Mostrando postagens com marcador Flavia Ferrari. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Flavia Ferrari. Mostrar todas as postagens

domingo, 20 de março de 2022

POESIA NA REDE: A GUERRA E AS MULHERES, POR FLAVIA FERRARI




POESIA NA REDE|05


A GUERRA E AS MULHERES

                                                                                                 Por Flavia Ferrari


Neste mês, no dia 8 de março, as redes ficaram divididas entre celebrar o “dia das mulheres” e questionar a tal data, dado que a condição da mulher no Brasil e mundo afora não encontra motivo para comemoração. 

As falas repugnantes de um tal deputado a respeito das mulheres em condição de guerra provocaram uma reação de repúdio por parte de todos aqueles que têm alguma sensibilidade. Provavelmente (e lamentavelmente) ele seguirá com o seu mandato, pois o machismo estrutural tem a consistência maciça de chumbo em algumas estruturas, como na política por exemplo. 

Eu me deparei nas redes com o compartilhamento de um poema da polonesa Wislawa Szymborska que, para mim, é um poema que conta a história de mulheres, mães, crianças, famílias, de um país inteiro.

As guerras são muitas e estão sempre em andamento, mesmo que não tenhamos notícias de várias delas no jornal da tarde.

Este século talvez não testemunhe o fim das guerras e das desigualdades. O poema de Szymborska poderia ser reescrito todos os dias, em diferentes locais. O desamparo escancarado pelo poema é um estado de alma cuja dor é aguda e insuportavelmente durável.

Vietnã - Wislawa Szymborska

Mulher, como você se chama? - Não sei.
Quando você nasceu, de onde você vem? - Não sei.
Para que cavou uma toca na terra? - Não sei.
Desde quando está está aqui escondida? - Não sei.
Por que mordeu o meu dedo anular? Não sei.
Não sabe que não vamos te fazer nenhum mal? - Não sei.
De que lado você está? - Não sei.
É a guerra, você tem que escolher. - Não sei.
Tua aldeia ainda existe? - Não sei.
Esses são teus filhos? - São.

*_*    *_*   *_*    *_*


Referência: Szymborska, Wislawa. Poemas; seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien - São Paulo: Companhia das Letras, 2011.




sábado, 5 de fevereiro de 2022

POESIA NA REDE: AMOR EM TEMPOS PANDÊMICOS, POR FLAVIA FERRARI

 

POESIA NA REDE|04


A M O R   E M   T E M P O S   P A N D Ê M I C O S

                                                                                                 Por Flavia Ferrari


Como canta Marisa Monte, “Amar alguém não tem explicação/Não há como conter o furacão” *. O amor se impõe, entra pelas frestas, escancara portas, cria janelas, mas como vivenciar o amor em tempos de distanciamento social? Observamos que no início de 2020, quando a pandemia chegou e nos isolou, famílias foram separadas dos encontros costumeiros, namoros foram desfeitos ou, em alguns casos, foram transformados em casamento. A situação da pandemia hoje, apesar de gravíssima, tornou o cotidiano mais presencial, tanto por conta da disponibilidade da vacina, como pela necessidade econômica, social, política e psíquica da humanidade. Esta retomada foi acontecendo aos poucos e hoje temos os lugares públicos abertos e funcionando quase em sua totalidade, apesar do avanço da variante Ômicron e aumento nos casos de internação pelo mundo afora.

            Mas e os novos amores, as novas paixões, os encontros, as separações? O que mudou? Alguém postou na rede social que para um primeiro encontro presencial é necessário compartilhar previamente o comprovante de vacinação, afinal, decidir encontrar alguém pela primeira vez, estando sem máscara, não é uma decisão tranquila. Há os que relataram que terminar um relacionamento por telefone ou por vídeo diante da impossibilidade de um encontro presencial é mais fácil, apesar de toda frieza que a virtualidade traz. Os encontros amorosos e sexuais virtuais na pandemia foi descoberta por muitos que não usavam a internet para este fim e a estimativa é que o uso de aplicativos de relacionamento durante a pandemia tenha aumentado cerca de 400% no Brasil**. Talvez os encontros virtuais permaneçam em alta, mesmo depois da pandemia, e um primeiro encontro presencial seja algo a ser plasmado a dois com muita antecedência e se torne um grande passo para o relacionamento. Ou, talvez, depois de tanto navegar, as pessoas desejem mesmo sair por aí e dar ao acaso a oportunidade de presentear as pessoas com a presença do outro.

            Em tempos de (des)encontros virtuais, escrevi o poema abaixo, sobre o desfecho de um relacionamento, que compartilho com vocês:

 

Desencontro – Flavia Ferrari

 

Já não quero receber teu abraço

Meu corpo ressente

Este corpo que recentemente é só meu

Não há toque virtual

 

Às vezes evito teu olhar

Ele me assusta e me desafia

Acho que me desestabiliza

E fecho a câmera

 

Reconheço teus esforços

O máximo esforço

Vejo teu apreço, recebo tua ansiedade

Sua vontade de estar comigo

Mesmo quando finge querer ir embora

E se desliga

 

Você quer me ensinar

Me falar tudo

Me educar e me formar

Quer minha escuta e minha atenção

Entretelas

 

Quer meu corpo presente

Toda aproximação

Quer meu gosto

Minhas histórias

Fazer de mim o coringa da sua ficção

E caímos

 

Já não posso mais ser o alimento do teu ser

Talvez ainda te ame

Mas não te quero mais

Fim da chamada

*_*    *_*   *_*    *_*


Referências:

 *Música “Amar alguém”, Marisa Monte/ Dadi/ Arnaldo Antunes, 2011.

** Disponível em https://www.google.com.br/amp/s/www1.folha.uol.com.br/amp/treinamento/2021/10/relacionamentos-online-disparam-na-pandemia-ouca-podcast.shtml. Acesso em 31/1/2022.




segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

POESIA NA REDE: ÁGUAS DE JANEIRO, POR FLAVIA FERRARI



POESIA NA REDE|03

Á G U A S   D E   J A N E I R O

 

Mês de janeiro, agradecemos as águas que caem e enchem os reservatórios dos quais somos dependentes para que tenhamos água durante o período de seca. Mas quantas tragédias nos deparamos neste período, com índices de chuva altíssimos que parecem que a cada ano batem recorde e nos colocam em conflito com nosso modo de vida e de como a sociedade está estruturada para cuidar (ou não) dos seus. Choramos pelo Capitólio e pelo Sul da Bahia nos perguntando como agir coletivamente para que as tragédias evitáveis não mais ocorram e que o que não se pode prever, possa ser cuidado, reparado.

O fato é que nos sentimos pequenos diante da magnitude e das consequências do que assistimos. 

A rede foi invadia por reflexões, orações, poemas e imagens que mostram como a arte responde à vida. Porque responde sempre de algum modo. Por vezes nos conforta, outras nos desafia ou nos coloca frente a frente com os buracos de nosso tecido social.

Finalizo com o poema de Mayra Luiza Corrêa, Cabo de Guerras:
 
Um puxa de lá,
Outro polui daqui,
Não há força pra soltar
O preço é esmaecido, aflito.
A gota acaba em manancial
A solidão bomba e flui líquida
Não mais maresia,
Só mar se vai
 
Ensacam água!
Plastificam água!
Sujam água!
Choram água!
 
Acordo para ser fluído...
Mas alguns compraram os sonhos
E ainda pagaram com o sangue
Dos outros
 
Haverá dia sem chuva para beber
Podre é quem usa o céu contra nós
Poluído de ouro-barro, rio...
O que corre em nossas veias é oceano

*_*   *_*    *_*   *_*  
 
Mayra escreve poesia desde criança com mãe poeta. Aos 14 anos participou de sua primeira antologia e, desde então, publicou contos, ganhou prêmios por textos teatrais e falou de temas difíceis.
 
 
Referência:
 
Chorando pela natureza: poesia geopolítica ambiental / Jéssica Iancoski (Organizadora); Adriana Teixeira Simoni, Adriano Bensen, Alana Aguida Berti, et al. – Curitiba: Eu-i, 2021.




terça-feira, 21 de dezembro de 2021

POESIA NA REDE: TRAVESSIA, POR FLAVIA FERRARI



POESIA NA REDE|02

T R A V E S S I A

Por Flavia Ferrari


    Às vésperas das festas natalinas e na entrada dos momentos finais de um ano pra lá de desafiador, a poesia chega para nos ajudar a deixarmos para trás o que não conseguimos alcançar, para nos despedirmos do que deixamos de ser e nos conectarmos com o porvir que um ano novo representa

 

    Em um cenário pandêmico e politicamente tão catastrófico, a literatura nos enraíza para que sigamos nutridas e ligadas nesta rede poética de encontros e encantos. Como as árvores que estão conectadas por uma rede subterrânea alimentada pelos fungos que crescem ao redor das raízes, em que é possível a troca de nutrientes e alerta para os perigos iminentes, a poesia nos coloca em ação, seja como leitoras ou escritoras, pois o impacto da escrita e da leitura de um poema pode nos afetar de diversas maneiras; seja nos transformando, nos desafiando ou nos protegendo. 

 

    Estamos sujeitas às emoções que o mundo sensível das letras nos apresenta diariamente e um poema lido e degustado é um presente, por diversas vezes sob medida.

 

  Apresento o poema Ressignificâncias, de Ale Heidenreich, presente na coletânea Enluaradas II, cujos versos foram projetados no meu imaginário como pintura.

 

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


Me reencontro nas palavras

Como o rio que corre seu curso.

Deparo-me com a cachoeira de

Águas mansas. Ora torrentes.

Escorrem no papel linha por linha

Verso por verso.

 

Permeiam as folhas do meu

caderno vermelho.

Respingam em palavras formando

Choro, riso ou receio.

 

Caem como gotas de 

Chuva despretensiosa.

Tornam-se poças tímidas que

de mãos dadas se movem até

o córrego manso,

e de lá outra vez serei

Rio de águas renovadas.

 

Ale Heidenreich é de Recife/PE e vive desde 2004 em Arnsberg/Alemanha. Iniciou-se na escrita poética através da Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa (2021). Desde então não mais parou. Tem participações nas seguintes publicações: Mulherio da Letras Portugal; Que nem Jiló; (In) Sensíveis Sentimentos; Permita-se Florescer e Mulheres Imortais.


Referência:


CORTEZÃO, M.; CACAU, P.; Coletânea Enluaradas II: uma ciranda de deusas. São Paulo: Saravasti, 2021. 






Baixe GRÁTIS o e-book Coletânea II AQUI

Baixe GRÁTIS o e-book Coletânea I AQUI

domingo, 12 de dezembro de 2021

POESIA NA REDE: REFLEXOS, POR FLAVIA FERRARI



POESIA NA REDE|01

REFLEXOS

Por Flavia Ferrari

 

A música de Gilberto Gil, Pela Internet, canta versos que em 1996 foram transmitidos pela internet, algo inovador no Brasil. “Criar meu website/ Fazer minha homepage/ Com quantos gigabytes/ Se faz uma jangada e um barco que veleje...” Desta forma, a música e a poética de Gil inauguraram algo que hoje é muito corriqueiro: diariamente criamos, recebemos, ouvimos e publicamos muito pela rede.

 

Todos os dias, ao acessar minha página na rede social, me deparo com colegas poetas que transmitem poemas que recebo como se fossem presentes; as criações poéticas que chegam até mim pela rede me emocionam, inspiram e me incentivam a criar. Foi através da rede que conheci o trabalho de várias autoras que hoje acompanho e admiro. Poder comentar, curtir, estar próximo delas e criar laços, mesmo que virtuais, é o lado muito bom da internet.

 

A poesia já vem com asas, mapa de navegação, gps e satélite acoplado. O poema tem a capacidade de atravessar o tempo, gerações e ficar “impresso” nas nossas memórias, no papel, em arquivo digital e nos nossos dizeres, já que vira e mexe elaboramos versos de improviso quando dizemos algo e, de repente: “Que lindo, parece poesia”.

         

Finalizo com um poema de Jéssica Iancoski, autora contemporânea, idealizadora do Toma Aí Um Poema, que a rede me trouxe e permitiu que nos transformássemos em parceiras de trabalho e amigas.

 

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


ESPELHO

{Jéssica Iancoski}

 

em pé parada

em frente

ao espelho

encaro-o

 

olho-o

e não me vejo

encaro o espelho

 

se sou antiga ou jovem

menina mulher ou homem

não me importa

todas essas perguntas

são sempre tortas

 

tento descobrir

qual o sentido

incutido no vidro

na moldura

na parede ou

na porta

 

todo léxico é vazio

e toda realidade é delírio

tudo se modifica pela memória

os reflexos mudam com a história

 

mas o espelho

o vidro

a moldura e

a porta

ficam e

atravessam a trajetória

*_*    *_*    *_*    *_*    *_*

    

    Sobre Jéssica Iancoski: publicou em várias antologias e revistas, nacionais e internacionais. Teve o poema “Rotina Decadente” reconhecido pela Academia Paranaense de Letras, aos 16 anos. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias e, também, revista literária digital. Nasceu em Curitiba/Paraná em 1996.

 


 

Feminário Conexões, o blog que conecta você!

EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

  Clique na imagem e acesse o Edital II Tomo-2024 CHAMADA PARA O EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS: CORPO & MEMÓRIA O Coletivo Enluar...