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segunda-feira, 24 de julho de 2023

ELES LEEM ELAS: MEU SILÊNCIO LAMBE TUA ORELHA, DE MARTA CORTEZÃO

Venda diretamente com a autora
ELES LEEM ELAS: MEU SILÊNCIO LAMBE TUA ORELHA, DE MARTA CORTEZÃO


 POR RONALDO RHUSSO

Meu silêncio lambe a tua orelha” da Marta Cortezão - Editora TAUP (Toma Aí Um Poema – 2023)

Trombei, por assim dizer, com a Marta Cortezão numa das esquinas da rede de gente virtual nem um pouco virtual! Convite da Eliana Castela para ver, em outubro de 2020, ápice pandêmico, a Live VIII Tertúlia Virtual sob o Tema: “A Poética que roça os sentidos” no Canal Banzeiro Conexões do iutubi... Vi o “card” de chamada, procurei textos das outras convidadas para compartilhar na hora e vi a Marta apresentando geral, um tanto desacostumada com as geringonças internéticas, porém, sempre com esse sorriso de Sol, fazendo um trabalho lindo de divulgação de novas poetas e escritoras...  Conferi os vídeos anteriores e continuei acompanhando os demais, enquanto ela se transmutava em “Enluarada”, “Bruxa”, “Deusa” (levando geral com ela, grande parte, gente que tinha seus escritos engavetados e desacreditados) ... Aí fui lendo, também, o versejar vicejante da Marta...

E o atual livro? Ah! Sim. “Meu silêncio lambe a tua orelha” (gostosinho falar isso, não é? Quem não fica logo muito a fim de ler este livro?) derrama sobre nós leitores um balde estelar de poemas vivos... Saca, vivo? Tipo vivo assim:

estas cicatrizes que levo

agarradas na pele

falam muito mais de mim

que as palavras fugadas

de meu distraído silêncio

                          (intemporalidades)

 

meu corpo desértico

feito de solidão e degredo

pelo ímpeto da dor

do não pertencimento

reage com solícitos ais

                       (mar de diásporas)

Evento Campinas, das 14h às 16h30, Sáb/27/JUL

Há, notavelmente, um espetáculo de poemas Concretos e um desnudar de alma em cada um deles, sendo que a Marta já havia demonstrado esse poder ou virilidade no escrever sobre o que ainda é tabu para quem se assusta com a realidade que todo mundo sente ou todo mundo quer sentir e se libertar para tanto! O uso das Figuras de Retórica é aplicado de uma forma bastante rica e o gozo do leitor se amplifica num acompanhar de momentos poéticos que nos fazem reler e reler porque a sonoridade é boa e a identificação com o que lemos nos embala a continuar a beber as palavras:

o tempo escorre arenoso

pela ampulheta

vai inevitável

estirando granulado fio

que tece a sanhuda

pressa das horas

               (liquidez)

Eu preciso comentar essa combinação bonita entre a Marta Cortesão e a Toma Aí Um Poema, inicialmente um podcast idealizado pela Jéssica Iancoski que postou a primeira declamação em novembro de 2020 no Canal com o mesmo nome. Ou seja, “Meu Silêncio Lambe a Tua Orelha” e a TAUP é mais que uma parceria com poemas fortíssimos e um trampo de editoração bonito pra caramba! Design gráfico bastante contemporâneo, tão vivo quanto os sessenta e seis poemas. É um livro que tinha que acontecer! É um encontro de dois belos e caudalosos rios escorrendo e se juntando, em delta, ao mar da Poesia para deliciosamente encher o mundo dessa fertilidade criativa...

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Marta Cortezão, de Tefé/AM, é escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: “Banzeiro manso” (Porto de Lenha Editora, 2017), “Amazonidades; gesta das águas” (Penalux, 2021), Zine “Aljavas para Cupido” (2022) e “meu silêncio lambe tua orelha” (Toma Aí Um Poema Editora, 2023). 


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Ronaldo Rhusso
: autor anual de “Meditações para o Pôr do Sol” da Casa Publicadora Brasileira pela União Sudeste dos IASD, do Compêndio poético “2016, o Dia, o Tema e o Poema” (produção independente) e de “Atos de Jesus” pelo Clube de Autores (2022), além de cordéis em parceria com membros da Academia de Cordel do Vale da Paraíba. Escreve, principalmente, no site “Descanso das Letras” e em seu blogue particular “A Sós Com a Poesia”.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

CRÔNICA SOBRE O DIA DOS NAMORADOS... POR ROSANGELA MARQUEZI


SOBRE O AMOR... 

Rosangela Marquezi

Sempre que datas comemorativas se apresentam no calendário estático da parede [porque, definitivamente, não é no dinâmico calendário da vida] pressões se fazem para que os celebremos.

E, soltas as pressões externas, internas também vão sendo criadas e logo se avolumam no peito e na alma. Se é Natal, lá vamos nós comprarmos presentes para amigos e família... Ou seria comprarmos amigos e família com presentes? Se é Dia das Mães ou dos Pais, lá vamos nós mostrarmos nosso amor carregado de culpa por falta de atenção em forma de pantufas e pijamas. Se é Dia dos Namorados... Bom, se é Dia dos Namorados, lá vamos nós, também, comprarmos amor em forma de presente, mais caro, é certo, pois o ser amado e o ser amante andam cada vez mais exigentes, só não sei se verdadeiramente de amor ou de sinais de amor. 

Mas, me pergunto, quem, afinal, instituiu que o amor precisa disso? Lembro Fernando Pessoa, em seu heterônimo Alberto Caeiro, que dizia que agora, que estava a sentir amor, interessava-se pelos perfumes das flores, simples assim, como deveria ser. Canta o poeta que, antes, só sabia que elas existiam e que tinham cheiro. Agora, ele sabia, “[...] com a respiração da parte de trás da cabeça. / Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira. / Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.” 

Amor, para mim, é isso: simplicidade, no ver e no ser e no estar e no fazer e no demonstrar. Um ver o que antes só existia em si mesmo. Um ser eu num outro eu, mas mantendo, eu, o meu eu, e o outro o seu eu [Talvez sem vírgulas, mas mantendo cada eu no seu lugar]. Um estar no mundo com um outro, mas respeitando esse outro e esse outro a mim. Um fazer de cada dia uma festa, não de fantasia, mas de verdades. Um demonstrar de sentimentos-atitudes mais do que exagerados presentes muitas vezes sem estar presente.

Há um bom tempo sozinha, só amando o que não exige reciprocidade, percebo à minha volta uma busca angustiante de manutenção desse sentimento. E, nessa busca, vejo perdas de rumo, paradas no tempo, chuvas ácidas de desejos não realizados a encher caldeirões borbulhantes. Eu, que hoje me creio mais livre disso, só observo, mas confesso que, muitas vezes, em outros tempos, me vi também presa em um algum desses caldeirões. Já amei. Se acreditei no amor, não sei. Não sou crente, mas também não descrente, porque, como diz o ditado castelhano: "No creo en brujas, pero que las hay, las hay".

[É fechar os olhos que me vejo, às vezes, parada na estação esperando a correspondência do amor. Mas, ao ver o vagão vazio, o maquinista me avisa que ele saltou um ponto antes. Talvez, na próxima semana.]

Enfim, que cada amor tem um jeito. Enfim, que quem quer amar, ama, não pede opinião. Enfim, que amar é bom. Enfim, que reciprocidade nunca é na mesma medida. Enfim, que o comércio no Dia dos Namorados continue vendendo rosas, perfumes, dixes e que também haja muito diz-que-me-diz sobre o amor. Enfim, que essa reflexão já tomou outros caminhos e o que era para ser crítica virou análise para divã, então, viva o amor de forma que ele ainda lhe permita arrepios, de prazer ou de alegria, pois este talvez seja o sentimento que verdadeiramente buscamos...

Abraço. Seja feliz.

Rosangela Marquezi

Professora de formação e atuação que, às vezes, acredita, por mais que não o digam as palavras e as ações, no amor...


DICAS DA RÔ

1. Ouça Naquela estação, música de Adriana Calcanhoto, e veja – e está tudo bem – que amores se vão...

                                “E agora, tudo bem
                                 Você partiu
                                 Para ver outras paisagens”

2. Deguste os poemas de meu silêncio lambe tua orelha, da poeta amazonense Marta Cortezão. Em versos que dialogam com outros tantos versos de outras tantas mulheres, Marta nos permite adentrar no âmago de palavras e sentimentos que há muito nos podem parecer perdidos, mas que estão aí... A lamber nossas orelhas... Entre essas palavras/sentimentos, o amor também aparece. Vivo, latente e palpável. Está presente, por exemplo, nos versos de hermetismos, em que dialoga com a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís.

"O fenômeno mais herético é o amor. Ele não é bem recebido nem tolerado porque é uma força sem desistência e que não se revoga a si mesma." (Agustina Bessa-Luís)

                            hermetismos

o amor disse-me mistérios
regozijou-me primaveras
e tudo é doce enigma em mim
 
o dia levantou crepúsculo
em meu coração semente
era chuva começo flores
porque o amor passarinho
segredava hermetismos
cantando águas distantes
 
ele ainda chove decidido
nas noites estrelas lua grande
quando o amor travessia longe
nunca não e sempre sim

3. Leia O amor nos tempos do Cólera, do escritor colombiano, ganhador do Nobel de Literatura de 1982, Gabriel García Márquez, o El Gabo, e entenda que há amores dentro dos quais se vivem outros amores e que há amores que nunca se esquecem...

“Florentino Ariza sabia disto e nunca fez nada para desmenti-lo. [...] Tal como as outras mulheres incontáveis que amou, e mesmo as que lhe agradavam e o achavam agradável sem amá-lo, aceitou-o como aquilo que era na realidade: um homem de passagem.”
                          
“Florentino Ariza, por outro lado, não deixara de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem aplicação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias. Não tivera que manter a conta do esquecimento fazendo uma risca diária nas paredes de um calabouço, porque não se havia passado um dia sem que acontecesse alguma coisa que o fizesse lembrar-se dela.”
                     
"— E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? — perguntou. 
Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.  
— Toda a vida — disse.”


4. Leia o conto Pomba Enamorada ou uma história de amor, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles. Na história, a protagonista se enamora por Antenor, com quem dançou apenas uma vez, mas se apaixonou ao ponto de, mesmo sendo rechaçada por ele, continuar a amá-lo vida afora. E tanto que, mesmo casada, com outro, ela continua a amar essa imagem de homem que projetou sobre Antenor... No final, já velha, acreditando em uma cartomante, vai novamente ao encontro dele... A nós, leitores, fica a possibilidade de criarmos um desfecho: haverá um reencontro ou uma ruptura definitiva? Enfim... Leia e perceba como ficar amarrada a uma ideia de amor é frustrante.

“Encontrou-o pela primeira vez quando foi coroada princesa no Baile da Primavera e assim que o coração deu aquele tranco e o olho ficou cheio d’água pensou: acho que vou amar ele pra sempre.”

“Quando engravidou, mandou-lhe um postal com uma vista do Cristo Redentor (ele morava agora em Piracicaba com a mulher e as gêmeas) comunicando-lhe o quanto estava feliz numa casa modesta mas limpa, com sua televisão a cores, seu canário e seu cachorrinho chamado Perereca.”

“[...] disse que tudo isso era passado, que já estava ficando velha demais pra pensar nessas bobagens mas no domingo marcado deixou a neta com a comadre, vestiu o vestido azul-turquesa das bodas de prata, deu uma espiada no horóscopo do dia (não podia ser melhor) e foi.”


5. Leia poemas do livro Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, do poeta chileno Pablo Neruda, ganhador do Nobel de Literatura de 1971. É o segundo livro do autor e, mesmo tendo sido publicado pela primeira vez em 1924, é o livro de poesia mais vendido em língua espanhola. O poema n.º 20 é um dos mais belos/tristes sobre amor que se perde.

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
 
Escrever, por exemplo: a noite está estrelada,
E cintilam azuis, os astros, desde longe. 
 
[...] 
 
Já não a quero, é certo, mas quanto a quis.
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido. 
 
De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos. 
 
[...] 
 
Porque, em noites como esta, a tive entre meus braços,
minha alma não se contenta em havê-la perdido. 
 
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo."

6. Leia A insustentável leveza do ser, do escritor tcheco Milan Kundera. Uma história muito marcante sobre o que se busca verdadeiramente em relacionamentos. Tomas, um dos protagonistas, busca alegria, e quando não encontra parte em busca dela em outros corpos/amores. Mas essa busca também lhe causa tristezas...

"Mas seria possível ainda falar de alegria? Assim que ele saía para encontrar uma de suas amantes, perdia o interesse e jurava a si próprio que seria a última vez."

7. Aprecie a pintura Os amantes (The Lovers, 1928), do pintor surrealista René Magritte (1898-1967). Pintura perturbadora que nos traz a ideia de um amor proibido, um amor que nos cega, representado pelos rostos que se unem em um beijo, mas que estão cobertos por véus brancos... Caso esteja passeando em Nova Iorque, aproveite e visite o Museu de Arte Moderna (MoMA) e veja in loco a pintura, que está lá exposta.

Fonte: https://www.moma.org/collection/works/79933?artist_id=3692&page=1&sov_referrer=artist

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Rosangela Marquezi é professora de formação e atuação que, às vezes, acredita, por mais que não o digam as palavras e as ações, no amor... Nas horas vagas poucas da vida, escreve poemas, crônicas e contos e já participou de coletâneas e antologias no Brasil e também em Portugal. É membro da Academia de Letras e Artes de sua cidade, Pato Branco - PR.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

UM BREVE PASSEIO PELO II FESTIVAL LITERÁRIO ENLUARADAS/2023

UM BREVE PASSEIO PELO II FESTIVAL LITERÁRIO ENLUARADAS/2023

POR MARTA CORTEZÃO

Nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2023, realizamos o II Festival Literário Enluaradas (FLENLUA), onde festejamos o lançamento da Coletânea Enluaradas III: I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida e que contou com a adesão de 106 autoras do Brasil e do exterior. O evento foi realizado pela plataforma Youtube, no canal Banzeiro Conexões.

Foram três dias muito intensos de muitas emoções, uma experiência incrível que contou com a participação de 74 autoras e 09 mesas temáticas:

Na mesa de ABERTURA, mediada pela poeta amazonense radicada na Espanha, Marta Cortezão. O tema escolhido foi “O corpo como resistência, rebeldia e historicidade social e política”, e contamos com a presença das seguintes autoras: Isa Corgosinho (PB), Maria Alice Bragança (RS), Cátia Castilho Simon (RS), Rita Alencar Clack (AM), Ana Maria Rocha Barroso (DF), Patrícia Cacau (CE), Carla de Sá Morais (CH), Marina Marino (SP), Margarida Montejano (SP) e Liana Timm (RS);

Na primeira mesa “Projeto Enluaradas: uma escrita de resistência”, a mediação foi da poeta Flavia Ferrari (SP). As autoras convidadas foram: Araceli Sobreira (RN), Sueli Salles (SP), Lucirene Façanha (CE), Adriana Bandeira (RS), Lilian Rocha (RS), Marina Neder Monteiro (SP), Magalhe Oliveira (RS) e Cíntia Colares (RS);

Na segunda mesa “O poema que nasce na pele e na alma”, teve a mediação da poeta Alyne Castro (CE). Contamos com as presenças das autoras: Amanda Pereira (GO), Dilma Barroso (RJ), Claudevalda Souza (SP), Karla Castro (MA), Elisa Lago (MA), Clara Athayde (RS), e presença especial da professora, pesquisadora e crítica literária Jocineide Maciel (MT);

Na terceira mesa “Enluaradas: a poética do abraço”, contamos com a mediação da poeta brasileira radicada na Alemanha Ale Heidenreich. As autoras que protagonizaram este encontro foram: Amana Assumpção (SP), Dani Espíndola (RS), Paula Anias (BA), Lindevania Martins (MA), Érica Foresti Pinto (MG), Cândida Carneiro (PA) e Elizabete Nascimento (MT);

Na quarta mesa “A caça às bruxas e o medo do poder das mulheres”, contou com a mediação da poeta Aline Leimo (CE). As autoras participantes foram: Tainá Vieira (AM), Fátima Mota (RN), Fátima Soares (PE), Zilda Dutra (CE), Rai Alburquerque (CE), Helena Terra (RS) e Lua Lopes (SP);

Na quinta mesa Lírica, ética e filosofia: o que grita a sua poesia?”, teve a mediação da escritora, professora e pesquisadora Heliene Rosa (MG). As autoras que participaram do diálogo foram: Malu Baumgartem (CA), TidaFeliz (MT), Heliana Barriga (PA), Jeane Bordignon (RS), Hydelvídia Cavalcante (AM), Manuela Lopes Dipp (RS) e Rita Queiroz (BA);

Na sexta mesa “Poesia hoje no Brasil: por quê? Para quê?”, com a mediação da poeta Lucila Bonina (AM). As autoras que estiveram no encontro foram: Verônica Oliveira de Sales (AM), Tânia Alves (BA), Cristiane de Mesquita Alves (PA), Lígia Savio (RS), Fátima de Sá Sarmento (PB) e Heloísa Helena Garcia (SP);

Na sétima mesa “Do silêncio à liberdade: as múltiplas vozes do Feminino Sagrado”. A mediação foi da escritora Carollina Costa (RJ) que fluiu boas energias na companhia das autoras: Eloísa Aragão (SP), Noemi Sales (PB), Frahm Torres (MA), Verônica Oliveira (CE), Simone S. Guimarães (SC), Janine Carvalho (DF) e Shirley Pinheiro (PR);

Na mesa de DESFECHO, mediada por Marta Cortezão (ES), contamos com as participações de Patrícia Cacau (CE), Tati Vidal (RJ), Rilnete Melo (MA), Maria do Carmo Silva (BA), Rozana Gastaldi Cominal (SP), Wilma Amâncio (AL), Teresa Cristina Bendini (SP), Sandra Santos (GER) e Valéria Pisauro (SP).

O evento teve uma boa repercussão nas redes sociais e recebeu muitos comentários positivos antes, durante e depois de sua realização. Os blogs Feminário Conexões (Espanha) e Tribuna do Recôncavo (BA) divulgaram a realização do evento. Neste segundo blog, a indicação foi da poeta Maria do Carmo Silva, a quem renovo meus agradecimentos. Agradecimentos também a todas as autoras que contribuiram para a realização do FLENLUA, especialmente às mediadoras Flavia Ferrari, Alyne Castro, Aline Leimo, Ale Heidenreich, Heliene Rosa, Carollina Costa e Lucila Bonina.

Ao final do evento, solicitei alguns textos das autoras participantes do II FLENLUA. Reproduzo, abaixo, alguns dos textos recebidos com sua respectiva autoria:

Lígia Savio
  “A poesia é uma necessidade vital do ser humano. Se nós perguntarmos por que poesia no Brasil hoje, relembro que acabamos de sair de um governo que enfaixou e facilitou o uso de armas. Contrapondo-se a isso, vejo a poesia hoje em nosso país como a “arma branca” que está sendo utilizada abundantemente, sobretudo pelas mulheres. Arma que transforma, restaura a vida e põe em cena, mais do que nunca, o feminino. O porte desta arma está liberada para todes. Maravilho-me com a diversidade que encontramos atualmente na poesia de autoria feminina. Cito aqui alguns nomes de poetas que têm marcado nossa época:

* Maria Angélica Freitas, que traz uma nova linguagem com seu livro Um útero é do tamanho de um punho;

* Mar Becker: trata da condição da mulher no Sul, em versos longos, numa dicção totalmente original em seu A mulher submersa;

* Adriane Garcia, poeta mineira, que, entre outras obras, revisita episódios bíblicos sob o ponto de vista da mulher em A bandeja de Salomé;

* Telma Scherer, dona de uma poesia crua, quase como um soco, às vezes, numa linguagem surpreendente, nos livros Depois da água e Squirt.

* Líria Porto, com poemas de tom satírico, irônico e picante;

* Raquel Gaio, poesia de imagens fortes, de tom surrealista;

* Maria Alice Bragança, com sua poesia despojada e irônica;

* Lilian Rocha: contundente poesia de tom antirracista.”

(Por Lígia Savio- “Poesia no Brasil hoje: por que? para quê?”- MESA 6)

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Valéria Pisauro
  “Salve, queridas poetas e as pessoas que estão acompanhando nossa live!

 Peço licença para chamá-las por: queridas parceiras, pois todo esse processo foi feito com parcerias e sem a colaboração de todas, não estaríamos aqui, afinal, trata-se de um coletivo.

 Aproveito esse espaço para convidá-las a viajarmos juntas sobre a nossa trajetória como ENLUARADAS e para tanto, sintetizo a nossa travessia em três fases. São elas: O AUTOCONHECIMENTO, O COLETIVO E A ANCESTRALIDADE.  

  Na primeira fase, voamos à lua em busca de APRENDIZAGEM e AUTOCONHECIMENTO.

Considero essa fase como um rito de passagem, uma espécie de emancipação. Antes, éramos sementes buscando um solo fértil, mulheres apagadas, para depois, adquirirmos brilho e tornamo-nos, ENLUARADAS.

Rompemos as algemas que durante muito tempo foram impostas a nós, deixamos de lado nossas incertezas; medo de julgamentos; vergonha de expor nossos textos, nossa intimidade e até medo de fracassar.  

Nessa fase, no entanto, conquistamos autoestima, coragem, desfizermos os nós e soltamos nossa voz!

Na segunda fase, já fortalecidas, confiantes, descemos à terra e nossa semente germinou. Tornamo-nos uma bela árvore frondosa, cheia de galhos que simboliza a nossa diversidade, o nosso coletivo.

Demos as mãos e fizemos uma grande CIRANDA, e de forma circular, alegoria do infinito e dos iguais, comemoramos a nossa força e união.

Ninguém soltou a mão de ninguém, ao contrário, nossa ciranda sempre esteve aberta para agregar, receber, abraçar e compartilhar.

Agora, em nossa terceira fase, construímos um caldeirão, libertamos a bruxa que estava adormecida dentro de nós e, novamente voamos, agora, mais alto e em revoada, prontas para queimar todo tipo de preconceitos e eliminar as ervas daninhas. E, estamos colhendo nossos frutos! 

É incrível como o símbolo do círculo acompanha nossas coletâneas como sinal de igualdade e plenitude, além de estar relacionado diretamente à alma, à divindade e à ancestralidade.

Este caldeirão adquiriu um caráter de transformação, sem medida. Foram tantos depoimentos marcantes e confessionais, que emocionaram a todas.

Nossas asas ou vassouras como preferirem, deram um “basta” ao grito contido. Agora, ele é um grito libertário, de luta, de direito e ninguém irá mais nos deter! Não há mais amarras. Vencemos o medo! Falamos sobre a dor, a depressão, o filho adolescente, a negritude, o racismo, a morte, a solidão, o sertão, entre tantos outros relatos. 

Hoje somos malditas, benditas, queridas, santas, profanas, metaforizadas em bruxas! Bruxas que representam o princípio do eterno feminino – o ventre de toda criação.

É um momento histórico! Estabelecemos um campo demarcado sem fronteiras e de resistência. Nossa arma é a poesia e ninguém irá nos calar!

E, tudo isso devemos às nossas queridas Patrícia Cacau e Marta Cortezão, que souberam mexer com tanta maestria esse caldeirão.

Agora, estamos todas misturadas; uma entre muitas repartidas, singular em seu plural.

A fumaça que sai desse caldeirão emana a nossa luz, a nossa inspiração, somos todas ENLUARADAS, BRUXAS, dentro de uma CIRANDA.

Esse desfecho, portanto, não se trata de um final, mas, o início de um novo ciclo, pois esse caldeirão nunca será tampado, descartamos a tampa no passado, estamos livres e prontas!

Somos troncos, raízes, folhas, frutos, que embora tentam cortar, insistimos em florir!

Para concluir, segundo a SAGRADA TRADIÇÃO, a Deusa tríplice apresenta os mistérios mais profundos do feminino em três faces:

1. A VIRGEM – a semente que fomos em ENLUARADAS.

2. A MÃE/AMANTE – a árvores forte e frondosa que tornamos na CIRANDA DAS DEUSAS

3. A ANCIÃ – a bruxa, a sábia, a maturidade, que estamos colhendo no I TOMO DAS BRUXAS.”

(Valéria Pisauro- DESFECHO - 15/01/2023)

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Rilnete Melo
  “Boa noite a todas, todos e todes que nos prestigiam. Obrigada queridas Marta e Cacau por me acolherem na fórmula mágica desse caldeirão fervente de literatura e pulsante de falas enfeitiçadoras. Nesse desfecho o que eu posso relatar é que no decorrer das lives, das mesas do FLENLUA e dessa tríade literária, eu pude perceber que nós mulheres, bruxas que somos, estamos conseguindo acelerar nossas vassouras em muitas direções estamos conseguindo quebrar tabus, ultrapassar fronteiras, quebrar barreiras, desmistificar e ressignificar muitos discursos, embora ainda sejamos caçadas e literalmente queimadas por nossos algozes: esse patriarcado maldito!

Queridas companheiras! A fogueira ainda queima, embora em outros moldes, como é o caso gritante do número de feminicídios, da misoginia exorbitante e outras perseguições às mulheres, mas eu ainda acredito que de mãos dadas nós seremos capazes de criar ferramentas para combater essas opressões e conquistarmos cada vez mais o nosso espaço. E é aqui e agora, é com a literatura, é com os movimentos femininos, é com a oportunidade que nos trazem esses coletivos literários, para que possamos dar mais vida e luz ao feminino sagrado. Eu já consigo ver algum sinal, através da representatividade e da oportunidade dada às mulheres, negras, indígenas, artistas, ativistas e muitas outras ocupando altos cargos públicos, enchendo nosso ego de sentimento democrático.  Eu só tenho a agradecer a todas as companheiras de jornada literária por essa sororidade, e ao Coletivo Enluaradas que muito vem fomentar o fortalecimento da nossa constante luta, por isso é necessário que ninguém solte a mão de ninguém.  Nós fomos queimadas, oprimidas e “achatadas” nesse desgoverno, mas não podemos mais nos calar, temos que dar um basta nisso e a nossa varinha mágica é a palavra, é o nosso fazer poético. Muito obrigada!

O poema “Ao viver dos meus dias” com o qual participei do “I Tomo das bruxas: do ventre à vida “, foi escrito na data do meu aniversário e traz a minha representatividade do ventre à vida.

AO VIVER DOS MEUS DIAS

 

Desbravar o mundo

eis meu primeiro ofício

 -  à Gaia

e a planta dos meus pés

 cravaram

o solo feminino

na dureza estereotipada

do caminho

 - Pisei flores e espinhos....

Abracei minhas bruxas e Marias

sem temeridade

  ao viver dos meus dias

 - conform(idade)

Minha alma carrega a leveza da infância

o sentido secreto da juventude

as escolhas insensatas ...

as decisões acertadas

a grandeza da maternidade

 - as vicissitudes

Trago o desígnio da palavra em punho

a levitar sobre meus demônios

à beira da minha mudez

que grita no papel

minha vida

ou a minha pequenez

diante da imensidão

do mundo”

(Rilnete Melo - DESFECHO- 15/01/2023)

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“... pela boca das mulheres renascerá a palavra viva e outra história se fará ouvida. Do ventre à vida, haveremos de ver a versão grandiosa do que fomos ontem,  do que somos hoje e do que seremos amanhã.”[i]


Margarida Montejano

 

Rozana Gastaldi Cominal
  Boa noite, Enluaradas. Alegria imensa estar com vocês.

Boa noite a todas, todes, todos que nos acompanham nesta noite no II FLENLUA que sintetiza a Tríade do Sagrado: uma lua toda nossa, a energia criadora da deusa e a natureza cíclica da bruxa regem nosso sensível e libertador universo feminino.

Para chegar ao ápice desta noite memorável, toda uma trajetória foi necessária para que eu assim como cada uma de nós pudéssemos protagonizar nossa escrita. E em cumplicidade aliviar nosso desassossego. Em retrospectiva, teço algumas considerações a partir do que sou, do que me constitui e do que está por vir. 

Sou Rozana Gastaldi Cominal, falo de Hortolândia-SP. Sou mulher que voa feita de eus-múltiplos que sustentam o corpo amoroso, político e periférico. Acredito na força dos coletivos e com eles faço voz. Porque acredito nessa nossa cruzada de amor/no combate à insensatez/ bate forte o tambor![ii]


ao som de cada manhã

rompem embalos vitais

vitória nossa de cada dia[iii]


Sou feita d-eus múltiplos[iv]

criatura ímpar, imperfeita, partida[v]

avessa a adeus

sou mulher que voa

que ciranda e canta: Fly me to the moon[vi]

na varanda ou

em voo cego por onde for


Sou eu a celebrar
sessenta rosas
com  poemas
pólen e jardim

Sexy a cada poda
pétalas carmim
espinhos aninhados
em versos afiados

Um brinde à poesia
que vive além de mim!

Se tantas são as adversidades que nos afastam do fazer poético, também a teimosia persevera e insiste: vá, ser poeta:

Poeta sou

sigo a voz que me chama

sigo o peito que inflama

removo o flanco[vii]

violeta e malagueta[viii]

apalpo as bússolas líquidas/ que norteiam a margem do rio/

e me convidam a fazer a travessia[ix]

 

Ao renascer

conecto-me com o universo ao redor

Outra vez em guarda e (or)ação

sobrevivente sou

vidas que esgarçam e entrelaçam[x] 

Tantas são as emoções  interrogações que vêm aos montes. Enquanto as soluções  exigem que nossos olhares se encontrem, que nossos pontos de vista se ajustem, que nossas essências se cruzem, quer saber? Espalhe o que quer receber.

Somos sementes/ que brotam/ ao sol[xi]

Somos potências que abrasam o mundo

expressamos liberdade e poder.

Poder pensar e saber. Poder amar e ser feliz

Poder gargalhar e contra as injustiças gritar.[xii]

Sim, queremos liberdade para existir, abraçar, valorizar nossos corpos amorosos políticos, periféricos. Poesia é antídoto para os  processos criativos da vida que dói , é oxigênio  em tempo rarefeito, é presença de afetos,  são ímpetos comunicativos para chegar  à outra, ao outro, a quem respira no planeta, quebrando tabus, fronteiras. Mãos dadas com nossa ancestralidade, “nunca mais um Brasil sem nós”,  como bem disseram, na posse em conjunto, as ministras  Sonia Guajajara e Anielle Franco, que nos representam entre outras vozes e marcam territórios que nos foram antes negados. Percorro caminhos e Castelos diversos, espaços conquistados com minha armadura: a palavra, o riso, apesar da zanga que espreita. Para que meu legado não se perca totalmente, deixo na lápide as minhas Memórias ancestrais.

Agradeço imensamente estar com vocês, Marta Cortezão, Patrícia Cacau, cujo apoio essencial nos fazem avançar. Agradeço às mediadoras das mesas anteriores  que enriqueceram o debate ao ouvir cada uma de nós. Agradeço ainda às Enluaradas que comigo partilham esta mesa e aquelas que nos assistem. Que noite, que desfecho! Só me resta declarar meu amor por vocês:

Amo-te, herói ou heroína, no anonimato,

mas na luta pela própria preservação

Somos legião demarcada pela resistência,

aqui, em mundos paralelos e multiversos  existimos!

Amo-te como amo a mim:

simples assim, a olho nu, em sinergia[xiii]

Por mais mulheres que escrevem! Viva a Enluaradas em movimento, viva as misteriosas deusas, viva as bruxas que somos e outras que nos habitam!

CASTELOS

(Rozana Gastaldi Cominal)


casTelos

de areia, de cartas, de reis e rainhas

casTelos

que divertem enquanto enfeitiçados

por entre labirintos, magias e lua cheia

cala-te, boca: o inimigo está de plantão

 

casTelos

com vultos de plasma,

com anões e gigantes, com teias de aranha

casTelos

que divertem enquanto  encantados

por entre espelhos, janelas e portas secretas

beija minha boca: o perigo é constante

 

casTelos

enquanto assombrados

assustam diante do calabouço

cuidado a placa não adverte o sopro do dragão

tampouco se ouve o eco das correntes

ou se vê a cilada dos fantasmas

apenas respiração boca a boca

sela o arcabouço

                                                             (Rozana Gastaldi Cominal - DESFECHO- 15/01/2023)

[i] Posfácio de Margarida Montejano em I Tomo das Bruxas: Do Ventre à Vida

[ii] Versos do Poema Tempo rarefeito, inédito

[iii] Poema Lutar, vozes do Coletivo TAUP – Tome Aí Um Poema, Setembro Amarelo

[iv] Verso do poema Fio condutor, na coletânea Cotidiano, Poesia e Resistência, organizada por mim, Margarida Montejano e Nirlei Maria Oliveira

v Versos do poema Criação, na coletânea Mulheres Maravilhosas vol.5: Elas Sambam, homenagem a Elza Soares

[vi]  Versos do poema Me leve para a Lua, na coletânea Enluaradas: Se essa lua fosse nossa

[vii]  Versos do poema Flâmula na coletânea Quarentena Poética

[viii]  Verso do poema Violeta & Malagueta no livro Mulheres que voam

[ix] Versos do poema Pé na estrada no livro Mulheres que voam

[x] Poema 7 da Ópera Imprecisa no livro Nascer pela segunda vez, Coletivo Scenarium

[xi]  Versos do poema Mentes brilhantes, Coletânea Sinergia, Bom dia com Literatura Feminina

[xii]  Versos do poema Mulheres vulcânicas, coletânea Mulheres Maravilhosas na Semana de Arte Moderna vol. 4

[xiii]  Poema em construção: Corpos amorosos, políticos e periféricos

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Marta Cortezão é escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: “Banzeiro manso” (Porto de Lenha Editora, 2017), “Amazonidades; gesta das águas” (Penalux, 2021), Zine “Aljavas para Cupido” (2022) e, no prelo, “meu silêncio lambe tua orelha” (Toma Aí Um Poema Editora, 2023). Colunista da Revista Literária Voo Livre. Idealizadora das Tertúlias Virtuais (Prêmio APPERJ/2021), do blog Feminário Conexões. @martacortezaopoeta


Feminário Conexões, o blog que conecta você!

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