Mostrando postagens com marcador literatura do Feminino. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador literatura do Feminino. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de janeiro de 2023

MULHERES INDÍGENAS EM DESTAQUE, POR EUNICE TOMÉ

Clique AQUI e baixe grátis o e-book

POR EUNICE TOMÉ

Começamos o ano ganhando um Ministério no novo governo, o dos Povos Indígenas, sendo empossada Sônia Guajajara, líder e ativista indígena, reconhecida por sua influência no movimento pelos direitos de seu povo no Brasil. Ela é do Maranhão, que habita as matas da Terra Arariboia. Com voz muito influente, faz parte do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas e já levou denúncias às Conferências Mundiais do Clima (COP) e ao Parlamento Europeu. Membro do PSOL, em 03 de outubro passado, ela se torna a primeira indígena a ser eleita deputada federal pelo estado de São Paulo, com 156.966 votos, agora deixando essa função para presidir o ministério.

Além de seu ativismo político, Sônia Guajajara tem formação acadêmica - estudou Letras e Enfermagem e pós-graduação em Educação Especial.

Sônia é uma das referências para os povos indígenas, em especial para as mulheres, e a sua ascendência já vem de longe. No ano passado, 2022, ela foi convidada a compor o Álbum Biográfico “Guerreiras da Ancestralidade”, do Mulherio das Letras Indígenas, como uma das inspiradoras às 63 escritoras indígenas, que fazem parte dessa antologia. Uma obra de 200 páginas, onde cada qual apresenta sua vivência e um texto poético de suas autorias. A apresentação do Álbum foi feita pela premiada escritora santista Maria Valéria Rezende, uma das fundadoras do coletivo Mulherio das Letras.

Sônia Guajajara

O lançamento da obra foi no mês de novembro/22, na cidade João Pessoa, durante o V Encontro Nacional do Mulherio das Letras, com a presença de muitas representantes. Para mim, além de ter tido contato pessoal com essa nova safra de escritoras, foi surpreendente conhecer suas histórias de vida, antes mesmo do lançamento, uma vez que tive o privilégio de fazer a revisão geral do livro.

Esse mesmo Álbum será lançado aqui em Santos, em fevereiro, com a presença de algumas autoras, provavelmente na Estação Cidadania. Quem sabe, a ministra Guajajara possa vir prestigiar, mais uma vez, as guerreiras combatentes da sua ancestralidade e nos brindar com o brilho de seus ideais e de sua trajetória em prol do seu povo e do meio ambiente.

Lançamento no V Encontro Mulherio Nacional/Nov/2022


Eva Potiguara é indígena do contexto urbano, Doutora em Educação, professora de Artes do curso de Pedagogia, escritora e poeta, contadora de histórias, artista visual e audiovisual (clips), ilustradora, produtora cultural da EP PRODUÇÕES. É membro de várias academias de Letras no Brasil e na Europa. Articuladora do Mulherio das Letras Indígenas e do coletivo indígenas do contexto urbano no RN / INDURN. Livros publicados: “Do casulo à borboleta”, “Gatos diversos” e Abyayala Membyra Nenhe'gara,"Cânticos de uma filha da Terra" (2022).



Vanessa Ratton é jornalista, poeta, autora infanto juvenil, professora de teatro, Especialista em Teatro Brasileiro e Psicopedagogia e Mestre em Comunicação e Semiótica. Integra o Movimento Mulherio das Letras, tendo organizado a I e II Coletâneas poéticas Mulherio das Letras e a Coletânea internacional Mulherio pela Paz, em parceria com Alexandra Magalhães Zeiner, da Associação de Mulheres pela Paz Fraun für Frieden. Com o pseudônimo Tatá Bloom, é autora de Um ratinho que não gostava de queijo (Editora Multifoco), Um vizinho muito especial (e-book Kindle), Uma menina detetive e a máfia italiana (Editora Trejuli). Fonte: Ruído Manifesto.

♡__________________◇_________________♤_________________♧__________________♡

Eunice Tomé é santista, jornalista, mestre em Comunicação pela USP, escritora, poeta, haicaísta e promotora cultural. Possui oito livros publicados, incluindo contos, artigos, crônicas, poesias e haicais. No ano de 2020, apesar e até devido à pandemia, desenvolveu um projeto denominado Sarau em Casa com Pratas da Casa, onde divulgou 80 poetas locais da Baixada Santista, declamando suas poesias e resumindo um histórico. 



sexta-feira, 25 de novembro de 2022

AVE, CRÔNICA: VIBRA BRASIL, POR EUNICE TOMÉ

 


AVE, CRÔNICA|06

V I B R A   B R A S I L

POR EUNICE TOMÉ

Hoje estarei indo para a cidade de João Pessoa, na Paraíba, para o V Encontro Nacional do Mulherio de Letras, um movimento de escritoras, editoras, ilustradoras e promotoras da literatura, e que foi gestado em tempos atrás lá e aqui em Santos também. 


A Capital da Paraíba é o ponto mais oriental das Américas, por estar situada na Ponta do Seixas, no extremo do Nordeste, conhecida também como “porta do sol”, por ser onde o sol nasce primeiro no continente americano, além de ser a segunda capital mais verde do mundo.

Praia do Jacaré - Foto do Jornal da Paraíba-11/2022

De 25 a 27 de novembro, a presença feminina estará recebendo essas energias e, ao mesmo tempo, resplandecendo o calor do sol entre tantas mulheres de todo o nosso país, na busca de engrandecer os feitos da escrita nas falas de brancas, indígenas, pretas, em total miscigenação. Para celebrar, uma Coletânea será lançada, com textos em prosa e versos de suas participantes. 



Assistirei ao jogo do Brasil, em sua estreia na Copa, direto de lá. Será uma experiência nova, mas acredito que interessante por mesclar as torcidas de diferentes lugares, em torno da mesma paixão. E isso me faz ampliar a ideia de que uma disputa mundial, como essa, onde estão presentes tantas nações, de várias raças, cores e costumes, pode dar a dimensão de que devemos estar unidos em torno de buscar resultados e na defesa do país.

Em tempos muito ruins de polaridade política, estivemos lutando contra princípios e valores nefastos. O pavilhão nacional sendo apropriado como uma sigla partidária, e agora, fazendo parte de janelas e tremulando nos prédios como símbolo de todos, na torcida pelo melhor desemprenho no futebol.

Bem a calhar essa Copa, e já temos visto aqui na região bairros inteiros sendo coloridos e enfeitados para o grito de gol de todas as gargantas, não importa de onde venha. Na minha memória de adolescente, a Copa do México, em 1970, foi comemorada com muito entusiasmo e a influência foi tamanha, que a partir daí foi criada a comunidade na periferia de São Vicente, como o nome de México 70.

Vamos fazer o mesmo coro e torcer que consigamos nessa edição de 2022, a mesma vitória e sejamos campeões, mas além do melhor desempenho nas quatro linhas do campo, o que mais desejamos é ver unificado o país e todos buscando o melhor resultado na economia, nas áreas sociais, na educação, saúde, meio ambiente e nos esportes.

Esse será o melhor gol e com mais uma estrela brilhando a nosso favor.

♡__________________◇_________________♤_________________♧__________________♡

Eunice Tomé é santista, jornalista, mestre em Comunicação pela USP, escritora, poeta, haicaísta e promotora cultural. Possui oito livros publicados, incluindo contos, artigos, crônicas, poesias e haicais. No ano de 2020, apesar e até devido à pandemia, desenvolveu um projeto denominado Sarau em Casa com Pratas da Casa, onde divulgou 80 poetas locais da Baixada Santista, declamando suas poesias e resumindo um histórico. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

MOSAICO DE IDEIAS: O DIA DE CÃO, POR SANDRA SANTOS

 

MOSAICO DE IDEIAS - SEMEANDO PALAVRAS E COLHENDO BORBOLETAS|02 

O   D I A   D E   C Ã O

POR SANDRA A. SANTOS

As viagens no metrô paulistano geralmente são longas e cansativas, principalmente para quem mora na periferia. Um período de tempo em que passamos às voltas com nossos pensamentos, dando espaço às reflexões que surgem de forma intrusa, e por vezes deslocadas. Gente demais, com espaço de menos, e cada um isolado no seu mundo.

O silêncio, a alma do trem, instala-se como uma trilha sonora invisível a inundar um cenário, onde pessoas estranhas se encontram, amontoam-se, e são forçadas a um desconfortável grau de proximidade.

Quando o vagão lota completamente, desequilibrar-se é impossível para quem segue viagem em pé, pois mesmo sem segurar o corrimão, basta apoiar-se na parede hermética de carne e ossos que involuntariamente balança na mesma onda.

Fiz essa viagem por muitos anos e tinha dificuldades com um certo tipo de passageiro: aquele que, estranhamente, presume que o outro queira prosear durante o trajeto, e qualquer um serve, desde que tenha ouvidos. Concluo que talvez a solidão incentive esse tipo de comportamento, e mesmo sem nenhum empenho de minha parte, muitas pessoas dividiram suas vidas comigo, querendo eu ou não. Por mim, viajaria calada na companhia dos meus pensamentos nada silenciosos, e mesmo à contragosto, nunca neguei atenção a quem me puxasse conversa.

Antes da febre dos smartfones, as viagens eram mais interessantes e mesmo que praticamente ninguém se olhasse nos olhos, as pessoas ainda estavam lá. Com o passar do tempo e com o avanço da tecnologia celular, elas migraram para um universo paralelo onde os olhos ficam na tela, e alma sai do corpo. Entretanto, há quem resista a essa escravidão virtual e abra um livro; eu me identifico quando encontro outro herói da resistência.

Em São Paulo as distâncias são imensas, e o trajeto de casa para o trabalho e do trabalho para casa, de forma cruel nos rouba a individualidade. Mesmo assim, insisto em amar essa cidade engolidora de gente, emprestando-lhe uma aura de poesia que só os loucos e os poetas conseguem ver.

O dia começara como outro qualquer, e estando eu entregue voluntariamente aos labirintos da minha mente, fui puxada para a realidade pela figura de um homem que, apesar de extraordinariamente comum, despertara minha atenção, fazendo com que um arrepio gélido percorresse todo o meu corpo. Havia nele algo que estava além de seu rosto magro e do seu aspecto sofrido: um sorriso cruel, os olhos frios e desprovidos de brilho. Ao invés de sentar-se, parou de frente para a porta com as pernas abertas e os braços cruzados, fitando-a como se pudesse movê-la com a força de seu pensamento.

Passei a observá-lo de forma mais atenta, e pressenti que viria confusão, pois ele parecia pronto para enfrentar a turba ensandecida que entraria na estação seguinte. Aquilo não daria certo, e ouso dizer que nada me preparou para o que aconteceu quando a porta 28-A se abriu.

Com um enorme salto e de braços abertos, o homem lançou-se para frente com uma fúria terrível. Seus olhos estavam em brasa, e ele latia, rosnava e babava-se como um cão raivoso.  Eu, que nunca vira alguém imitar um cachorro com tamanha precisão, duvidei que fosse apenas uma simulação, pois parecia que ele havia se transformado em um animal. Para mim, aquele homem acreditava ser um cachorro.

A porta se fechou e ninguém entrou. Afinal, quem se atreveria a ser atacado por um monstro feroz? Foi tudo muito rápido, surreal. A movimentação automática na plataforma havia sido quebrada com louvor, e de forma inusitada, qualquer protocolo de convivência social comum aos transportes coletivos, diluíra-se ao som de latidos.

Um silêncio mortal circulou pelo vagão, e as pessoas se entreolhavam contorcendo-se nos acentos, e creio, que como eu, os outros passageiros foram tomados pela surpresa e pelo medo. Olhares confusos buscavam algum tipo razoável de explicação para o que acabávamos de testemunhar. Antecipei seus movimentos tentando traçar uma rota de fuga, afinal talvez fosse necessário. Mantive os olhos nele até que o infeliz me fitou diretamente, e eu por instinto, baixei rapidamente a cabeça considerando que não se olha um predador nos olhos, a menos que se queira enfrentá-lo.

Ele então, calmamente descruzou os braços e passou a nos analisar, observando-nos de forma acintosa, saboreando orgulhoso o impacto que causara. Divertindo-se às nossas custas ele sabia que tinha o controle da situação.

- Ceis gostaram do Toinho? - Indagou certificando-se que era ouvido.

- Esse cão “dos inferno” é meu companheiro, e é só nele que eu confio. Não confio em ninguém nessa cidade de loucos. Cidade de loucos sim. Eu odeio essa cidade. – Frisou aos berros tentando ofender-nos.

- Já passei muita fome, e até hoje não sei o que tô fazendo aqui..., nessa cidade de merda! Cidade fedida. Eu vim pra melhorar de vida e não consegui nada. – Sua expressão ensandecida, paulatinamente, assumia os ares de um solene discurso.

- Cheguei novo e cheio de esperança. A cabeça cheia de sonho. Cheio de vontade de trabalhar... E o que eu ganhei? O que eu ganhei? – Seu olhar nos atravessava e eu imaginei que talvez fosse melhor se o ignorássemos, mas olhar para ele era irresistível, e acho mesmo que, àquela altura, queríamos e merecíamos saber o motivo daquilo tudo.

Quando a voz robótica anunciou a chegada da próxima estação, o homem-cão posicionou-se novamente em frente à porta, pronto para o momento do bote.

- Vem Toinho, a porta vai abrir..., pega tsss tss Pega! Au uau au auuuuuuuu. – Ele berrava, e o Toinho latia como um cão obediente, pronto a proteger seu tutor. Dessa vez foi mais feroz e as pessoas na plataforma recuaram estonteadas. Ninguém se arriscou a entrar, nem na porta onde ele estava, nem nas outras mais distantes.

Impotentes, assistimos o trem ganhar novamente os trilhos enquanto ele continuava sua história. Sua expressão, paulatinamente se modificava, e eu notei que o ódio dava lugar a algo mais leve que eu ainda não conseguia identificar.

- Ceis gostam do Toinho né que eu sei? Eu também... só tenho ele! Ô cachorro danado. Esse é fiel. Au! Auau! Cala a boca Toinho, fica quieto e me deixa falar cachorro danado. - Ralhou com Toinho até conseguir seu silêncio canino.

- Não vi pai nem mãe e se meus irmãos são vivos, só Deus é quem sabe. Aqui carreguei muita areia e cimento no lombo. Nunca estudei, mas arranjei “uns rabo de saia” e trepei e trepei gostoso... Até que sosseguei e casei. Casei não..., caguei. Tive “uns menino” que nunca consegui sustentar direito. Nunca roubei, nunca matei e..., o que eu ganhei? – Suas perguntas só receberam nosso profundo, e agora, consternado silêncio.

- O que eu ganhei? Fala caralho..., eu tô perguntando... – Silêncio mais profundo.

 - Tô sem emprego, tomei uns “belo par de chifre” e agora tô aqui com meu amigo Toinho. Agora só eu e ele... “Ceis” tão com medo dele ou de mim? Fala com eles Toinho! – Fala pra eles que hoje a gente saiu com vontade de morrer ou de matar... Fala pra eles que nóis num tá brincando... Au au auauau – Lembro-me de sentir um certo alivio ao observar que ele não parecia estar armado.

De estação em estação, o desconhecido desabafou, o cachorro latiu e o trem seguiu vazio.

Aquele homem, em seu dia de fúria compartilhou sua triste história, deixando que do ódio explodisse o choro, em um lamento doído e barulhento. Pouco a pouco, o medo deu lugar a solidariedade e o homem-cão agora, era apenas um homem simples pedindo socorro.

Uma espécie de conversa de boteco mesclada a uma sessão de terapia de grupo se instalou aos poucos, e não faltaram os mais variados conselhos para que ele seguisse sua vida: um partilhou sua história de chifre garantindo que com o tempo, a dor passaria; outro pregou um discurso religioso; alguém, da outra ponta do vagão, ensinou uma simpatia para tirar o encosto; a senhorinha sentada ao meu lado, ensinou um chá milagroso para acalmar a alma. Houve até quem brincasse com o cachorro..., se o Toinho fosse de verdade, provavelmente ganharia um cafuné.

Fato é que em um certo momento, alguém do outro lado do vagão gritou:

- Eita que a porta vai abrir e o vagão vai encher! Pelo amor de Deus homem, solta o Toinho!

Todos riram, e arrisco a dizer que o cachorro Toinho, agora abanava a cauda alegremente.

FIM.

 ☆_____________________☆_____________________☆



Sandra A. Santos 
é pedagoga com especialização em Educação Ambiental, ambientalista apaixonada pela natureza e pela vida em todas as suas formas. Hoje aposentada, dedica-se à literatura, escrevendo contos, romances e poesias que giram em torno do universo feminino. Com trabalhos publicados em antologias no Brasil e na Argentina.

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

AVE, CRÔNICA: CLARICE E EU, POR TAINÁ VIEIRA



AVE, CRÔNICA|05

C L A R I C E   E   E U

POR TAINÁ VIEIRA


Clarice e eu é o nome desta crônica porque se trata de um texto bem intimista, na verdade, nem era para ser compartilhado, mas preciso mostrar o quanto tempo eu perdi, menosprezando uma autora que mudaria a minha medíocre existência.  Sei, estou agindo como uma colegial, porém, eu não me importo. Clarice Lispector exerce um poder intenso sobre mim, a forma complexa e sutil de narrar, me motiva, influencia e inspira muito.  Definitivamente, Clarice é a minha autora favorita para sempre!

 Quando eu estava no curso de Letras – Língua Portuguesa, e mesmo antes do curso, eu lia muito, sempre digo que a minha jornada na literatura se deu primeiro com a leitura, isso é óbvio, não poderia ter sido diferente.  Todavia, jamais me interessei pela literatura de Clarice, por dois motivos: o primeiro era porque sempre ouvira falar que a sua escrita era difícil de se entender, muito complexa e cansativa, e o segundo motivo; era por pura preguiça de me esforçar para entender.

Eu queria algo mais leve e fácil, eu queria mesmo era sombra e água fresca, nada de olhar para as profundezas das emoções das personagens, como no romance de estreia de Clarice, Perto do Coração Selvagem. Esse romance mudou a minha vida de verdade, e isso não é um clichê. Vira e mexe, estou pensando em Joana, ó minha triste e doce Joana, quão feliz eu fui adentrando a tua infeliz história. Por várias vezes, vi-me ali, por muitos instantes tu, Joana, eras eu, vivi contigo muitas agruras e tive também quase os mesmos pensamentos teus.

Formei-me, especializei-me, o tempo passou e Clarice sempre ficou para trás na minha vida. Sentia uma raiva tão intensa quando alguém perguntava sobre algum livro de Clarice, e eu respondia que não conhecia e a pessoa se assustava, como assim não conhece nada de Clarice? Eu, retrucava, quem é Clarice na fila do pão? É mesmo essencial ler Clarice?

Comecei lendo as suas crônicas, uma coletânea, Todas as crônicas, são mais de 600. O destino armou direitinho essa cilada boa, me pegou com as crônicas, e eu conheci uma autora totalmente oposta daquela que ouvia falar, e senti um ódio tão grande de mim por me deixar levar “no ouvir dizer.”  As crônicas de Clarice são inspiradoras, nota-se a paixão pela escrita, pela Língua Portuguesa, e pelo país que ela tanto amou. Em seguida fui para os romances, me esforcei muito para gostar da Macabéa (já havia lido na época da faculdade, mas foi por obrigação) prefiro a Joana, contudo, a minha favorita é a G.H. G.H fala aos meus ouvidos, na verdade, estou ali naquele quartinho acompanhando cada cena que sua mente produz.  Vivo àquela condição humana tão banal e tão necessária, e deixo-me levar por aquele turbilhão de emoção que percorre a narrativa.

Quando estou com tempo sobrando, assisto a entrevista de Clarice concedida quase um ano antes de ela morrer.  Já fiz isso várias vezes e mais vezes farei. Tenho um álbum na minha galeria de fotos só dela. Quando penso em Clarice, lembro também de uma professora da época da faculdade que faleceu há um ano, ela amava e nos falava com paixão da obra de Clarice e dizia-me que eu precisava ler Clarice, que Clarice era fundamental. A minha professora estava coberta de razão.

Passei pelas crônicas e por alguns romances e estou finalizando os contos, os contos que quanto mais complexos, melhores são. E eu tenho certeza, jamais encerrarei as leituras, Clarice sempre estará ao meu alcance, tanto que A paixão Segundo G.H, me chama, nunca vi isso, um livro chamar por mim.

Antes de ler integralmente a Paixão segundo G.H, eu já havia iniciado umas duas vezes, e parava, não porque não entendia, mas sempre acontecia algo que fazia com que eu deixasse a leitura de lado, só que um belo dia, eu decidi, vou terminar esse livro, recomecei e em dois dias, eu estava triste porque tinha terminado, eu queria mais, queria que a leitura durasse mil e uma noites. Algo estranhamente tem acontecido, sinto uma necessidade de relê-lo.  Estou quieta, e subitamente vem uma vontade de começar a ler tudo de novo, é como se esse livro chamasse por mim.

Essa é a literatura de Clarice, poderosa, inspirável, avassaladora e dominante, quem a conhece, a compreende, não escapa mais e fica literalmente à mercê, como se dela, um leitor, necessitasse para sobreviver. A obra de Clarice é o melhor enigma para que se possa desvendar (ou tentar) antes de começar a escrever. Clarice é essencial sim.

 ☆_____________________☆_____________________☆



Tainá Vieira é poeta, cronista e contista. Radicada em Manaus desde 2001. Autora de Prosa & panela e outras crônicas, publicado em 2019 pela editora online Polaris. Tem contos e poemas em outras antologias. É a primeira autora publicada da sua cidade natal, Juruti.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

AVE, CRÔNICA: VERDE QUE TE QUERO VERDE, POR TERESA BENDINI


AVE, CRÔNICA|04

VERDE QUE TE QUERO VERDE

POR TERESA BENDINI


“Verde que te quero verde”, esse é o emblemático verso, do poema "Romance Sonâmbulo", composto por Lorca, na verdade, Federico Garcia Lorca, poeta espanhol, assassinado covardemente pelo fascismo franquista em 1936.   Esse famoso verso se repete ao longo do poema, exaltando o verde e toda natureza.  Talvez por isso, o dia do seu nascimento, (5 de junho), seja também o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE. Data definida durante a Conferência de Estocolmo (1972).

Sim, na sua época, a utopia também estava comprometida, e a bandeira que a representa, nas mãos de militares, como aqui.  É aí, que entro, no título dessa crônica.  "VERDE QUE TE QUERO VERDE". Esse belo poema, belíssimo, conta da tragédia que foi, se render ao ideário fascista. O verde de Lorca, é o verde da nossa bandeira real.  De todos os seres aqui viventes, pois seu significado, se estende a todos. Humanos e não humanos, portanto, rios, flora, fauna etc.

É o verde da utopia, do vigor, do renascimento de uma outra aurora.

Deixa eu te contar um segredo mágico? "Não é a gente que realiza o SONHO... É sempre o SONHO que realiza a gente!" (Teresa Bendini)

Lorca grita: “Verde que te quero verde!!!”.  Mantenha o frescor, mantenha intacto seu ímpeto de liberdade. Sua certeza numa sociedade justa.

Lute por ela, como a semente jogada na terra, luta por sua árvore.

Em 1936, por ordem de um deputado católico ele foi preso.  Disse o homem, que o poeta era mais perigoso com a caneta, do que ele seria, com o revólver. Outra vez o conservadorismo, outra vez a truculência, impedindo o sonho, que é sobretudo o da transformação da realidade. O devir comprometido, paralisado, dessa vez na Espanha.  

“Verde que te quero verde”. Imagino Lorca gritando a frase, olhando para a nossa bandeira hoje. Mas aí, junto dele, estariam todos os nascidos nesse território, os de variadas procedências. Os que acordam de manhã acreditando no sonho. Mas no sonho que é de todos e para todos.

"Quando chovia, um sol dentro de mim, tomava banho." (Teresa Bendini)

A frase do poema, que aliás não é o título dele, ordena ao verde da bandeira, que ele permaneça sendo representativo desse ideal, o da liberdade.  Seria então, realmente verde, sua tonalidade, se a esperança está sendo atacada?

Nossa bandeira em mãos erradas perdeu sentido e a sua tonalidade já é outra.  Não tremula mais o verdejante ímpeto. Não reconheço nela o libertário ideal.  O nobre significado, foi usurpado da bandeira. Tornou-se truculência o que se estende nas paredes e janelas.  Tornou-se o verde oliva da antidemocracia, do antipovo e o que se vê é só um pano estendido, avisando: "Cuidado, se você pensa diferente de mim, não entre aqui", o famoso, “Ame-o ou deixe-o”, representativo apenas de uma classe temerosa de perder seus privilégios.  

Mas a frase do poema ainda ordena ao verde, que ele permaneça fiel ao tom da liberdade.  Ainda que eu não reconheça, (nessa outra), as necessidades gritantes do nosso povo; ainda que nela não esteja a luta que se deve empenhar por nossas matas e rios, montanhas e biomas; ainda que eu não veja em seu tecido, as variadas faces do povo miscigenado, é verde o fio que tece a liberdade, é verde o fio que tece a transformação, o devir é verde.  É verde o fio que tece a utopia. Mas hoje, o que vejo é a bandeira, no fio da navalha.

______________________________________

Leia o poema "Romance Sonâmbulo", de Federico García Lorca, clicando AQUI.

______________________________________


Teresa Bendini é poeta, nascida em Taubaté, SP. Escreveu oito Livros Infantis e um de Poemas. Seu último Livro: "Krenak, o menino dos braços compridos", escrito durante a pandemia, faz alusão ao urgentíssimo texto: "Ideias para adiar o fim do mundo", do ambientalista e pensador indígena, Ailton Krenak.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

AVE, CRÔNICA: O TRISTE VERDE DAS BANDEIRAS, POR TERESA BENDINI

 


AVE, CRÔNICA|03

O TRISTE VERDE DAS BANDEIRAS

POR TERESA BENDINI

Frustrada com o resultado das eleições, ou mesmo desolada, procurei fazer coisas agradáveis, que me levassem a ter bons sentimentos. Andar de bicicleta me agrada muito, visto que resido numa região entre serras. Paisagem linda. Depois de pedalar mais de 40 km, tive vontade de comer alguma coisa e me surpreendi. Não demonstrei desejo algum de parar em locais sofisticados, mesmo que fosse só para tomar uma água. A estrada é cheia desses cafés requintados. Percebi que não me sinto bem em locais feitos para uma determinada classe, aquela endinheirada. Percebi que essa estrutura há tempos não me diz respeito. Não sou mais a pessoa que se encaixa nessa faixa. Preciso de um Brasil outro, mais humano e integrado. Sentei com o garapeiro, naquele fim de estrada. Homem tranquilo e doce, como o líquido esverdeado da cana espremida. Repleto de história do Brasil, escorria o caldo, enchendo meu copo. Junto com outros, senti o quanto seria bom uma sociedade menos estratificada.  A boa conversa, o fazer simples, o convívio harmônico, foi o que eu senti naquela breve parada.

Lembrei do belo texto da amiga Marta Cortezão, na revista Voo Livre, edição nº 27, desse mês, que liga Arte a humanidades. Acho que entendi o que ela disse e concordo. Patrimônio Imaterial, chamado por Antônio Cândido, (não por acaso), de Patrimônio Incompreensível, é por excelência, a alma do ser, é simplesmente a sua subjetividade. Sempre rica, diversa, instigante, por vezes gritante, onde sagrado e profano se entrelaçam, essa essência humana, ela mesma, cheia de nuances, é o que podemos chamar de subjetividade, portanto alma humana. Faço-a já sinônimo de Patrimônio Imaterial, onde tudo se faz dialeticamente. E é essa a riqueza que deve ser incentivada.  Uma riqueza, hoje, ameaçada pelo sistema que começou lá atrás, com o caldo da cana moída, pela máquina moedora de gente. 

Clique na imagem e acesse a Voo Livre Revista Literária

Hoje o sistema esmaga nossa subjetividade, de tal forma, que pensar, comer, morar, fazer arte, fazer política, se relacionar, tudo isso é como cana moída, esmagada, até as últimas consequências. O verde da cana, o bagaço dela, somos nós. Com nossa subjetividade já massificada e destruída.  E hoje, posso dizer que é isso que vejo, tremular na bandeira que se estende verde, como a cana, nas paredes e janelas.

__________________________________________


Teresa Bendini é poeta, nascida em Taubaté, SP. Escreveu oito Livros Infantis e um de Poemas. Seu último Livro: "Krenak, o menino dos braços compridos", escrito durante a pandemia, faz alusão ao urgentíssimo texto: "Ideias para adiar o fim do mundo", do ambientalista e pensador indígena, Ailton Krenak.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

ELES LEEM ELAS: CARMELIANA - A FESTA DAS FLORES, DE ELIANA CASTELA, RONALDO RHUSSO



ELES LEEM ELAS|13

CARMELIANA - A FESTA DAS FLORES, DE ELIANA CASTELA



Quando a gente conhece a autora de perto pode correr o risco de comentar acerca da Obra dela e para falar de Obra, assim com “O” maiúsculo, no caso específico da Eliana Ferreira de Castela, a coisa não é simples, pois ela tem Formação em Geografia (Bacharelado e Licenciatura – UFAC - com Mestrado em Extensão Rural pela Federal de Viçosa), mas com dedicação ao Teatro, pela Associação Arquéthypo do Rio de Janeiro, por exemplo, e participações variadas no Acre e em “lives”, onde exibe sua alegria e talento de uma forma muito gostosa de constatar. É uma propagadora generosa da Arte em todas as suas formas, mas especialmente da Arte Poética que, também, produz e, juntamente com o Jorge Carlos Amaral, divulga mundo afora esse trabalho de milhares de escritores e seus poemas, grande parte no blogue Poemança e através da Folhinha Poética, um Projeto maravilhoso que mostra, desde a primeira edição em 2012, essa infinidade de autores sem se preocupar com reconhecimento, algo que é muito louvável e acrescenta muito à Literatura.

Enquanto eu respirar

Em 2017 ela lançou dois livros Pelos Rios ao Sabor da Fruta (Independente - Rio Branco/Acre) e Da Escrita Rupestre à Era Digital - Alguns Poemas (Chiado Editora). Livros de conteúdo riquíssimo e que me deram alegria ao lê-los...

Mas aqui eu quero falar do livro Carmeliana – A Festa das Flores (Íbis Libris Editora 2019). Ilustrado de uma forma muito bonita e diferente pelo Jorge Carlos, o Mané do Café, com direito a uma gravura da Clara R.

Logo na Apresentação a Eliana dá uma concisa aula acerca das Estações do Ano e justifica a familiaridade que Carmeliana tem com a Primavera, esse momento lindo em quase todas as partes do nosso planeta e a Estação que nós humanos costumamos usar como paralelo com o limiar da vida ou nascimento...


Contracapa do livro Carmeliana

A gente não costuma chamar o belo e o terno de “flor”? “Fulano é uma flor de pessoa”! Por que não personificar, também, as flores numa troca antropomórfica e divertida?

Carmeliana é daqueles livros agradáveis que a gente não pega, folheia e deixa de lado ou “encosta” na prateleira... Não! É um livro gostoso de ler e ficar imaginando ou visualizando as cenas... Aliás, é uma característica muito interessante de muitos dos escritores do Norte do país, esse descrever tão vivamente os detalhes e a Eliana não é diferente, pois ela conversa com a gente através de seus textos.

Neste livro todos os poemas estão vivos!

É, de fato, uma festa das flores e a gente ri, faz pequenas pausas a fim de imaginar os detalhes, quer mostrar para alguém como se faz com coisas boas...

A poética da Eliana é leve, de versos coloridos pelas palavras bem conectadas e cheias de significado. Há lições inseridas, há descrições das espécies de flores... Há um interagir com o pequeno, mas universal mundo dos insetos...

Eliana Castela
[foto do arquivo pessoal da autora]

Carmeliana é um livro que no primeiro olhar já denota um bom olor no ar e na vida; um destilar de poemas concisos, mas que brindam com alegria a mãe Natureza tão tratada com desdém há anos, porém muito mais nesses nossos dias incertos...  

O certo é que você vai ter uma gostosa experiência nessa leitura e vai cair na festa com as flores!

Que venha a Primavera!





 ☆_____________________☆_____________________☆

[foto arquivo pessoal da autora]

Eliana Ferreira de Castela – de Rio Branco, Acre, é poeta e escritora. Graduada em Geografia (UFAC), mestre em Extensão Rural (UFV). Participou de diversas antologias/coletâneas nacionais. Autora de três livros: “Da Escrita Rupestre à Era digital”, autoria própria. “Pelos Rios ao Sabor da Fruta”, Chiado Editora e “Carmeliana: a festa das flores”, editora Ibis Libis.                                


Ronaldo Rhusso: autor anual de “Meditações para o Pôr do Sol” da Casa Publicadora Brasileira pela União Sudeste dos IASD, do Compêndio poético “2016, o Dia, o Tema e o Poema” (produção independente) e de “Atos de Jesus” pelo Clube de Autores (2022), além de cordéis em parceria com membros da Academia de Cordel do Vale da Paraíba. Escreve, principalmente, no site “Descanso das Letras” e em seu blogue particular “A Sós Com a Poesia”.





domingo, 11 de setembro de 2022

ELES LEEM ELAS: AS LARANJAS DE ALICE MAZELA, DE GÉSSICA MENINO, POR RONALDO RHUSSO


ELES LEEM ELAS|12

AS LARANJAS DE ALICE MAZELA, DE GÉSSICA MENINO 



Achei interessante “eles que leem elas”, escreverem a respeito de quem ou da obra que leram, e escolhi “As Laranjas de Alice Mazela” (Editora Toma Aí Um Poema, 2021) da estreante Géssica Menino e que tem a excelente Apresentação da Flavia Ferrari.

É um livro de contos que me surpreendeu no sentido em que leva o leitor a fazer reflexões acerca do cotidiano e, a mim, fez-me pensar um pouco acerca de cada personagem com um olhar que nos leva a perceber claramente não ser propriamente nosso, mas uma, por assim dizer, apropriação do olhar da autora a qual, desconfio, fala muito de si mesma e de histórias que vivenciou em cada um desses contos.

Cada livro é um Universo particular ou mesclado, e a autora inicia o seu livro de uma forma poética “Quando conquistei uma bolsa para ir estudar na universidade meus prantos, de alegria, ao chão se derramaram”.

E aqui eu já percebo o abrir de alma da autora ao mencionar “seus prantos”... Alguém diria que pranto poderia inferir uma coisa só, um choro em demasia causado por algum infortúnio, mas aqui o leitor nota que houve sucessões de prantos e infortúnios, os quais foram exorcizados ou derramados a partir de uma notícia muito boa, a de que a tão sonhada oportunidade de buscar uma formação superior agora seria um fato e que sejam lá quais foram os infortúnios passados, seriam superados e, enfim, lançados ao chão a fim de, no máximo, servirem como adubo para o surgimento de uma nova vida...

Assim, a Géssica inicia o conto cujo título é Lembranças e que, no livro, inicia uma sessão de catorze contos, curiosidade que levará um sonetista inveterado como eu, por uma mera questão de costume, ver uma relação com a arte de compor essas pequenas canções em catorze versos, de maneira que passa a encarar essa coleção como uma simbólica Ode à dedicação na Arte de escrever e externar aquilo que ao autor sufoca, mas é capaz de encantar o leitor e, como antecipei, fazer refletir...

[foto arquivo pessoal da autora]

“O Barba Azul”, “É Apenas por Enquanto” e “Relativo” completam o que vou chamar de primeira estrofe. Cada Conto com sua peculiaridade. A gente se demora em pensar no fato de que até as características ditas ou vistas como negativas nos rotulam, classificam e nos põem no círculo das atenções sejam elas quais forem, mas, se nos despimos dessas características é como se desaparecêssemos! Dia desses, conversando com uma aluna, menina linda e gentil, me dizia que sofrera bullyng porque era gordinha quando começou a frequentar a escola, de forma que se esforçou para emagrecer e teve que suportar muita fome se privando das guloseimas que a mãe, uma doceira, fazia. Quando conseguiu emagrecer bastante passaram a chamá-la de “sem corpo” numa alusão de que a mesma, embora na puberdade, tinha corpo de criança... Assim torna-se fato a conclusão de que mudar não vai agradar a todos e a gente pode, na melhor das hipóteses, perder a única atenção que nos davam... É aí que a gente cai na real de que toda a sensação de falta de sentimento pode-se dizer que “é apenas por enquanto” e se o que pensam de nós ou os “para quês?” da vida são relativismos, nos resta valorizar a percepção de que algumas coisas, que são tão comuns em nosso cotidiano, como legumes que nos são servidos à mesa e dos quais fazemos pouco caso, porém quando vistos nas barracas de feira, encaramos a realidade do quanto custam e do quanto fazem diferença no orçamento e, principalmente, na nutrição física que pode ou não vir a gerar ótimas ideias na mente e se tornarão textos que encantarão leitores que se identificam com os cenários convertidos em palavras.

“Sem Destino”, “O Distinto”, “Para se Pensar” e “As Laranjas de Alice Mazela” formam o segundo Quarteto do livro e parece proposital que essa parte do meu “Soneto mental”, enquanto vou lendo, feche com o conto que empresta o título ao livro da Géssica.

“Ela escuta o barulho horrendo do vidro brigando com o chão”. Eu nunca pensei assim quando da queda de um frasco de perfume ou com outro conteúdo. Em “Sem destino” a gente não tem muita certeza de quem está narrando, porém a quantidade de observações aos detalhes contidos na casa e no jardim, com a rotina daquela que se vê menina na foto guardada no computador é muito interessante! Há uma ponte para “O Distinto” que, talvez, nem tenha sido proposital na organização do livro, entretanto as reflexões acerca do que seria a “Arte de amar” e a abrupta enumeração de episódios trágicos ocorridos com pessoas que têm nome, com pessoas que deixam pessoas que, também, têm nome é, de fato, “Para se pensar”, porque em todos os casos o Distinto, o Amor, esteve presente e a tudo testemunhou! Até a história de Lucinda e Marcos, a primeira menina mulher do acaso que vivenciou Movimentos e tormentos, enquanto o outro, o “bebum”, num apenas tênue interagir com Lucinda é só mais um dos “pirões perdidos” para o mundo e Alice? Sem mazelas, a não ser no nome, narra sua epopeia e se torna aquela que já não irá mais ouvir a velha pergunta: “Ainda estás aqui”?

[arquivo pessoal da autora]
Gessica Menino é mãe do Christopher, uma das vencedoras do concurso literário nacional “Novas Contistas da Literatura Brasileira”, pela Editora Zouk, com o conto “As curvas do tempo”, publicado em 2018 e um dos ganhadores do Concurso Literário Internacional da Academia Fluminense de Letras 2018, na modalidade conto, com o texto intitulado: “A vida de um casal de professores”. Autora do conto “Sem perder o ritmo”, publicado em 2020 na antologia “O lado poético da vida” e lançou “As Laranjas de Alice Mazela” pela Editora TAUP (Toma Aí Um Poema 2021)”.

Nesse ponto entramos no primeiro “Terceto” ou se preferirem, na terceira estrofe ou parte do livro com “Uma Descoberta”, “Um Dia Solene ou Sublime” e “Sois”...

“Uma descoberta” narra a autoconsciência de Bianca que “Escrevia todas suas ideias, pensamentos e emoções a qualquer tempo apropriado com a esperança de algum dia publicá-los, mas havia tanta comoção desastrosa de tudo que acontecera”.  Ela alimentava em si um fio de esperança que acabou, nesses nossos tempos pandêmicos, se tornando realidade para tantos que, como Bianca, se descobriram escritores... E não é um dia sublime aquele em que você tem nas mãos um livro, filho precioso contendo em seu interior muito mais que um filho gerado no útero? Ou você pode fazer um paralelo com um pequeno pássaro morto que pode simbolizar um breve ciclo que pareceu longo dado a quantidade de momentos complicados, mas que, pela força do vento das mudanças, alimentou a terra, como um livro alimenta intelectualmente aqueles que o leem... E é aqui que, eu que leio elas, uso as palavras da Géssica Menino: “Pois sois belas, sois uma beleza de conquista, uma guerreira da vida, a geradora da fonte inesgotável, a desculpa alheia de espinhos. Sois tudo e nada ao mesmo tempo em que carrega consigo um silêncio arrebatador e um grito de um vencedor. Sois”.

A Chave de ouro ou segundo Terceto desse meu Soneto mental no qual inseri esse livro se descortina com “A Letra C”, “A Porta Azul” e “A Menina do Laço de Fita”...

Sem se prender a aliterações ou que chamaríamos de tautogramas a Géssica mostra um personagem dessa era do “teclado” procurando aquela palavra certa e conclui consternadamente que o mundo se encontra convalescente...

“Era uma manhã ensolarada com raios de sol que despojavam como um suco de laranja avassalador gritando ou em confronto com um copo de vidro”. Você já olhou para si, de longe, com um binóculo? Já se viu em sua rotina, se olhou mais velha, mais nova outra vez e guardou na mente uma referência qualquer como uma barreira entre você e você mesma, tipo uma “Porta azul”?

E com ela o livro termina, mas um novo ciclo começa porque todo esse despir de alma poética, a meu ver, mostra “A menina do laço de fita. Agora, atormentada, desiludida, envergonhada. Perguntava a si mesma: Onde estava o amor”?

Quem escreve e descreve com essa forma singela e sensível, talvez nem saiba, mas permite que muitas pessoas se vejam nesses cenários e entendam o quanto “tudo vale a pena se a alma não é pequena” como cunhou Pessoa a nos dizer que pessoas somos e pessoais são os nossos sonhos e, em vez de limão, que tal uma laranja? Que tal as de Alice Mazela? Ou será Géssica Menino?

Uma leitura muito recomendável! Divirta-se!


[foto arquivo pessoal]

Ronaldo Rhusso: autor anual de “Meditações para o Pôr do Sol” da Casa Publicadora Brasileira pela União Sudeste dos IASD, do Compêndio poético “2016, o Dia, o Tema e o Poema” (produção independente) e de “Atos de Jesus” pelo Clube de Autores (2022), além de cordéis em parceria com membros da Academia de Cordel do Vale da Paraíba. Escreve, principalmente, no site “Descanso das Letras” e em seu blogue particular “A Sós Com a Poesia”.


Feminário Conexões, o blog que conecta você!

EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

  Clique na imagem e acesse o Edital II Tomo-2024 CHAMADA PARA O EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS: CORPO & MEMÓRIA O Coletivo Enluar...