato
Somente afirmo com certeza
Sou filho da natureza.
***
NOSSA HISTÓRIA DE AMOR
Quando eu te conheci
Foi num domingo
Bem no cinema
Eu fui te encontrar
Você olhou para mim
E eu fiquei
Apaixonada a te esperar
Então o filme iniciou
E sorridente me perguntou
Posso sentar-me
Aqui do seu lado?
Já tem alguém? Ou está ocupado?
E o corpo tremia!
O que dizer não sabia!
E foi tanta emoção!
Ao pegar minha mão!
Nosso primeiro beijo!
Foi no portão ao luar!
O Cine Presidente
Foi que marcou
Lá nossa história
Iniciou
Depois desse namoro
Veio o noivado
E o casamento
Tão esperado
Aí depois dessa união
Vieram os filhos
Netos que bom
Foi se formando
Minha família
Cheia de amor e alegria
E o tempo foi passando
E a juventude acabando
Mas nós dois bem juntinhos
Como sempre se amando
Agora infelizmente
Foi para sempre
Está no céu a me esperar
Nossa História de Amor...
Nunca irá se acabar...
ESTA SOU EU, por Cida Ajala:
Maria Aparecida Ajala Jesus, nome artístico Cida Ajala, cantora, compositora, integrante da Orquestra de viola Caipira, do Prenap, filiada a Associação Prudentina dos escritores-APE, participante do Coral Santa Rita. Já se apresentou em grandes shows como, por exemplo, Barretos, 3°Festival de Chamamé, com as Galvão, Perla Paraguaia entre outras. Cida Ajala recebeu várias homenagens e premiaçãos como compositora: Nevado de oro da Argentina e também, no Brasil: arte em movimento, prêmio Benjamim Resende, Compositora Revelação entre outros. Algumas de suas particularidades: não dorme no escuro, tem muita fé e é orante! Todos gostam de suas esfihas, em especial os filhos e netos. Ama laranja e tomate e acredita que com Deus tudo na sua vida sempre dá certo!