PROCESSOS DE ESCRITA: KRENAK, O MENINO DOS BRAÇOS COMPRIDOS
Meu oitavo Livro Infantil, "Krenak, o menino dos braços compridos", lançado em janeiro de 2022 pela editora Letra Selvagem, foi uma das muitas produções literárias espalhadas por todo o mundo, motivadas por uma catástrofe de dimensão incalculável: A Covid-19, que vitimou cerca de 700 mil brasileiros e outros tantos milhões pelo mundo.
Essas produções tornaram-se registros preciosos por
falar de uma calamidade planetária. Contos, romances, poesias, crônicas e livros
infantis como o meu, surgiram inspirados pela pandemia de Covid 19. Elas vão
narrar os efeitos na pisquê humana, contando através dessa vasta produção, as
mazelas causadas por ela no mundo todo.
Escrever esse texto foi como se eu me curasse, como se eu me libertasse do
medo, da raiva contida, da desolação que me causou não poder ver meus filhos
bem de perto, por não poder abraçá-los, senti-los fisicamente. Enfim, senti que estava produzindo uma
literatura para expressar a dor de uma humanidade inteira, toda ela vítima de
uma doença desconhecida, que provavelmente só foi possível devido a um sistema
econômico predatório, destruidor de biomas e ecossistemas.
Krenak é um indiozinho, um curumim. Ele
percebe que seus braços crescem, toda vez que tenta abraçar algo. Mas ele quer
curar o mundo com seus abraços. Eu estava distante dos meus filhos, e sentia
falta de abraçá-los. E essa dor não era somente a minha, era a de todas as
mães, pais, parentes, amigos. Enfim, eu queria falar disso. Abraçar é uma
experiência uterina, quando eu abraço meus filhos, é como se eu os devolvesse
para o meu útero. Eu queria colocar todas as crianças nele, elas estavam
assustadas, perdendo avós, tios, pais, irmãos. O útero é um local aconchegante.
Eu quis inventar um lugar de calma, de utopia, de recomeço, de encantamento.
Esse lugar era o abraço. Dessa constatação nasceu o texto. Mas também de uma
questão importante: A questão ambiental. Ela me chegou através do pensamento de
um ambientalista famoso. Ailton Krenak e seu livro "Ideias para adiar o
fim do mundo". Um livro que eu considero crucial para se compreender a
problemática ambiental do Brasil e do mundo. É uma leitura imperdível. Como
estávamos isolados, o jeito foi se encher de livros, de música, de arte.
Daquela que estava disponível. O livro de Ailton Krenak deu concretude ao meu.
Seu pensamento cheio de argumentos, veio de encontro à minha sensação de
indignação. Então o menino Krenak, é o próprio Ailton, que com seus bracinhos
compridos, leva para o mundo sua mensagem curativa. O indiozinho também propõe
no meu texto, um outro modelo de existência, já em andamento. Esse modelo se baseia na sabedoria indígena.
As ilustrações do livro são de Carolina Latorre |
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