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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

NA TRILHA DO FEMININO: O PERFIL FEMININO NOS CONTOS DE FADAS, POR RILNETE MELO

 


N A   T R I L H A   D O   F E M I N I N O|02

O PERFIL FEMININO NOS CONTOS DE FADAS 

Desde pequenina sempre gostei do universo literário, amava   ouvir, e quando alfabetizada gostava de ler os contos de fadas. Ficava encantada com aquele mundo mágico, e viajava com os clássicos de Perrault e dos irmãos Grimm, onde a fantasia rolava solta, mas rolava solto também na minha instigante meninice, um sentimento de piedade pela figura feminina. As vezes em meus pensamentos pueris eu me questionava; Por que a Cinderela, a Bela Adormecida, a Branca de Neve e muitas outras princesas, tinham sempre que sofrer? Só porque eram meninas?

Ah! Essas narrativas fantasiosas! Elas simplesmente reproduziram para as nossas crianças os estereótipos femininos impostos pela sociedade patriarcal, subsidiando a supremacia do homem sobre a mulher, criando nas inocentes cabecinhas uma atmosfera de subserviência feminina, condicionando os pequeninos a assumirem comportamentos e papéis tidos como corretos... Ou politicamente corretos? ...Sei lá!

O que eu nunca entendi é porque, a figura do homem nos contos de fadas, é sempre super heroica, sempre forte, linda e corajosa, uma figura capaz de trazer libertação e o famoso “Felizes para sempre”. Foi ouvindo e lendo os contos de fadas que, por alguns anos, dei abrigo aos modelos femininos, que eu acreditava que deveria seguir.  Por vezes cheguei a me imaginar sendo a Cinderela, aquela figura dócil, submissa, prendada e virtuosa. Encantava-me por aquela princesa, incapaz de ter comportamentos rebeldes. Acreditava que para ser feliz, a mulher necessitava ser passiva e esperar a fada madrinha (destino, sorte, forças externas) lhe guiar até o seu príncipe, que seria a sua tábua de salvação, a sua libertação.

Ledo engano! Perfil bloqueado 🚫

Cresci, e através das minhas vivências e experiências sociais e culturais, desmistifiquei a varinha mágica da fada madrinha, desfiz enganos, livrei-me dos mitos, ressignifiquei o mágico mundo punitivo e restritivo, imbuído nos clássicos infantis.  

Vigiai mulheres/princesas! Saiam do reduto!

Não sejamos Branca de Neve monitorada por sete anões, esperando o príncipe encantado.  Não sejamos a Bela adormecida, num estado de letargia emocional e social ou a Gata borralheira esquentando a barriga no fogão. O terceiro milênio exige que estejamos sempre na defensiva, de olhos bem abertos, pois o príncipe virou sapo e anda dando no nosso saco. O feitiço? ah!  Esse só se desfaz com nossa pretenciosa e audaciosa magia de ser bruxa, à frente do nosso tempo.

Em “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés, ela aborda essa desmistificação do mito e do conto de fadas e traz essa restauração da psique feminina, deturpada pelos contos de fadas. Estamos sempre fugindo dos lobos, né isso? Nessa sociedade patriarcal violenta, somos a representatividade do chapeuzinho vermelho.  Através do livro de Clarissa Pinkola, é possível ver a mulher emergindo do condicionamento cultural e transformando-se em lobas corajosas e empoderadas.  Eu recomendo!

Se faz necessário uma análise desses elementos que deturpam a mente das nossas crianças,  pois eles residem em uma realidade humana arquetípica, onde se constitui oponentes comportamentos entre os seres humanos, ou seja, a figura masculina é sempre dominante e a feminina passiva ou recalcada, tais determinantes estão bem longe da igualdade de gênero,  da igualdade social e política, tão almejada por nós mulheres, e que ao meu ver, seria o ápice que  levaria ao desenvolvimento em todas as esferas da sociedade. Em meio a esse machismo orquestrado por esse (des)governo nefasto e fascista, temos que reagir, lutar e levantar a bandeira do feminismo, para que não possamos cair em alguma página dos clássicos contos de fadas.

E por falar em luta, feminismo e conto de fadas, lembrei-me de um fato que me aconteceu certa vez. Estava eu e uma amiga em um café num shopping, em uma conversa bem informal, de repente ela me pergunta:  Rilnete, você é feminista?  E claramente respondi; Sou! Por quê? Você, não é?  Ela timidamente respondeu; ah! Sou muito ligada no tradicionalismo, tudo certinho, sabe. Como assim colega? Você é conservadora?  Não luta por seus direitos? Você não gostaria de ter um salário justo e equitativo? Não gosta de fazer suas escolhas com relação às suas roupas e seu corpo?... E claro, lógico que a resposta foi afirmativa!  Ela corou, abriu a boca em gesto de espanto e falou: Meus Deus! Descobri nesse momento que sou feminista!

Perfil desbloqueado com sucesso

Algumas pessoas ainda tem uma visão equivocada sobre o feminismo, acreditam  que ser feminista é ser  agressiva, ter aversão a homem, querer ser superior ... E por aí vai!

O feminismo é plural gente! A luta é de todos, todas e todes! Feminismo favorece homens,  mulheres,  trans, e independe de orientação sexual , pois  o feminismo discute gênero, classe, raça e  sexualidade. Não se trata de  uma ideologia, é uma luta, uma análise, uma desconstrução. 

Me descobri feminista desde que fui molestada por um padre aos 9 anos de idade, claro que sempre foi na linha do feminismo branco, mas de "Menina Capricorniana virei “Mulher Leão” e sai brigando por meus direitos, por minhas escolhas e pelas dores que não eram só minhas. Através da poesia, das crônicas e dos textos, mergulhei fundo nas minhas inquietações femininas. Sempre repudiei o conservadorismo e o comportamento ilibado, regido por padrões machistas, então tomei como verdade que o feminismo é só um movimento em defesa da igualdade de gênero, contra os comportamentos misóginos, simplesmente uma luta em prol de todas/os/es.Trata-se apenas de um desejo emancipatório, de uma fuga desse arquétipo, desse perfil de boa donzela, exaustivamente replicado desde os famosos e clássicos contos de fadas.

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Rilnete Melo
Foto do arquivo pessoal

Rilnete Melo é brasileira, maranhense, graduada em letras/espanhol, escritora, cordelista membro das academias ACILBRAS, ABMLP e AIML, participou de várias antologias nacionais e internacionais, autora do livro “Construindo Versos" e autora de cinco cordéis. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

NA TRILHA DO FEMININO: FATO E FAKE NOS DITADOS POPULARES, POR RILNETE MELO

 


N A   T R I L H A   D O   F E M I N I N O|01

FATO E FAKE NOS DITADOS POPULARES 

       

          Eu cresci ouvindo uns ditados populares que, embora ainda não usando o termo “Fake News”, nunca os tive como “Fato” no meu universo feminino. Na cama dessa vã cultura popular, da sabedoria do senso comum, da frase de efeito que tem por finalidade advertir ou aconselhar alguém, eu não deito a minha cabeça. Eis alguns desses famosos discursos proverbiais usados como ferramentas para propagação da misoginia e do preconceito contra a figura feminina, que eu desabono:

           — “Amor de pica bate e fica".

        Sou poeta, gosto de rima, mas essa não bate nas minhas inspirações e inquietações femininas... Acredito que bate no machismo do homem, na sua pretensiosa e fálica relação amorosa ou na cabeça de alguma pessoa insaciável inveterada, pois convenhamos que sexo é gostoso,  dá prazer, é uma necessidade fisiológica,  mas não fica e não sustenta a alma e a ternura feminina. (É Fake!) Para trazer o fato recorro a Nelson Rodrigues quando ele diz:

      “A maior tragédia do homem ocorreu quando ele separou o amor do sexo. A partir de então, o ser humano passou a fazer muito sexo e nenhum amor. Não passamos do desejo, eis a verdade. Todo desejo, como tal, se frustra com a posse. A única coisa que fica além da vida e da morte é o amor”.

         — “Mulher de malandro quanto mais apanha mais se apaixona"

       Um discurso extremamente agressivo e depreciativo! Para mim, trata-se de um provérbio com a pretensão de normalizar a violência doméstica.  Evidencia-se nesse dito popular a absolvição do agressor e a condição subalterna da mulher, que por muitas vezes se condiciona a agressão por condições econômicas ou mesmo ameaças,  e nunca, jamais, por gostar de apanhar, pois geralmente o relacionamento inicia com amor e carinho e por estreitamento da dependência vem a violência, que às vezes culmina na morte. Que esse fake fique bem longe de nós, pois precisamos nos unir para combater a violência de gênero (isso é fato!)

         — “Mulher tem que esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque"

       Aqui a mulher é vista como objeto do lar e do machismo exacerbado, que vem desde os tempos remotos.  Discurso ideológico que nos condiciona à submissão e jamais  favorece  a igualdade de gênero. Isso é Fake! Atualmente observa-se uma presença significativa de mulheres esquentando a barriga atrás das escrivaninhas e outros objetos profissionais,  esquentando a mente em muitas áreas de conhecimento e esfriando  a cuca com prazeres proporcionados por sua capacidade e talento. O fato é que precisamos lutar muito ainda por nossos direitos,   pois os homens ainda são maioria quando se trata de reconhecimento...

        Vamos esquentar nossas barrigas onde a gente quiser!

         — Em briga de marido e mulher, não se mete a colher"

        Frase que eu, minha avó e minha mãe crescemos ouvindo e vendo muitas mortes acontecerem, por omissão condicionada a esse discurso/mantra sem fundamento.  

         Frase de efeito Fake!

        Não podemos desconsiderar  a relevância das campanhas, os debates e a divulgação desse assunto na mídia, pois tem favorecido a  ação da vítima pelo pedido de socorro. Não podemos ser omissos a esse tipo de comportamento tóxico, a esses  relacionamentos abusivos dentro de quatro paredes, onde o silêncio sufocante da mulher é amordaçado pelo medo.  Vamos quebrar esse muro, entrar nessa briga, salvar uma vida  e meter a nossa colher sim! Isso é Fato!


@rilnetemelo - Uma Voz Nordestina


Rilnete Melo
Foto do arquivo pessoal

Rilnete Melo é brasileira, maranhense, graduada em letras/espanhol, escritora, cordelista membro das academias ACILBRAS, ABMLP e AIML, participou de várias antologias nacionais e internacionais, autora do livro “Construindo Versos" e autora de cinco cordéis. 

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