Mostrando postagens com marcador Margarida Montejano. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Margarida Montejano. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 23 de março de 2022

TRILOGIA DAS DEUSAS - A MENINA, A MULHER E A BRUXA


                            Baixe o edital clicando AQUI

TRILOGIA DAS DEUSAS - A MENINA, A MULHER E A BRUXA


 Por Margarida Montejano

Patricia Cacau

Agora vamos para trilogia.

Virgem (Se Essa Lua Fosse Nossa)

Mulher na fertilidade (Ciranda de Deusas)

Mulher na sabedoria (I Tomo das Bruxas)

A mulher nas 3 fases da sua existência.

Formando o tripé*

 

Se essa Lua fosse Nossa

 

É manhã… muito cedo ainda…

Me ponho a olhar. Fixo os meus olhos e, a retina enfeitiçada vê a menina faceira, virgem, cheirando a alecrim e à flor de laranjeira.

 

Maria, Isabel, Marta, Teresa… Quanta energia, quanta beleza!

 

Leve e solta, canta com o sol e o vento.

Corre feliz entre os campos e, de espírito livre com flores se enfeita, na relva se deita!

Oh criatura divina que a lua do céu ilumina! 

Que da boca escorre mel! Que ofusca as estrelas do céu!

 

Fátima, Conceição, Imaculada,

Margarida e Rosário…Fiam a noite, tecem o dia, experimentam a vida!

 

Vejo  outra menina igualmente bela,

preta, branca, vermelha, amarela,

a desfilar sua singularidade entre carros e arranha céus!

Seja no campo ou na cidade ou, de qualquer ponto do universo,

as meninas encantadas, perfumam as noites estreladas 

e  à lua, declaram em prosa e verso o seu amor no papel.

Numa aquarela, seduzem, inspiram… ah se essa lua fosse nossa!

Enternecidas, cantam o amor próprio e viajam para a lua, a Consolação, a Rita de Cássia, a Glória e a Aparecida!

 

Uma Ciranda de Deusas

Afastem de mim a sua Filosofia!

Joguem fora estas Poesias de Amor!

Tessalonicenses 4:16-18

 

É tarde, mas… cedo ainda para ela. Para elas!

Pego-me a admirar a formosa mulher que de botão, flor se fez. Faz de conta que o tempo não passa e a bela corajosa, canta espantando os males e as tardes ensolaradas, encanta.

 

Da Penha, Ana, Das Dores, Gorete e Catarina, aos olhos da mãe em noite de lua, são elas ainda meninas

 

Com a alma lavada nas noites enluaradas, escreve receitas, rabisca poesias, aprende com os erros, acalma o vento e, do tempo, os temores.

Ensina o amor e inventa a esperança.

O tempo e as agruras da vida, enfrenta.

Seguem Ana, Madalena, Clara e Remédios, o caminho das pedras, no enfrentamento das dores.

 

Luta na labuta do dia e sonha na candura da noite.

Destemida, cuida da casa, da roça e das crias.

Tão fértil é ela que gesta em seu ventre a luz

e, o dia é pouco para o tanto que faz!

Ela, somente ela é capaz de, ao mesmo tempo, três verbos conjugar - amar-perdoar-seguir. 

 

Rosa, Edwirges, Luzia, Patrícia  e Helena…

tão sensíveis, tão combativas e, ao mesmo tempo,  tão serenas…

 

De versos, coragem, abraços e afetos faz rimas.

Da o colo, o ombro, faz serestas, cantigas e poemas às amigas!

Poderosa faz ela o que bem quiser e,

numa ciranda de deusas, dança e dança a madura mulher.

Chora a dor do mundo, enfrenta o ódio gratuito, o machismo, o desemprego, a fome. Sangra, teme, enfrenta os dilemas, as tempestades e não desanima. O corpo endireita, se veste de sol, põe estrelas no cabelo e a terra germina. É ela a menina, a deusa, a mulher!

 

 

I Tomo das bruxas

 

Há quem passe pelo bosque

e só veja lenha para a fogueira.

Há quem veja VIDA. 

Jéssica Freires

 

Lá vem a noite e, para ela, para elas… é cedo ainda!

Ouço atentamente. A bela senhora conta histórias com sabedoria e, sua voz reverbera no ontem, transita no hoje e se põe a sonhar o amanhã.

As histórias que compôs, que viveu, que contou e que ainda estão guardadas em seu íntimo, inspira e ilumina as mulheres, jovens e meninas, durante o luau…

 

Ela, com o sol sobre os pés, revestidas da prata da lua, viaja no tempo e busca, nas origens das origens, o grão de terra que a constitui e, ao invocar o chão ancestral, encontra as ervas para todas as curas, as palavras certas para todas as situações e a reza devida, para o livramento dos males.

 

A mulher madura, na altura da idade que carrega, respeita a hora de falar, pois aprendeu com os anos, com o peso da lenha nas costas, a lata cheia d'água na cabeça e os tombos do tempo, a arte da escuta. Os olhos delas são parceiros dos ouvidos e os lábios, quando se abrem, trazem a palavra sabedoria.

 

Para além da filosofia, não é à toa que as mãos, sabedoras das medidas exatas preparam os chás, caldos e quitutes mais sofisticados do mundo e, com docilidade essas mãos, quando tocam a parte que dói nos corpos doentes, são capazes de curar. Com reza, alecrim e guiné, fazem poesia.

 

Não é à toa que essas incríveis criaturas são tão temidas! Pois, se são capazes de suportar a dor com resiliência, de enfrentar o machismo secular e de defender com unhas e dentes a causa a que acreditam, o que mais elas podem fazer? Ah! Elas podem muito, desafiam a ciência as tais feiticeiras! Elas podem, quando de mãos dadas, mudarem o mundo!

 

Na dúvida, melhor silenciá-las!

 

Assim tem se revelado as duras estatísticas do feminicídio.

Ato que substitui a fogueira e demonstra a covardia daqueles que se acham mais fortes.

Covardes eles são!

Malditos! Estes não são dignos de desatar as sandálias dessas maravilhosas bruxas do nosso tempo!

 

À  todas as mulheres que viveram, lutaram e se foram antes de nós! À Joana D’arc, a Carolina de Jesus; Irmã Dulce, Dorothy Stang; Zilda Arms, Márcia, Joene, Marielles, Elzas e a todas as Marias do mundo! O nosso respeito, admiração e reverência!

 

Estamos aqui por elas, por nós e pelas que ainda virão. Continuaremos a marcha por uma e por todas. A luta que a força bruta não estanca. O amor e o poder feminino que a tirania não vence! Seguiremos confiantes de que, na mistura perfeita da semente humana e divina, o ventre da terra haverá de gestar um mundo em que todos tenham um lugar.

Um lugar para viver dignamente e sem preconceitos, amar!






quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

A PALAVRA, A POESIA E O FEMININO DE TUDO: ASSIM SOMOS

 


A PALAVRA, A POESIA E O FEMININO DE TUDO: ASSIM SOMOS


 Por Margarida Montejano


Mar.. mar.. maravilhoso artigo da divina Elizabete Nascimento, publicado neste Feminário, que brota após a experiência das belas mesas enluaradas!

Um mar de palavras, sentidos e conexões! Um mar que guarda as águas calmas,  bravias e serenas das mulheres do nosso tempo, revestidas de tantos outros tempos.

Pensei no femino-masculino que Bete descreve!

Pensei na força da Deusa Selene! Nos movimentos que provoca no mar. Na palavra mar.

Ilustração Deusa Selene de Daniel Firmino - danielbrafir@gmail.com - para a Coletânea II: uma Ciranda de Deusas (Sarasvati Editora, 2021)

Pensei no mar de Neruda e na sua mãe Rosa Basoalto! Pensei na peneira que carregava água, de Manoel de Barros e, em Alice Pompeu, sua mãe. Voltei a  ler o artigo “O abismo sublime das enluaradas: a poética do abraço” no Feminário Conexões, e  novamente pensei em Neruda. Mergulhei no seu mar. No mar de palavras  e nas ondas da escrita reordenei as ideias e refleti sobre  as mulheres e homens que se arvoram a escrever. Pensei nas mães, avós e nas tantas antepassadas que nos constituíram e nos constituem. Pensei no que somos.

Lembrei-me, madrugada adentro, de Carlos Drummond de Andrade, de Gabriel Garcia Marques, Chico Buarque, Paulo Freire, de Adelias, Cecílias, Rutes, Martas, Patrícias e as tantas Marias que somos.  Pensei em suas mães, em nossas mães, avós, irmãs,  filhas,  tias, primas e amigas!

Que constatação me bateu, poetas?

Que neste mar de linguagens e poesia que culmina no universo femino-masculino, há sempre uma mulher. Uma grande mulher! Ah! Não fosse essa inspiração…! Essa parte feminina tão presente neles e em nós!

Eis aí a experiência da vida em Gaia nos provando que a mãe é mulher. Que a palavra é mulher! Que a vida e a gestação de tudo  é mulher.

Ilustração Deusa Gaia de Daniel Firmino - danielbrafir@gmail.com - para a Coletânea II: uma Ciranda de Deusas (Sarasvati Editora, 2021)

Meio dormindo-acordada, pensei no infinito amor, que faz germinar, nascer, crescer  e que, constitui a beleza de tudo o que há debaixo do céu, no fundo das águas e acima da terra. No  feminino em canção!

Daí a beleza das coisas. Daí a poesia da vida, me provam as Enluaradas!

Somos, pois, reflexos da Grande Senhora que passeia nas Brumas… Somos, na festa da natureza, a fertilidade do solo, as mulheres que correm com lobos. Que uivam e se transformam em defesa da cria e da criação de si. A feitiçaria da poesia que brota de nosso ser!

Somos a natureza divina e, em essência, somos a nossa ancestralidade.

Nas coletâneas Enluaradas e no mar de poesias desse coletivo feminino me vi no 1º FLENLUA… Me encontrei nua, banhando nestas águas que me mostram, como diz Elizabete em seu artigo recheado de beleza, que sou una e múltipla.  Assim, as águas deste mar de escritas e de vida  fazem com que eu me sinta mulher valorosa, empoderada da palavra e da possibilidade de senti-la, de escrevê-la e de dizê-la. Livre! Fazem com que eu assim,  “seja”!

Mas… só “sou” com vocês. Assim somos neste coletivo constituído de outras mulheres Enluaradas de hoje, de ontem e do amanhã.

*_*    *_*    *_*

Baixe GRÁTIS o e-book Coletânea II AQUI
Baixe GRÁTIS o e-book Coletânea I AQUI

Conheça o projeto N'outras Palavras, de Margarida Montejano. 



 


terça-feira, 12 de outubro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poema de Margarida Montejano


EMPOEME-SE EM POESIA
/19



Leitura de Marta Cortezão

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


RELEITURA EM MEIO ÀS BRUMAS


Toco-me. Examino seios e mamilos.

Cenas que se repetem frente ao espelho.

Vejo-me lúcida e real. Vincos e sulcos marcam meu rosto,

desenham nele minhas experiências, minhas dores e amores.

Tento decifrar o meu ser e ponho-me a escrever quem eu sou. 

Retrato-me. Rascunho um poema de mim e um texto assim me desvela. 

Sou ela. Sou eu. Menina, moça, mulher. Assim me revelo 

na imagem e semelhança da grande senhora.

Viajo às terras de Avalon e, como uma ninfa, me deito 

e me entrego às festas da natureza.  Nas brumas, enxergo. 

Sou a natureza.


Percebo-me. Releio-me:

Sou a louca do dia

quando defronto-me com injustiças.

Brigo. Grito e saio em defesa do que acredito ser certo.

Sou a loba da noite

quando, em insônia, perambulo pelas ruas 

à procura de respostas às incógnitas da sorte.

Sou a santa que vela pelos incautos e puros. 

Oro por eles em silêncio sem que me vejam.

Sou a devassa que diz as regras, 

quando o machismo impera.


Sou a  deusa que se dá sem reservas, 

pois o amor é doação.

Sou a madrasta que diz não,

quando a regra é dizer sim.

Sou a lágrima sincera,

o sentimento profundo.

Sofro como mãe, a dor do mundo

e na morte, sou a vida.

Sou a dor, a lágrima. O riso livre.

As regras das meninas

que chegam sem dar aviso.


Sou o viso na inocência

cambaleante da adolescência.

Sou a ancestralidade

da mãe, da filha, da prima,

da tia, da avó.

Sou mulher

que não remedeia, faço tudo por inteiro.

Sou, em essência divina,

Deus traduzido 

no corpo, na alma

e na veia.


Sou a deusa de toda hora

para toda obra, porque…

sabedoria é também senhora!

Sou poesia, canção

e a entonação das sereias.

Sou lua cheia, minguante e nova,

cresço e encanto em cada fase.

Sou eu, sou você, somos nós

numa só voz e, de mãos dadas, seguimos

juntas, na caminhada.

Somos a estrada, a surpresa e a alegria da chegada.


Somos o tudo e o nada. 

Somos a contradição, mas somos nela o amor.




Feminário Conexões, o blog que conecta você!

EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

  Clique na imagem e acesse o Edital II Tomo-2024 CHAMADA PARA O EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS: CORPO & MEMÓRIA O Coletivo Enluar...