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domingo, 3 de outubro de 2021

NAS TEIAS DO POEMA VII: TECENDO EPIFANIAS POÉTICAS

 



NAS TEIAS DO POEMA VII: TECENDO EPIFANIAS POÉTICAS

Por Marta Cortezão

 

La poesía no es una sucesión de experiencias sino una sucesión de visiones[i]

 

{Ana Blandiana[ii]}

 

No sétimo episódio de hoje, lá no canal do Youtube Banzeiro Conexoes, mergulharemos, uma vez mais, nestas teias que nos fazem presas fáceis de um poema, seja como leitor(a), seja como escritor(a). Todo poema é linguagem que revela e se revela, porque não tendo nada a dizer, apenas sugere. No campo amplo da sugestão, podemos mergulhar nas inúmeras formas e dimensões epifânicas. E o que seria esta tal epifania? No dicionário Aurélio, encontramos as definições: revelação a partir de algo inesperado; percepção intuitiva; aquela ideia e/ou insigth genial que resultou de uma epifania. De forma geral, uma revelação de um estado do ser que roçam as dimensões do mundo divino e espiritual.  

Não é fácil definir a epifania, mais difícil ainda seria estabelecer diferenças entre esta tênue linha que divide, e ao mesmo tempo, une os campos semânticos e pragmáticos do sublime e do epifânico. Assim que nos conformamos com senti-la, mergulhando nas teias que tecem o fazer poético, conjugando percepção sensorial e emoção, porque se nos deixamos levar pela razão, pode que não ultrapassemos o lugar comum e percamos a possibilidade de criar “modelos para a sensibilidade e para o pensamento analógico. Uma poesia nova, inovadora, original, cria modelos novos para a sensibilidade nova[iii]” (PIGNATARI, 2005, p.53). A epifania é aquele átimo de luz que nos permite sentir/vi(ver) o mundo que nos cerca com olhos gozosos de metáfora, na incompreensível intimidade que foge às explicações lógicas e nos expande corpo e alma.

O que o olhar capta, transcende e nos toca internamente, expandindo os sentidos e fascinando o espírito. Quando os olhos alcançam e capturam o alvo desejado, em estado de encantamento, toda e qualquer banalidade toma corpo poético. Quantos poemas habitam nosso silêncio? Que paradoxo misterioso abriga o poema? Quando não dizer é sugerir oceanos de significados? O poema é terra de absurdos, onde a única poesia é o não dito, é o mistério inalcançável, morada do inefável. Com razão, afirma Ana Blandiana, “la poesía no se puede inventar sino que hay que descubrirla[iv]”. Vamos?

Para caminhar por estas sendas e mistérios da Poesia, a mediadora Marta Cortezão, estará na companhia das autoras:

BELISE CAMPOS [Curitiba/Paraná] nasceu em 1991. É contista, mas também se arrisca na poesia. Escreve desde criança. Publicou nas Revistas LiteraLivre e Toma Aí Um Poema. Leitora ávida dos autores russos e dos poetas românticos. Formada em Psicologia pela Universidade Positivo, com especialização na Universidade da Colúmbia Britânica;

CAROLINA FERREIRAFarmacêutica de formação e fotógrafa, escreve desde pequena e considera a arte uma grande parta de sua vida e parte principal de suas atividades. Apaixonada por como as palavras conectam pessoas e ideias e de como elas abrem porta para a maneira de enxergar o mundo;

FLAVIA FERRARI [Santana de Parnaíba/SP] é professora, escritora e poeta. Escreve contos infantis desde 2014. Estreou na poesia escrita em 2020, no início da pandemia. Antes seus poemas eram apenas pensamentos e sonhos. Teve poemas publicados pela Escrita Cafeína e pela Toma Aí Um Poema.

JÉSSICA IANCOSKI publicou em várias antologias e revistas, nacionais e internacionais. Teve o poema “Rotina Decadente” reconhecido pela Academia Paranaense de Letras, aos 16 anos. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias e, também, revista literária digital. Nasceu em Curitiba/Paraná em 1996.

Que tal VOCÊ nos fazer companhia em mais esta aventura poética!? Não esqueça: sua companhia é sempre muito bem-vinda!

 


[i] A poesia não é uma sucessão de experiências, mas uma sucessão de visões. Citação retirada do blog “Literatura y Cine”, no site https://hombreenlaoscuridad.blogspot.com/2019/09/la-poesia-de-ana-blandiana.html

[ii] Pseudónimo da romena Otília Valeria Coman, escritora, poeta, ensaísta, uma das consciências cívicas e artísticas mais importantes da contemporaneidade.

[iii] PIGNATARI, Décio. “O que é comunicação poética. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005.

[iv] Entrevista com Ana Blandiana, no site https://prodavinci.com/la-poesia-puede-salvar-el-mundo-entrevista-con-ana-blandiana/

sábado, 18 de setembro de 2021

NAS TEIAS DO POEMA VI: DOS MATIZES DA LINGUAGEM

 


NAS TEIAS DO POEMA VI: DOS MATIZES DA LINGUAGEM

Por Marta Cortezão

 

A melhor maneira de ver uma obra literária não é como um texto com sentido fixo, mas como matrizes capazes de gerar todo um leque de significados possíveis. Mais do que conter significados, a obra os produz. 

{Terry Eagleton, in Como ler Literatura}

 

O Nas Teias do Poema VI, de hoje, pretende discutir a linguagem como esta dinâmica colcha de retalhos, dotada dos matizes mais diversos que permitem o fazer poético. É através da função literária da linguagem, que renovamos este mundo vivo à nossa volta e outros tantos mundos internos que nos habitam. A chave do fazer poético está na dedicação consciente de como costurar estes retalhos e construir esta colcha diversa e viva de palavras. Charles Peirce, pai da Semiótica moderna, afirma que “o poeta faz linguagem para generalizar e regenerar sentimentos” (PIGNATARI, 2005, p. 10). Cada poema que se constrói tendo em conta este labor literário é um corpus vivo em contínuo diálogo com o mundo e vice-versa. Décio Pignatari, em seu livro O que é comunicação poética (Ateliê Editorial, 2005, p. 11-12) afirma que  

o poema é um ser de linguagem. O poeta faz linguagem, fazendo poema. Está sempre criando o mundo. Para ele, a linguagem é um ser vivo. O poeta é radical (do latim, radix, radicis = raiz): ele trabalha as raízes da linguagem. Com isso, o mundo da linguagem e a linguagem do mundo ganham troncos, ramos flores e frutos. É por isso que um poema parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo. É por isso que um (bom) poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade. É por isso que um poema, sendo um ser concreto da linguagem, parece o mais abstrato dos seres. É por isso que um poema é criação pura – por mais impura que seja”

Eis a pulsão que nos impulsiona à criação e à recriação da linguagem, este importante instrumento criado pela humanidade e que, ao passo que nos (re)cria a cada teia, também nos (des)tece a vida, pois estamos sempre em busca de ressignificar este universo dinâmico da linguagem. Parafraseando o ensaísta norte-americano Noam Chomsky, passamos toda uma vida articulando uma infinidade de sentenças frasais que nunca antes haviam sido ditas ou sequer ouvidas. Vivemos para (e pela) a linguagem.

E para (des)tecer estas TEIAS DO POEMA, estaremos na companhia das queridas poetas que compõem a COLETÂNEA ENLUARADAS II: UMA CIRANDA DE DEUSAS:

LINDEVANIA MARTINS é maranhense, poeta, prosadora, pesquisadora, mestra em Cultura e Sociedade, mestranda em Direito Constitucional e defensora pública de defesa da mulher e população LGBT em São Luís do Maranhão. Possui quatro livros publicados, além de contos e poemas em diversas revistas e antologias. Ama livros, café e tardes chuvosas;

MALU BAUMGARTEN é escritora, fotógrafa e jornalista, estrangeira onde quer que esteja. Divulga seu trabalho no projeto multidisciplinar online Nós e Outras. Recentemente publicou no Correio de Povo de Porto Alegre, e nas mídias online Revista Escape, Parênteses e Notícias Gerais. Vive em Toronto com seu parceiro, o fotógrafo Joseph Freeman e o gato George. Não come animais;

RAQUEL BASILONE escreve embrulhos, pequenas mensagens cuja digestão pode não ser tão imediata. É formada em Ciências Sociais. É sapatão, militante LGBTQIA+.

 

Esperamos por VOCÊ!

 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

NAS TEIAS DO POEMA V: NOS FIOS DA 'ALQUIMIA DO VERBO'

 



NAS TEIAS DO POEMA V: NOS FIOS DA 'ALQUIMIA DO VERBO'

 

Para escrever rápido, há que ter pensado muito; ter levado consigo um tema no passeio, no banho, no restaurante, e quase na casa da amada. (...) Cobrir uma tela não é carregá-la de cores, é esboçar de modo leviano, dispor as massas em tom ligeiro e transparentes. A tela deve estar coberta – em espírito  no momento em que o escritor toma  a pluma para escrever o título.

 {Charles Baudelaire, in Conselhos aos Jovens Literatos}


Por Marta Cortezão

 

Em mais um episódio, pretendemos falar sobre as teias que (des)estruturam a urdidura do poema, sobre estes fios que se forjam na linguagem expressiva que a poesia exige de cada punho que a escreve. Destes campos da emoção, onde a palavra brota, ganha corpo e existência no labor da pluma.

Mas há também o outro lado da questão, pois muitas vezes nos bloqueamos diante de um texto. O que fazer? Tem alguma experiência para contar? Foi possível encontrar a melhor solução para aquele(s) verso(s) amétrico(s)? É importante também refletir como nossa visão de mundo pode limitar nossa capacidade de criação poética. É possível romper estes limites? De que forma? É importante também arvorar-se dos conhecimentos linguísticos e conhecer as “malandragens e sacanagens” escondidas no substrato da língua, as quais nos permitem adentrar e/ou nos aproximar daquilo que Rimbaud denominou de “alquimia do verbo”, o que compreende o esvaziamento do signo verbal, pois para este autor o fazer poético conserva um quê de irracionalidade.

Charles Baudelaire considera a inspiração fruto do trabalho diário, mas, dadas às devidas proporções, inspiração e expiração são dois opostos que se completam:

 

Estes dois contrários não se excluem em absoluto, como todos os contrários que constituem a natureza. A inspiração obedece, como o homem, como a digestão, como o sonho. (...) Se se consente em viver numa contemplação tenaz da obra futura, o trabalho diário servirá à inspiração, como uma escritura legível serve para aclarar o pensamento, e como o pensamento calmo e poderoso serve para escrever legivelmente, pois já passou o tempo da má letra.

 

E você já parou para pensar de que forma se dá seu processo de criação poética? Encontrou alguma resposta convincente? Em como a abstração do signo ganha corpo em seu “fazer poético” e passa à tela do computador/celular/tablet, ou ainda, à branca folha do papel? Você, assim com Baudelaire, já levou as teias de um poema à cama, a um passeio, a uma reunião familiar ou a outro lugar qualquer?

 

E para pensar estas TEIAS DO POEMA, convidamos as queridas poetas que compõem a COLETÂNEA ENLUARADAS II: UMA CIRANDA DE DEUSAS:

 

DANI ESPÍNDOLA é poeta, tradutora e professora de língua inglesa e portuguesa. Em 2020, lançou seu e-book de poesia chamado “TANTO FIZ QUE DEU POEMA” (download gratuito) e publicou cerca de 300 poemas em suas redes sociais. Atualmente, dedica-se à escrita de seu novo livro de poemas, prosa-poética e microcontos;

 

ELIZABETE NASCIMENTO é Doutora em Estudos Literários pela Universidade do Estado de Mato Grosso/ PPGEL- UNEMAT. Autora de livros, com participação em diversas coletâneas literárias (poesia) e Membro do grupo de Pesquisa: Poética Contemporânea de Autoria Feminina do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, UNIR/Universidade de Rondônia;

 

MARIA DA PAZ FARIAS é mãe de Amanda e Servidora Pública do Judiciário Federal, com formação em Direito e pós-graduação em Direito Social. Cearense, nascida no Sertão do Ceará, reside em São Paulo desde 1992. Gosta de escrever por hobby.

 

Esperamos por VOCÊ!


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

NAS TEIAS DO POEMA IV: ENTRE FIOS E METÁFORAS


 

NAS TEIAS DO POEMA IV: ENTRE FIOS E METÁFORAS

 

Aos poucos - e lentamente - minha aranha começa o seu bordado. Sobre o espaço do papel vazio uma geometria exata vai se formando. Ela amarra na beira da folha a ponta do fio e puxa até a outra extremidade. Sua primeira escrita tem que ser forte para suportar o peso da espiral, que brota infinitamente de seu ofício.

{Bartolomeu Campos de Queirós, in O Fio da Palavra, 2012, p. 24}


Por Marta Cortezão  


Em mais um episódio de NAS TEIAS DO POEMA, nos encontramos, debruçadas às nossas janelas virtuais, para (re)pensar a arte do fazer poético, percorrer o tecido plural que se (des)trança nos fios do poema. Esses fios, essas rememorações e/ou reflexões que dão vida à fluência e ao significado da palavra latente, que se nutre no poço de desejos sem fundo, alojado na alma do/a poeta. Toda esta ação/reflexão de “fiar a seda” constitui a tessitura de nosso próprio ofício: a escritura.

A aranha está presente na mitologia de várias culturas e é um símbolo culturalmente diverso. Ela também simboliza a feminilidade por estar associada à Deusa Selene (Lua) e aos mistérios da fertilidade. Está associada à criatividade, à técnica, à arte – do grego techné (fazer) – portanto relacionada ao trabalho criativo e laborioso do punho do(a) escritor(a).

O fazer poético é um processo solitário, feito de muitos silêncios, abdicações, paciência, astúcia, persistência. Portanto, assim como Bartolomeu Campos de Queirós, abraçamos a força significativa desta metáfora, deveras instrutiva, para dizer que o(a) poeta é uma introspectiva aranha que fia cuidadosamente a base de sua teia, com o objetivo de alcançar o centro de sua obra. Ou ainda, aproveitando-nos da pluralidade semântica do mito grego de Aracne (transformada em aranha por desafiar a imortal deusa Atena, foi condenada para sempre a tecer para existir), nos atrevemos na seguinte analogia poético-existencial: ser poeta é condenar-se, no 'para sempre' de sua escritura, a fim de fiar as ilusórias teias de sua real existência.     

E nestas TEIAS DO POEMA e das redes sociais, estaremos acompanhadas das poetas:

HELIENE ROSA trabalha há anos com a linguagem, é poeta, professora e pesquisadora. Em 2016, foi premiada no Concurso Calendário, em Uberlândia/ MG. Depois disso, participou de diversas antologias poéticas e recebeu muitos outros prêmios. Desde então, ela faz da poesia o seu caminhar.

ISA CORGOSINHO – de Brasília/ DF – é professora universitária aposentada, poeta. Mestre e doutora em Teoria Literária pela UnB/Universitàdi Roma – Sapienza. Tese sobre Italo Calvino e autora de artigos e ensaios sobre literatura nacional e italiana. Escreve poemas desde 2003. Participou da Coletânea Colheita 5 – Celeiro Literário Brasiliense, Leia-me. (editoraArts Letras, 2020). Coletânea enluaradas I, 2021. Livro Memórias da pele. Mulherio das letras, Coleção III, (Vienas abertas, 2021);

LUCILA BONINA é natural de Manaus, mas reside em Vargem Grande Paulista/ SP. Desde sempre as artes da palavra povoam seu universo pessoal com histórias, poesia e música. É professora de Língua Portuguesa, Mestre em Letras e Artes e narradora de histórias. Publicou poesia nas Coletâneas Enluaradas Se essa lua fosse nossa; Coletânea I do Mulherio das Letras na Lua e Coletânea 2021 do Mulherio das Letras Portugal.

Esperamos por VOCÊ para tecermos estas teias!


sexta-feira, 30 de julho de 2021

NAS TEIAS DO POEMA III: O (IN)CORPÓREO DA PALAVRA

 


NAS TEIAS DO POEMA III: O (IN)CORPÓREO DA PALAVRA

 

a grandeza da poesia não reside em dar respostas aos problemas humanos, mas em interrogar o mundo, expressando em forma de arte seus absurdos.

[Salvatore D`Onofrio, in Literatura Ocidental: autores e obras fundamentais, 2000]


Por Marta Cortezão 

Nas Teias do Poema é mais uma ação do Projeto Enluaradas, direcionado a todas as autoras inscritas na Coletânea Enluaradas II: uma Ciranda de Deusas, ainda com edital aberto até 01/AGO (domingo). Com este quadro, pretendemos conhecer a poética das autoras,  dialogar sobre o nosso fazer literário e ainda divulgar e promover a Literatura Contemporânea. Nossas deusas convidadas de hoje são:

Adriana Teixeira Simoni, gaúcha de Porto Alegre/ RS, graduada em serviço Social, musicista, blogueira, escritora , contista e poeta . Mantém ativo o Blog Vida que te quero bem com poesias, contos e crônicas. Tem participação em várias antologias nacionais e internacionais com poemas, contos e relatos.

Cristiane de Mesquita Alves (Belém/ Pará) é doutora em Comunicação, Linguagens e Cultura (UNAMA/ Bolsista Prosup/CAPES). Professora Adjunta de Literatura Hispanófona do ILC/UFPA. Autora de livros acadêmicos e o de poesias Riscos de Mulher (Ed. Todas as Musas).

Janete Manacá (Cuiabá/ MT) encontra na escrita uma fiel aliada. De mãos dadas com a poesia ela tece ou destece conforme a necessidade da sua travessia. E segue arrancando todas as máscaras num processo de lapidação necessário ao despertar consciencial para adentrar o portal da nova terra.

Em nosso terceiro episódio de hoje, desejamos nos (des)enredar nestas tessituras paradoxais da existência humana, onde residem nossos conflitos indissolúveis. São tantos os absurdos que atravessam nossa garganta e nos causam o espanto contínuo... E a poesia possui o poder de provocar em seu público leitor esta sugestão de encantamento, sem nenhuma intenção de ser compreendida porque a poesia já nasce sendo, ela é! E tudo o que vem depois é “chover no molhado”. Mas também é preciso confessar que temos certa necessidade por chover no molhado, pois, como autoras da margem do cânone que somos, chover no molhado é nossa filosofia maior.

Quando uma poesia nos abraça, nos põe no aconchego de seu regaço? Quando a poesia é um soco no estômago e nos assusta, fazendo-nos viajar, de olhos arregalados e coração acelerado, outros contextos? E como a palavra, sendo pulsão estética, razão suprema e poética desta nossa humana existência se plasma no mundo? Como ela atravessa os portais do in illo tempore, no campo imagético não palpável e ritualístico da vida? Como dialoga com os arquétipos coletivos, guardiães da consciência coletiva humana? Como ela dialoga como o sagrado feminino que nos habita?

A palavra ciranda por todos os campos do que é corpóreo e não corpóreo, tecendo com sua arbitrariedade sacra e linguística  as teias deste imenso tear poético, que nós, as Enluaradas, nos propomos a (des)enredar. Nossa Ciranda de Deusas nos convoca a nos deixar envolver pelo Sagrado Feminino, pelas tantas teias arbitrárias da vida que nos unem em volta deste fogo cósmico: a poesia. 

Aguardamos sua presença, lá no perfil Enluaradas do Instagram, @enluaradas__!

sexta-feira, 23 de julho de 2021

NAS TEIAS DO POEMA II: DAS ESCREVIVÊNCIAS QUE NOS HABITAM



 

NAS TEIAS DO POEMA II: DAS ESCREVIVÊNCIAS QUE NOS HABITAM


Por Marta Cortezão

“O que em mim sente, está pensando”

{Fernando Pessoa}


Pensar as teias do “fazer poético” é também refletir sobre os abismos que habitam nossas escrevivências (termo criado por Conceição Evaristo para referir-se à sua literatura), que aqui tomamos de empréstimo, a suas devidas proporções, a fim de falar de como nós, autoras contemporâneas do coletivo Enluaradas, vivenciamos o duplo processo de nossa escritura: a vida que cada uma escreve com base em suas vivências, e a forma como o mundo se abre/apresenta a cada uma de nós através de outros olhares e suas particularidades. Que escrevivências se manifestam nestas teias? Que versos conectarão estas teias de cada “fazer poético”? Há um novelo interno que alimenta estes teares?

Como esta modernidade líquida – que se esvai pelos dedos via tantas informações fragmentadas e superficiais – afeta nossa escrita poética? Romper com a sintaxe, com a semântica, com a morfologia, com o convencional é também uma forma de rebelar-se? Cada uma de nós carrega infinita pluralidade de vozes, anseios, concepções, aptidões, sensações tão contraditórias, sonhos... Estamos sempre em contínua construção, em processo crônico de ser... caminhos, becos, vielas, prados, montes, horizontes... E que teias tecemos com todos esses fios?

Nosso fazer poético está em constante estado de alquimia, como afirmou Fernando Pessoa: “o processo alquímico é quádruplo: 1) putrefação; 2) albação; 3) rubificação; 4) sublimação. Deixam-se primeiro apodrecer as sensações; depois de mortas embranquecem-se com a memória; em seguida rubificam-se com a imaginação; finalmente se sublimam pela expressão.”[i]  

Para esta aventura poética que nos propõe o Projeto Enluaradas, estaremos na companhia das autoras da Coletânea Enluaradas II: uma Ciranda de Deusas:

Ale Heidenreich é de Recife/PE e vive desde 2004, na Alemanha. Iniciou-se na escrita poética através da Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa. Desde então não mais parou, e tem participações nas seguintes publicações: Mulherio das Letras Portugal; Que nem Jiló; (In)Sensíveis Sentimentos; Deixe-se Florescer e Mulheres Imortais.

Aline Galvão é jornalista, escritora, poeta. Amazonense, de Manaus, já participou da antologia “A imortalidade amazônica II”, das coletâneas “O universo poético da mulher amazonense” e “Coletânea Enluaradas I – Se Essa Lua Fosse Nossa” e Antologia “Permita-se florescer”.

Vania Clares – de São Paulo, gestora da Sarasvati Editora, poeta, escritora. Cursa Filosofia, é membro da Academia Contemporânea de Letras. Autora de vários livros, entre eles Urgência de Auroras (prefaciado por Caio Fernando Abreu), Do Parapeito Vital,Ouso, Salão de Baile e Permanências Outonais.



[i] In D’OFRIO, Salvatore. Literatura Ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Editora Ática, 2000, p. 467.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

NAS TEIAS DO POEMA I: CARNE E TECIDO POÉTICOS

 



 

VERBUM

“E a palavra suicida/ precipitou-se, / desesperadamente, / da boca / e caiu / no mundo... / Estraçalhou-se / em verbo / e foi ser Vida.”

{Marta Cortezão} 

NAS TEIAS DO POEMA I: CARNE E TECIDO POÉTICOS


Por Marta Cortezão

 

Hoje, às 17h30m (Brasília), o Projeto Enluaradas estreia o quadro Nas Teias do Poema, que será transmitido pelo perfil do Instagram @enluaradas__, cujas autoras convidadas são Anna Liz (Santa Inês / MA), Artane Inarde (Belo Horizonte / MG) e Maria Alice Bragança (Porto alegre / RS). O objetivo deste novo quadro é conhecer um pouco mais do trajeto literário das Deusas Enluaradas que se juntaram a esta Ciranda de Deusas.

E para isso, nos atiraremos neste tecido de teias de cada poema, este fio de Ariadne que percorre labirintos tantos, em busca deste fero Minotauro que habita os múltiplos (des)caminhos do poema. Desejamos sentir a tessitura da tecedura poética, os entrelaçamentos verso a verso, a urdidura da teia que se tece em um poema, a sua consistência nas vozes de autoras contemporâneas e na interação com nossa plateia.  

Não podemos deixar de mencionar à intrigante Penélope nesta festa de teares a tantas mãos! Deusa mestra na arte homérica de tecer e destecer o tempo, o enredo, a sorte. Encontraremos quantos Ulisses neste percurso? Quantos amantes renegados? Quantas longas esperas?  Quantos sudários há em um poema? Quantos novelos compõem uma centena de versos? Ah, Deusa, sem o seu tear, seria impossível que o grande rapsodo Homero lograsse tanto encantamento em seu cantar. Qual é a teia que tece seu poema, poeta Enluarada? Quantos fios de silêncio se entrelaçam a esta voz que se esgueira pelo nó que obstrui a garganta a diário e encontra a existência na palavra? A palavra cai no mundo e se (des)mistifica e se justifica pela existência do tecido que se forma na branca folha branca, onde agoniza o poema, esperando por ávido olhar que o resgate de sua inércia.

E o que dizer do entramado de teias, tão bem urdido e tecido pelas diligentes Deusas Moiras? Coto, a que cuida do princípio, a que fia e tece o fio da vida; Láquesis, a que distribui o quinhão da sorte, do que se ganha em vida, e Átropos, a que corta o fio, decide o fim da vida. A palavra vive na contramão da vida e da morte, habita e percorre estes vãos, nada se constrói fora destes dois caminhos adversos. O para além da teia, a poesia, se entrelaça em outra teia e, por sua vez, em outra, em outra e em outra... Assim formamos esta bela Ciranda de Poemas, nas vozes potentes de autoras contemporâneas da literatura luso-brasileira, porque, de mãos dadas, somos Deusas; juntas, Enluaradas!  Vamos lá, minha gente, cair nas teias destes poemas! É HOJE, VENHA NOS FAZER COMPANHIA!    

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