LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|18
Há um ano atrás participei de uma das várias fotos tiradas em várias partes do Brasil para o registro histórico de escritoras brasileiras. Hoje, tendo em mãos o livro com nossas fotos contando um pouco sobre esse movimento, me vem à memória como foi viver esse dia tão simples, porém tão mágico.
A foto das escritoras cariocas estava marcada para 12 de junho, domingo de dia dos namorados. Eu soube do evento poucos dias antes e fiquei tão animada que já tinha até uma playlist pronta para ouvir no dia enquanto me arrumava. Tentei chamar algumas escritoras que eu conhecia, mas nenhuma poderia ou queria ir por conta da data. Fui sozinha e fui feliz.
Cheguei cedo na escadaria do Theatro Municipal e comecei a conversar com outras escritoras que já estavam lá, aguardado o horário da foto. Conversa vai, conversa vem, o grupinho foi aumentando e, coincidentemente ou não, notamos que éramos todas solteiras ou divorciadas. Apenas uma de nós estava em um relacionamento, porém teve uma manhã conturbada porque insistiu com o namorado que era "foto primeiro, dia dos namorados depois". Ela nos contou um pouco do acontecimento e concluiu: "Depois dessa foto, nem sei se ainda tenho namorado". A história era triste, mas ela estava tão feliz de estar ali que não parecia se incomodar com o desenrolar do resto do seu dia. Mais tarde, não pude deixar de observar a quantidade mínima de casais que estavam ali, apoiando sua parceira naquele momento histórico.
Para muitos pode parecer irrelevante, "só mais uma foto", "só mais um livro", mas esse momento fez parte de uma pesquisa para o levantamento da quantidade de escritoras brasileiras nesse momento da nossa história. Todas as mulheres participantes do evento agora fazem parte do registro histórico de escritoras brasileiras e todas nós, mesmo as que não estão na foto, somos parte da construção dessa história por insistirmos e resistirmos com nossos escritos.
Quando chegou a hora da foto e vi que praticamente fechamos a escadaria do Theatro, senti uma emoção indescritível. Eu não conhecia nenhuma daquelas mulheres e, ainda assim, me senti parte daquele grupo. Já houve grupos em que participei anos sem de fato me sentir parte e ali, cercada de mulheres desconhecidas, me senti rapidamente integrada. A sessão de fotos durou uns 20 minutos e assim que fomos liberadas fui direto para casa porque o tempo estava com cara de que ia cair aquela chuva.
Agora folheio o meu exemplar de Um grande dia para as escritoras — Autoras do Brasil mostram a cara (que você pode comprar aqui) relembrando esse dia (que tem várias fotos aqui) marcante não só para minha memória, mas para a história.
Adorei o texto! Parabéns, Carollina!
ResponderExcluirBelo texto Carolina ! Esse momento histórico nos conectou e mandou um recadinho para o mundo: A escrita brasileira usa batom! Amei a ideia do livro!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirLinda história, Carollina Costa! Escritoras ocupando os espaços e apoiando tantas outras. A utopia é o caminho a seguir! Parabéns!👏🏽👏🏽
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