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quinta-feira, 25 de agosto de 2022

CONTE-ME UM CONTO, POR MARGARIDA MONTEJANO

 


                 CONTE-ME UM CONTO|06

A   M Ã O   E   O   E S P E L H O

Por Margarida Montejano

Era uma sexta-feira comum numa cidadezinha pacata do interior de São Paulo.  Éramos jovens funcionários de um banco, na casa dos 20 anos. Eu, Márcia e meu amigo Jorge sentados em guichês coligados, esperando os clientes do banco chegarem.

Sim. Trabalhávamos como caixas bancários, naquele tempo em que não havia caixas eletrônicos e o atendimento era mecânico e humano simultaneamente, tínhamos que executar as operações monetárias e, ao mesmo tempo, agradar o cliente, pois era essa a política para se manter no emprego.  Pois bem. Havia alguns dias no mês em que o trabalho era raro. Tínhamos que nos cuidar para não cochilar.

Num desses dias, apesar de me mostrar sempre animada e criativa para passar o tempo, estava meio entediada, pois as horas não passavam. Foi então que meu colega Jorge provoca, dizendo: 

─ Não é você que sempre arranja um jeito de nos animar? Qual talento usará hoje para que o tempo passe depressa?

Pensei um pouco e, como adoro ser desafiada, fui logo dizendo:

─ Me dê tua mão!

─ Por quê? Vai me pedir em casamento?

Olhei paro os olhos dele e falei sério:

─ Jorge. Dentre os talentos que tenho, há um que você não conhece. Eu leio mãos. Pratico quiromancia.

Ele olhou-me incrédulo, duvidando. Foi então que o desafiei:

Vamos! Me dê sua mão esquerda!

Ele, em meio àquela calmaria, olhou e viu que não vinha ninguém em direção aos caixas. Esticou o braço e estendeu a mão.

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Foi aí que tudo começou. Como alguém que entendia do assunto, fui logo lançando meu olhar na direção das linhas daquela mão jovem e magrela, que se encontrava, naquele momento, úmida de suor. Estava meu companheiro nervoso e eu me divertindo um bocado.

Anda, Márcia! Por que essa demora? Dizia meu colega aflito com receio que chegasse algum cliente.

Séria, como se visse algo nas linhas de sua mão, relatei a ele o texto que em minha mente se formava:

─ Jorge. Você irá se transferir de agência… será promovido em breve e, após formar-se na faculdade, se casará com uma jovem que não é a sua atual namorada. Pronto.

Importante dizer que as palavras descritas a ele eram uma projeção possível, pois eu o conhecia há um bom tempo: ele era um bom funcionário, dedicado e com potencial para liderança, logo uma promoção teria muita chance de acontecer. A transferência, uma possibilidade real para todos nós que lá trabalhávamos, também era fato. Muito bem. Com relação ao futuro afetivo de Jorge, eu também já tinha os dados. Ele estava terminando o curso superior e o namoro dele, pelo que ele mesmo contava, ia de mal a pior.

Conclusão. Brinquei com Jorge e fiz a previsão de seu futuro considerando as possibilidades.

Ele ficou pensativo, mas logo os clientes vieram e tratamos de esquecer essa brincadeira de desocupados. Seguimos por cerca de uns três meses trabalhando, levando a sério as atividades a nós confiadas e nos ocupando de passar o tempo com criatividade, o tempo que nos rodeava.

Jorge, um belo dia me chama e diz:  

Márcia! Não é que você adivinhou mesmo! Recebi uma promoção e terei de me mudar de cidade.

Que bacana, amigo! Eu disse surpresa! 

Fico feliz por você!

E assim Jorge foi para outra cidade, outra agência e eu fiquei sem meu companheiro de trabalho e de assuntos aleatórios.

Não é que, em uma manhã, eu ainda não havia assumido os trabalhos no caixa, pois faltavam 50 minutos para a agência bancária abrir, uma funcionária me chama e avisa que havia uma mulher à minha procura, dizendo-se ser a mãe de Jorge. A dona Odete.

Fui, é claro, atendê-la, como fazia com todos que me procuravam na agência. Ofereci a ela um café e já embalei na pergunta:

Bom dia, dona Odete! Em que posso ajudá-la?
Ela pediu para falar comigo em particular. Levei-a até a cozinha que estava vazia naquele momento.

─ Márcia! Leia minha mão? Disse-me ela de forma direta.

 O quê? Engasguei com o café. Não estou entendendo!

 Márcia, você leu a mão de meu filho e você acertou. Está acontecendo tudo o que você viu nas mãos dele. Ele se mudou de agência e cidade, foi promovido a gerente e você acredita que ele rompeu com a Cris e está super apaixonado por Paula?

Naquele momento lembrei-me de minha travessura lendo, de forma inconsequente, as mãos de Jorge. Tremi nas bases. Respirei e expliquei a ela que eram coincidências, pois eu havia brincado com Jorge. Que não lia mãos.

Ela foi logo pegando em minhas mãos e oferecendo as suas, implorando para que eu as lesse.

Dona Odete. Ouça-me. Eu brinquei com Jorge. Não leio mãos, repeti:

Ela com os olhos cheios de lágrimas me implorou. 

Moça. Por favor! Diga-me alguma coisa, pelo menos! Eu estou a um passo de explodir, de fazer uma loucura! 

Estava desesperada, com os olhos tomados de lágrimas. Era visível a necessidade daquela mulher de ser ouvida. De receber atenção. De um ombro, um colo, uma palavra!  Sentamo-nos no banco daquela cozinha gelada como todo ambiente bancário, peguei as duas mãos da senhora aflita à minha frente, e disse:

Fala-me: o que está acontecendo? Rendi-me ao pedido.

E ela falou da traição e separação do marido que tanto amava, das dificuldades que tinha com os filhos mais novos e do medo de não conseguir lutar e seguir sozinha, pois estava a ponto de desistir de tudo. 

Ela desabou ali e contou-me de suas dores. A mim, uma mulher desconhecida.

Ouvi com atenção cada palavra. Ela chorou e eu chorei junto com ela. Quando ela parecia mais calma e recomposta, eu disse:

Odete. Vou lhe chamar assim. Não preciso ler tua mão. Você vai vencer essa tormenta, porque você é mulher e, por isso, é forte. Vai enfrentar a adolescência dos filhos com coragem, porque você é mãe e os ama e vai ainda ser muito feliz. É esse o seu desejo e também porque o mundo não acaba quando um casamento não dá certo. Creia nisso! Acredita. Tudo se encaminhará! 

Ela secou os olhos vermelhos com as mãos. Agradeceu-me por ouvi-la e saiu. 

Naquele dia, a agência lotou de clientes e eu mal tive tempo de pensar no que havia se passado na cozinha. De organizar as ideias. De respirar, de entender o ocorrido naquela manhã.

Passou o tempo, desliguei-me do banco, formei-me professora, casei-me e fui morar no Rio de Janeiro. 

Um belo dia, em visita à cidade natal, estava eu na farmácia São José, sendo atendida por um balconista, quando, dentre outros clientes que também esperavam no balcão, uma mulher reconhece minha voz e, sem demora, me aborda!

Moça. Dá licença. Você não é a Márcia que trabalhava no banco com o Jorge, meu filho? 

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Eu gaguejo, olho nos olhos dela e a reconheço. Estava mais envelhecida, mas ainda muito bonita. A senhora é a…

Odete. Sim, mãe do Jorge! 

Enquanto o balconista providencia minha compra, converso com ela:

Olá Odete! Prazer em vê-la! Eu disse meio espantada.

Como a senhora está? E seu filho? Eu gostava muito de trabalhar com ele!

Ela esperou eu terminar de ser atendida, puxou-me pelo braço num canto da farmácia e foi logo dizendo:

Nossa, menina! Como eu a procurei! Muito obrigada! Preciso dizer que tudo o que você falou para mim, naquela cozinha, aconteceu! 

Emocionada pegou minhas mãos e apertou-as como se quisesse transpor a mim sua energia. Sua gratidão.

Aos poucos fui me desvencilhando das mãos da bela senhora e fiquei por uns segundos olhando-a. Um tempo de um raio ou de uma eternidade durou a cena. Só sei que foi o suficiente para lembrar-me de tudo o que aconteceu e pude dizer a ela, com detalhes, o que senti naquela manhã no banco.

Dona Odete. Naquele dia eu não fiz a leitura de sua mão. Eu não podia atender seu pedido, porque seria imprudente fazer aquilo. Mas, eu fiz a leitura das minhas mãos, das nossas mãos. 

Quando a ouvi, entendi o quanto precisamos, nós mulheres, umas das outras e, não importa o quanto somos próximas ou distantes, nos fortalecemos quando estamos juntas. Quando nos ouvimos, quando nos damos as mãos!

Ela me olhava atenta e eu respirei fundo e continuei:

 Quanto às palavras ditas naquele dia, é preciso que eu lhe diga: mirei os seus olhos marejados e, naquele momento, eles pareciam um espelho. Um espelho refletindo… e, o que eu neles lia e repetia em voz alta, eram os seus desejos.

Sou também grata por aquele momento, Odete! Aprendi muito. Boa sorte a você querida!

Sequei meus olhos com uma sensação estranha, mas feliz. Me despedi dela e saí da farmácia com o espelho na mão, o qual eu acabara de comprar.

(Margarida Montejano, in Fio de Prata, 2022)


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

POESIA NA REDE: O LUGAR DO PAI, POR FLAVIA FERRARI

                                                         

                      POESIA NA REDE|06

O   L U G A R   D O   P A I
                                                                                                 Por Flavia Ferrari

   Nesta última semana a rede se encheu de textos, depoimentos, relatos, poemas e cartas ao pai. “Dia dos pais” é data comercial, todo mundo sabe, concorda, reafirma, mas também um momento para se pensar nesta figura que habita os nossos dias, de variadas formas.

    Qual pai podemos chamar de nosso? O pai que se perdeu, o pai que nunca se teve, o pai que já se foi, o pai presente e companheiro, ou aquele que não se tem definição? Pais, filhas e filhos postaram seus textos, fotografias, reflexões e a sensação que tive enquanto lia foi de pura intensidade emocional, pois quando escrevemos sobre nosso lugar de filha, filho ou de pais, escrevemos com as vísceras.

  As manifestações foram muito variadas; momentos de reencontro, saudades, fotografias da convivência diária, homenagens às mães solo, alegria de ter os filhos próximos e ser chamado de pai. Cada um contou uma história, a sua.

    Este lugar de pai é sempre um lugar, seja ele vazio, ausente, nunca habitado ou plenamente ocupado. Entre memórias, ausência e presença a poesia aparece para comover, gerar empatia, falar o que está em nós e nem sabíamos, na total identificação com o que se lê.

    Destaco o belíssimo poema de Patrícia Cacau*, “Pai & pão”:


Sinto um vazio de gosto de pai

Não sei que gosto tem pai

 

Tive fome, de pão

Tive vazio, de pai

Barriga de pão

Coração de pai

 

Admiro e invejo quem teve uma mesa farta de pai

Se pai dá em árvores?

 

Pai planta semente

Mas semente de pai, ninguém planta

*_*    *_*   *_*    *_*


Referência: *Patrícia Cacau é Poeta, reside em Fortaleza-CE. Autora do Livro QUINTAIS, incentivadora do Mulherio das Letras Ceará @mulheriodasletraceará. Organizadora do Projeto Enluaradas @enluaradas__. "Escrever é como respirar através do papel", @patricia.cacau.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

LITERATURA FEMININA CONTEMPORÂNEA: COSTURANDO DEVANEIOS NAS VENTANIAS CÓSMICAS, DE NIC CARDEAL/ Isa Corgosinho




LITERATURA FEMININA CONTEMPORÂNEA|06

COSTURANDO DEVANEIOS NAS VENTANIAS CÓSMICAS, DE NIC CARDEAL

 Por Isa Corgosinho

 

O livro de Nic Cardeal Costurando ventanias me acompanhou na volta de João Pessoa para Brasília, as suas páginas vieram impregnadas da maresia de Jampa e agora experimentam o ar seco e a energia revitalizante do cerrado candango. Tive que interromper a leitura várias vezes em virtude da organização desse retorno. A cada retomada, experimentei novos sentidos em suas particulares costuras, por isso fui tomada pelo desejo de escrever sobre elas.   


Nas costuras da prosa, as ventanias da poesia   

O escritor Julio Cortázar[1], ao refletir sobre as características do conto, afirma que escrever contos e poemas é algo parecido, quase um estado de transe. Esse estado seria provocado pela escolha de um material significativo. O livro Costurando ventanias conjuga-se no hibridismo de gêneros, ao associar acontecimentos da realidade (crônicas) com elementos fictícios (contos), desvelando, assim, uma misteriosa propriedade de irradiar alguma coisa para além dele mesmo. Irradia ventanias que informam e conformam um breviário da condição humana, principalmente no que se refere ao embate do ser e o cosmo, o ser e o tempo, a materialidade das coisas dissolvidas pelas ventanias da temporalidade. É ainda o contista argentino que nos diz que a gênese do conto e do poema assemelha-se, porque nasce de um deslocamento provocado pelo estranhamento, um deslocar-se que altera o regime “normal da consciência”.     

Enxergamos, ainda sob o ponto de vista de Cortázar, um perfil de contista, uma mulher que repentinamente cercada pela imensa algaravia do mundo, comprometida em maior ou menor grau com a realidade histórica que a contém, escolhe um determinado tema e faz com ele um livro de contos e crônicas. O tema parece se impor irresistivelmente por cima ou por baixo de sua consciência, e a quebra do silêncio da folha em branco vem pela música, e tudo aquilo que a eleva como linguagem das subjetividades.

Dito isso, é importante ressaltar as afinidades dos contos de Cardeal com a poesia. A poesia é um dos mais importantes destinos da palavra, a palavra poética nesse livro não se limita a exprimir ideias ou sensações apenas, almeja, na tomada de consciência da linguagem, se lançar ao futuro. Com notável precisão, Gaston Bachelard[2] declara que a imagem poética, em sua novidade, abre um povir da linguagem.   

            A prosa de Ventanias é tecida em três redes aéreas que modulam a sua arquitetônica: Eu quero a música que mora dentro da flauta; Então proponho um faz-de-conta que me avizinha: paradoxos dessa dança chamada vida; Mas o tempo passou muito... passou ligeiro. A função poética nos contos e crônicas é marcada pela projeção do ícone sobre o símbolo, pela presença de códigos não verbais como a música, a dança, as imagens visuais sobre a linguagem verbal.  

A poesia presente nos contos de Cardeal chega aos nossos ouvidos energizada pela melopeia, assim como a entende Ezra Pound[3]. Se trouxermos, como aliada, a experiência de sua obra poética, não seria inadequado afirmar que as frases nesses contos e crônicas estão carregadas, acima e além de seus significados comuns, de marcantes qualidades musicais que dirigem o propósito ou tendência desses significados, basta escutar a temática que abre os primeiros contos Eu quero a música que mora dentro da flauta: O som inaudível, o sopro, as batidas do coração que ressoam na caixa torácica, no som que repercute nas vértebras.    

Lista de desejos

Eu não quero só a flauta. Eu quero a música que mora dentro da flauta. Cada nota escondida em sustenidos sentidos. Eu quero os acordes da poesia virando canção – e a voz que a faz palavra entoada. Sim, sou egoísta por querer a flauta e a moradora da flauta.  (CARDEAL, p. 15, 2021)   

            A musicalidade é composta pela exploração das paranomásias, das aliterações, assonâncias, trocadilhos nos títulos e, principalmente, nos versos rimados, ritmados no interior dos contos.

Títulos de contos

Tralhas fora dos trilhos de dentro

Os olhos chuvosos de Deus

Do barro ao berro

Fragmento do conto A linha

Empenho-me, assim, no ofício de pescar palavras no vasto mar que navega, para lá e para cá, dentro do meu peito, feito da mesma água que invade meus olhos fundos, bem distante da superfície do mundo. (CARDEAL, p. 14, 2021).

Sobre a influência da melopeia, a prosa de Nic comparece nas fronteiras da música, e a música aqui talvez seja a ponte entre a consciência e o universo sensível não pensante, ou mesmo não sensível.  Ainda nesse conto, a contista afirma que os poemas a descrevem, que os poemas são a alma, as palavras seu corpo. Sim, pois que seus poemas transmitem uma vertente peculiar de sensibilidade, são mais que ideias transmitidas, são imagens que devem ser sentidas, tocadas na corporeidade das palavras.   

Ao lado da função poética, concorre a função metalinguística que comparece em lances certeiros de autoconsciência do fazer literário, metapoética. Na composição do sensível conto A palavra, todas as características do sentimento são expressadas pelos movimentos dos sentidos e pelos traumas da ausência, da distância, das separações, da perda vivenciadas pela infância e pela vida afora. Todas as metonímias, eufemismos são empregados para dissipar a inalcançável compreensão dos sentimentos gerados pela separação, pelo luto ou pelo amor. Tudo circunda essa coisa, palavra esquisita, multifacetada, adjetivada, jamais nomeada. Apenas ao final, a palavra que, pela dor se vela, enfim se desvela – saudade  a palavra pronunciada em coro pela aldeia tinha o dom de dividir e curar a dor, como uma hóstia em forma de pão, alimento coletivo do amor. 

A gente tinha um nome para essa coisa que apertava o peito e fazia doer os olhos até a lágrima cair. Dizia-se na aldeia que era uma palavra esquisita, mas que pronunciá-la de um certo modo até aliviava um bocadinho a dor.

Porque a saudade precisava ser dita, ainda que fosse na aldeia uma palavra esquisita... (CARDEAL, pp. 55-57, 2021)   

No conto (A)porte de poesia as funções poética e metalinguística andam entrelaçadas, enamoradas, ocupando singular equidade de posição e isonomia de valor. O leitor pode se deliciar com os jogos metalinguísticos, a começar pelo próprio título, que é um verdadeiro slogan pelo desarmamento.  A prosa encena o nascimento da paz no corpo potente da poesia.     

Sou a favor do porte de poesia. Carregá-la desde a semente, até que a palavra infle, insufle, percorra o caminho do ventre, saia do ninho, alce voo em direção ao céu do meu/teu/nosso coração. Ali aportada a poesia, que ela absorva a empatia, a boemia, a leveza ou a entropia, a expressão, a expansão, a exuberância da própria vida. E, quando pronta a atingir o alvo, aponte a poesia na direção da alma!  (CARDEAL, p. 61, 2021)   

Nas ventanias dos devaneios

As camadas sonoras e imagéticas da música e da dança em Costurando ventanias compõem, junto a outras figurações, notável relação com a Poética do devaneio, de Gaston Bachelard[4], mas é precisamente no capítulo V Devaneio e cosmo que encontramos a trilha interpretativa. Nessa obra encontramos verdadeiras constelações de imagens de elevada cosmicidade: fogo, terra, ar e água estão disseminados em outras imagens que fazem da leveza o contraponto da petrificação, do pesadume do mundo (pássaros, ninhos, borboleta, árvores, céu, estrelas, astros, asas, chuva, lágrimas, chapéu, horizontes, barro, sementes etc), revelando extraordinária imaginação criativa.

            É a ênfase no devaneio operante que nos interessa na travessia interpretativa. O devaneio cósmico que experimentamos nos contos de Cardeal é aquele ao longo do qual o universo sensível se transforma em universo de opostos complementares, cuja ambivalência das sombras soma-se à luz irradiada da poesia. Os contos trazem fragmentos do universo: a unidade da beleza se concretiza nos elementos água, ar, fogo e terra. O cosmos em Ventanias é constituído de palavras grávidas. Segundo Bachelard:

Um devaneio falado transforma a solidão do sonhador solitário numa companhia aberta a todos os seres do mundo. O sonhador fala ao mundo, e eis que o mundo lhe fala. Amando as coisas do mundo, aprendemos a louvar o mundo: entramos no cosmos da palavra. (BACHELARD, p. 179, 1996).

            Na esteira de Bachelard, Nic Cardeal reafirma em sua obra o clímax do devaneio cósmico, que é o de constituir um cosmos da palavra. É pela função poética da linguagem que seus leitores são seduzidos, arrebatados da inércia, conduzidos por uma espiral de louvores que transforma o universo sensível em universo de beleza.

A leveza, num mundo cada vez mais empobrecido no falar, no expressar, saturado por imagens que poluem e avassalam nossa visão, parece se sustentar em palavras primeiras, em imagens primeiras. Os poetas dos devaneios cósmicos, para calar o barulho ensurdecedor, recobrem o mundo com a musicalidade das palavras que sonham. É assim que um sonhador de palavras reconhece, numa palavra do homem aplicada a uma coisa do mundo, uma espécie de etimologia onírica, como nas belas frases poéticas:      

Pois, de que será feita a poesia, senão da veia aorta que nos conduz ao peito – do lado esquerdo de dentro – na emoção da palavra gasta, apontada sobre o alvo da flecha? Depois do alvo, da flecha, por certo que estarão felizes os operadores de sonhos a recortar palavras – exaustas – em algodão: poesia qu´inda flutua, aportada ao cais da alma.

Finalmente então, depois desse tempo cinza, haverá um lugar no refazer do amor. N´alguma estrada aberta, onde plantações extensas de esperanças, por ordem dos poetas (esses operadores de sonhos a portar palavras!) - serão colhidas aos montes em novas eras. (CARDEAL, pp.61-62, 2021)    

É extraordinário o encontro das duas poéticas no que se refere o agenciamento de palavras cósmicas, imagens cósmicas que costuram os vínculos do homem com o mundo, mas precisamente da mulher com o mundo. Nas epifanias, a poeta nos arrebata com as duas tonalidades, humana e cósmica, que ao se encontrarem se transfiguram:       

Eu tenho um céu que mora em mim. Ele amanhece e anoitece vez por outra. Gosta de salpicar-se de estrelas, receber algum sol de visita, tem na lua uma amiga confidente pra tristezas escondidas. [...]

No meu céu de estimação os horizontes são fios compridos, feito linhas em novelos, que se estendem desenhando lindos montes, que passeiam sorrateiros, inventando as paisagens dos meus sossegos.

Eu não sei o que dá em mim para ter um céu inteiro inquilino dos meus anseios. Mas eu amo de paixão esse meu céu de estimação. Nele eu penduro estrelas cadentes e sei que um dia elas germinarão desejos inusitados transformados em viventes. Vou seguir acreditando. Porque um céu de estimação é muito mais repleto de infinitos, e os infinitos são maiores, são inteiros.  (CARDEAL, p.28, 2021)  

               O olhar fenomenológico da contista nos convida a vivenciar os paradoxos de uma tomada de consciência de um sujeito maravilhado pelas imagens poéticas da natureza e, ao mesmo tempo, a confrontá-las com o mundo em plena crise com um modelo de civilização que nos empurra para a barbárie. 

Não sei dizer se essa rota será promissora... é o meu delírio do verbo resistir no mundo. Como a lira que delira nas cordas até encontrar o sentido de ser instrumento. Do verbo ‘ser delírio’ (‘de-lira´): a palavra primeira da lira ao dizer o som do mundo.

Sem o GPS das minhas preces a ninguém, serei tão somente um arado ressoando o chão - suprema ausência de sentido nesse imenso mundo cão. (CARDEAL, p. 27, 2021) 

            O confronto acontece no interior da linguagem, por meio de uma consciência crítica criativa. Dentro das imagens poéticas pode estar o germe de um mundo, ou como diz Cortázar, essa fabulosa abertura do pequeno para o grande, do individual e circunscrito para a essência mesma da condição humana. Todo conto que se lança no tempo grande da literatura, é como uma semente onde dorme a árvore gigantesca. Essa árvore crescerá em nós, inscreverá seu nome em nossa memória.

Árvore sementeira

Às vezes me lembro de um tempo em que fui árvore. O momento em que a semente tocou o chão, adormeceu na terra quente, germinou tão de repente, esticou raízes em seu ventre. O tronco subindo em direção aos céus, galhos seguindo livres para todos os lados, folhas verdes abrindo-se em leques sem receios. (CARDEAL, p. 29, 2021)

No conto In-finitudes, o eu que narra contém infinitos particulares que se comunicam entre si e com o mundo:  

Mesmo assim, seguirei descosturando a linha. Desfazendo os nós. Até que todos nós sejamos sonhadores de novos gestos – e uma luz se acenda na cabeceira de uma outra história que se avizinha.

Sonhar é o que importa – ainda que seja um bom retrato em branco e preto pendurado na parede da imaginação. Porque comporta um infinito inteiro. Abaixo. Acima. Dentro. Além das beiras. Bem profundo. Ao abrir as portas de um novo mundo. (CARDEAL, p. 20, 2021)

Bachelard assevera que uma imagem poética nova pode ser o germe de um mundo, o germe de um universo imaginado diante de um devaneio de um poeta. Mas Nic Cardeal não se molda totalmente ao perfil do sonhador de Bachelard, que se entrega de corpo e alma à imagem que acaba de encantá-lo. A personagem que narra em primeira pessoa nos contos é parte encarnada das imagens cósmicas, com as quais opera suas metáforas, seus dialogismos da parte no todo e do toda na parte. O embelezamento se faz nessa relação sistêmica da gênese primordial do planeta, do sistema solar, da Via Láctea:    

De passagem

Estou à procura da melhor parte, em que em mim se acende a palavra propícia para os sentidos da vida. Estreita correnteza de vida própria que me enquadra criatura terrena – do barro, da pedra que veio do alto, do pó respingado do universo, da teia do milagre moído que sobrou dos ossos daqueles tantos vindos ao mundo antes de mim. Sou aos pedaços. Quebra-cabeças em estilhaços. Sou de pedra também sou aço. Sou rio seco sem fundo, mar salgado, ardido, abismo profundo. Sou folha verde, folha seca, grão germinado, semente. Do pó das estrelas dizem que vim. Daqui a pouco vou além, para bem adiante do fim. (CARDEAL, pp. 18-19, 2021)

A cosmicidade das imagens nos convida para experiências simbióticas com o mundo, para além de sua materialidade palpável. Não exatamente um lugar onde o sonhador possa descansar tranquilo, mas onde certamente se sentirá largo, expandido em todos os elementos terra, fogo, ar e água.  Fica patente o devaneio dos ares em todos os seus redemoinhos, bem como as peripécias de uma dialética que vai do universo líquido ao universo aéreo.

Chuvas guardadas

Já não sei se amo mais as chuvas externas ou internas. Ambas solicitam rios. Águas que correm em direção aos mares.

As águas do mundo querem seguir.

Minhas aguas internas pedem passagem.

Se chorei mares outrora, por ora só rio rios. Entre um e outro, meu barco vazio transborda de mim. (CARDEAL, p. 31, 2022)

 

Os olhos chuvosos de Deus

Eu imaginava que as águas caíssem dos céus porque Deus também sentia dores intensas e precisava chorar algumas vezes. Às vezes, muitas vezes.

[...]

Naquele dia aprendi a lição, não por Deus, mas por minha própria solidão a fazer desaguar o coração – foi meu primeiro sintoma de amor. A lição? Em chuvas internas de amor nem Deus se atreve a querer entender a linguagem inútil das lágrimas.

Hoje chove muito. O dia inteiro. Sempre que chove, lembro dessa minha imaginação de outrora – quase criança – e posso ver aquele meu Deus imaginário todo encharcado, espiando d´alguma janela do céu, para ver se estendo meus olhos molhados de tanto enxugar sua dor.  (CARDEAL, pp. 32-33, 2021).

Ao alçar as asas imaginárias, o devaneio do voo nos abre um mundo, portal de desmesurada abertura, o céu é a janela do mundo, e a poeta nos ensina e nos convida a mantê-la aberta de par em par:

Há dias em que me sinto exausta. Pudesse deixar, por um dia apenas, ‘a roupa de viver’ pendurada no varal, tomando um ar, um vento, ao sol, sairia apenas com a alma (e suas asas), a passear entre as árvores, as folhas, as flores e as águas!  Ah, seria tão delicioso esse dia! Um dia de leveza, sutileza, calmaria, em que ela – eu – a alma, compreenderia, enfim, a amplitude, o sentido, o motivo da vida, para muito além dessa concepção limitada e tão paradoxal que nos foi imposta nesse tão raso objetivo de existir...

Confesso. Não sei dizer por que às vezes cansa. Quero minhas asas. E um agosto diáfano, com gosto de brisa. ‘Porque eu continuo a acreditar em anjos, sei que eles existem. ‘ (CARDEAL, p.43, 2021)

No inspiradíssimo conto intitulado Lista de desejos, observamos uma importante declaração de poética, ao mesmo tempo sentimos sopro alusivo dos versos da Flauta-vértebra, do altissonante Vladímir Maiakóvski[5].

Sim, sou egoísta por querer o órgão febril do coração da flauta. Eu quero o outro lado da lua. Esse lado da rua. O meio da rua. A avenida. Estrada de terra batida. A ponta da estrela iluminando o caminho. Os passos tão gastos em perfurados sapatos.

Essa é a minha pauta – a música da (tua) vida. No toque sutil (ou áspero) da flauta. (CARDEAL, p. 15, 2021)

Quando leio essas frases poéticas (ou versos?), lembro-me de passagens do filme Easy Rider[6], ou reminiscências da geração beat, e sua vertente na contracultura dos anos 50.  Mas os parágrafos seguintes nos rementem ao repouso projetado pelas imagens cósmicas que correspondem, seguindo o alegre paladar Bachelardiano, a uma necessidade, a um apetite. Ao invés do mundo como vontade de representação, o mundo como apetite. É o que demonstra o eu narrativo: uma relação antropofágica com o mundo, sem outra preocupação a não ser o desejo de mordê-lo, devorá-lo:

Eu não quero apenas a roupa da carne. Eu quero o corpo, o osso, a veia repleta de vivo vermelho, a seiva que alimenta o peito e lateja o doce e o amargo. Eu quero conhecer tua ferida. O corte da pele, o sangue jorrando em gotas, o choro do ventre, a semente parindo o futuro do indicativo. Eu quero a ruga, a curva, o passo apressado, o olhar tão cansado, a ira impulsiva, a angústia desmedida, a saudade guardada na vértebra esquerda de desesperos entorpecidos. Eu quero o riso, a gargalhada, a alegria, o sonho louco na medida exata. Ou perdida.  

Eu não quero a solidão da palavra. Nem somente a flauta. Eu quero a curva do rio escorrendo enchentes em desejos tão urgentes. E a paciência do tempo favorecendo o despertar da semente. Eu quero o amor que mora na semente – da flauta. (CARDEAL, p. 15, 2021).

O paladar se mostra em potência: cada apetite, um mundo. O sonhador bacherladiano participa então do mundo alimentando-se de uma das substâncias do mundo, substância densa ou rara, quente ou doce, clara ou cheia de penumbra segundo o temperamento da sua imaginação. E a poeta Nic Cardeal certamente vem na pele do sonhador, vem transfigurar em belas imagens o mundo exaurido de realidade, só assim pode compartilhar a saúde cósmica com seus leitores, porque nas imagens cósmicas parece que as palavras do homem infundem energia humana no ser das coisas:   

Ao corpo que me leva de um lado ao outro eu sou deveras grata. Não fosse ele, que seria de mim – solta no ar. Diáfana, fora da gravidade, rarefeita, quem sabe líquida – a olhar por olhos inexistentes a vida a vagar desde a terra removível até a semente? 

Este corpo que me carrega – a minha casa de viver a vida – porção considerável de resistir no mundo até a última gota do sopro de vento que há de virar chuva fininha: garoa miúda lavando a calçada, por onde outrora pisou um dia, feliz, este corpo que me carregou de um lado a outro das minhas esperanças tão ávidas de existência... (CARDEAL, p. 17, 2021).      

De mãos dadas com a tese de Bachelard, enfatizamos que, no grande como no pequeno, o devaneio é uma consciência de bem-estar. Numa imagem cósmica, assim como numa imagem da casa ou da casa almejada pela nossa alma, estamos no bem-estar de um repouso, é o que a narradora de ventanias propõe a si e aos seus leitores.  

As fadas? Ficaram do lado de lá. Os duendes continuam no jardim. Quando chegar minha hora de voltar para casa, eles sabem muito bem que serão outra vez visíveis as minhas asas. Afinal, de que são feitos os sonhos? Eles são feitos de medidas de eternidade, costurando ventanias em asas de borboletas.  (CARDEAL, p.44, 2021)

Podemos assegurar que as imagens extremamente significativas dos contos e crônicas atuaram como uma espécie de abertura, projetando nossas inteligência e sensibilidade em direção a algo que vai muito além do argumento literário. Ao ecoar Shakespeare nos seus versos, Nic Cardeal costura suas ventanias em nossa memória. Como assegura Cortázar, os contos que perduram em nossa memória são aglutinantes de uma realidade infinitamente mais vasta que a do seu mero argumento. Ainda é o contista argentino que nos assevera que um bom tema é como um sol, um astro em torno do qual gira um sistema planetário de que muitas vezes não se tinha consciência até que o contista, astrônomo de palavras, nos revela sua existência.  E é assim que me sinto: girando maravilhada nos devaneios das ventanias cósmicas.

 

 Referências bibliográficas

BACHELARD, Gaston. Devaneios cósmicos. In.: A poética do devaneio. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1996, pp. 165-205.

CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In.: Valise de cronópio. Trad. Davi Arriguci Jr. e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2006. pp. 154-157   

POUND, Ezra. A arte da poesia – ensaios escolhidos. Trad. Heloysa de Lima Dantas e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1998. pp. 37-39.



 


[1] CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In.: Valise de cronópio. Trad. Davi Arriguci Jr. e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2006. pp. 154-157    

[2] BACHELARD, Gaston. Devaneios cósmicos. In.: A poética do devaneio. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1996, pp. 165-205.

[3] POUND, Ezra. A arte da poesia – ensaios escolhidos. Trad. Heloysa de Lima Dantas e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1998. pp. 37-39. 

[4] Para girar com segurança as chaves interpretativas do livro de Nic Cardeal, valemo-nos da imprescindível intertextualidade parafrásica de fragmentos do Capítulo V Devaneio e cosmo, do livro A poética do devaneio, de Gaston Bachelard.  

[5] Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
(Trad. Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman).

[6] Filme de Dennis Hopper, EUA - 1969. Elenco: Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

OUTUBRO, POR FLAVIA FERRARI

 




POESIA NA REDE|06


OUTUBRO

                                                                                                 Por Flavia Ferrari


mergulho-risco quando pixo – Nina Rizzi*

 

é preciso cuidar bem do coração
te mando um salve enquanto
os manos incendeiam uma viatura aqui na rua
é preciso politizar a ferida
com a mão inteira acariñar a chispa
que arde fundo cá dentro. dá-me tua mão
é preciso cuidar bem do coração

 

 

            O poema de Nina Rizzi, especialmente no verso “é preciso politizar a ferida”, nos convida a pensarmos sobre o destino que podemos dar a todas as nossas feridas. E são muitas! A rede tem mostrado as inúmeras reações de indignação, revolta, tristeza e desesperança ao crime bárbaro de estupro, cometido por um médico contra uma paciente durante o parto. A questão sobre ser mulher no Brasil (e também no mundo) carrega em si todas as violências prováveis e possíveis que diariamente vemos – ou imaginamos – no nosso cotidiano.

            A mudança que queremos, que desejamos, que sonhamos, assim como a transformação social e cultural necessárias para vivemos em uma sociedade menos violenta e mais igualitária para todos os gêneros passa também pela esfera educacional, política, econômica e jurídica. Transformar e transformar-se é tarefa coletiva e em uma época de individualismos celebrados, um dos caminhos para a mudança é valorizar os grupos que têm propostas de ações sociais para reduzir as desigualdades.

            Somos seres políticos e agimos no mundo de acordo com nossas convicções, motivações e valores. Outubro é o mês em que todos nós iremos às urnas escolher os novos representantes do poder executivo e também legislativo. Engajar a juventude, divulgar nossas ideias, argumentar sobre o que acreditamos e desejamos visando eleger políticos que efetivamente trabalhem para reduzir os problemas sociais é uma forma de luta que está ao alcance de todas, todos e todes. Assim como a poesia. É urgente escrever! Para não sucumbirmos ao abismo que se anuncia. E para não nos esquecermos: “é preciso cuidar bem do coração.”

 

 

 

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Referência: *Nina rizzi é escritora, tradutora, pesquisadora e professora. Formada em História pela UNESP e Mestra em Literatura Comparada pela UFC. Traduziu obras de Alejandra Pizarnik, Susana Thénon, bell hooks, Alice Walker, Ijeoma Oluo, Abi Daré, entre outres. É autora de tambores pra n’zinga, a duração do deserto, geografia dos ossos, quando vieres ver um banzo cor de fogo e sereia no copo d’água e do infantil A melhor mãe do mundo; nasceu em Campinas e vive em Fortaleza há 15 anos, onde faz laboratórios de escrita criativa com mulheres e integra as coletivas Pretarau - Sarau Das Pretas e Sarau da B1. Poema “mergulho-risco quando pixo” disponível em https://www.cemanade22.com/homenagens/nina-rizzi



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