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sábado, 5 de fevereiro de 2022

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO, POR CAROLLINA COSTA


LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|03


RESENHA: NA COMPANHIA DE BELA, DE SUSANA VENTURA E CASSIA LESLIE


Por Carollina Costa



Tão importante quanto ter mulheres escrevendo é divulgar a escrita de outras mulheres. A  quantidade de mulheres escritoras reconhecidas como tal tem aumentado com o passar do tempo, mas elas sempre existiram. No intuito de tentar ressaltar a existência e importância dessas mulheres, trago aqui uma breve resenha de um livro que reúne textos de algumas mulheres que ficaram à margem com sua escrita durante muitos séculos, incluindo uma escritora anônima.

Espero que essa resenha possa motivar outras escritoras a buscar mais histórias contadas por mulheres tanto quanto me motiva.


Resenha: Na Companhia de Bela, de Susana Ventura e Cassia Leslie

O livro Na Companhia de Bela: Contos de Fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII é fruto de um projeto de pós-graduação feito em parceria pelas pesquisadoras Susana Ventura (USP) e Cassia Leslie (UEL) que reúnem nesta obra alguns contos de fadas das chamadas Preciosas, que foram mulheres autoras do atual gênero de contos de fadas na França entre os séculos 17 e 18. Naquela época não era muito comum e nem aceito —feria o “princípio da modéstia”— que mulheres publicassem livros e fossem reconhecidas por isso, o que fez com que muitas delas fossem apagadas pelo tempo e colocadas à sombra de nomes como Grimm, Perrault e Andersen. Até mesmo as que foram bem recebidas em sua época não tiveram seus trabalhos preservados pelo tempo por não serem consideradas "de qualidade".

Nesse livro, Susana e Cassia reúnem contos europeus que vão desde célebres escritoras, como Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, autora do famoso conto de fadas A Bela e A Fera, até uma homenagem às escritoras anônimas (mulheres que publicavam em coletâneas e não anunciavam seus nomes em suas publicações) com o conto O Príncipe Arco-Íris, noemando a autora de Mademoiselle Anônima.

O conteúdo do livro alterna entre as histórias, breves biografias sobre suas autoras, com destaque para a situação social e política da época em que elas viveram e produziram seus escritos, e informações extras ao fim de cada conto. O livro não é grande em comprimento, mas sua grossura de 286 páginas vem não só dos textos, mas também da ótima qualidade do papel, perfeito para sustentar as belas e detalhadas ilustrações típicas dos contos de fadas. A fonte utilizada nos textos é confortável para leitura, tendo também letras bem grandes e desenhadas para os títulos e apresentação das escritoras.

Diferente dos atuais, era típico dos antigos contos de fadas a existência de fadas boas e más, além da presença de monstros marcantes e finais não tão bonitos. As histórias dessa coleção apresentam monstros e turbulências, porém trazem consigo o consolo dos finais felizes. Também é muito presente nas histórias o folclore da antiga Europa, apresentado em cada personagem. 

Apesar do tamanho, minha leitura foi rápida por conta das páginas ilustradas. Recomendo a leitura para quem quiserem conhecer algumas escritoras da antiga Europa e seu folclore.



domingo, 23 de janeiro de 2022

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO, POR CAROLLINA COSTA




LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|02

Por Carollina Costa


É comum que, ao crescer, todos escutemos pessoas de todos os lados dizendo o que devemos fazer, ser, vestir, comer, dizer... No geral, isso tudo um dia passa e se ganha liberdade para viver a vida com sua própria graça, mas para a mulher é diferente. Algumas têm a sorte de alcançar essa liberdade normalmente, mas muitas outras somam os dizeres da casa com os da sociedade e se mantém reféns de opiniões, objeções, gostos e desejos alheios, a ponto de sequer saberem se algum dia tiveram algum desejo, alguma ambição qualquer. No meu conto "Casinha", narro a história de uma menina que segue para a vida adulta emaranhada nas  histórias dos outros e no fim, ao esvaziar-se de tudo, se preenche de si mesma.


C A S I N H A

 

Havia uma menina. Uma menina que foi ensinada a querer, a viver, a agir, a ser.

Ela queria o que queriam para ela, sonhava os sonhos sonhados para ela, era e se portava de acordo com o que fora planejado para ela. Não que isso fosse bom ou ruim, apenas era tudo o que ela conhecia. Até o sentimento de felicidade fora planejado para ela. E ela o sentia como se fosse seu.

Até que um dia ela acordou mulher e se viu numa casa a qual não pertencia, em um casamento que ela não reconhecia e com um homem que, apesar de aparente semelhança, nada tinha a ver com seu noivo da época —e não é como se tudo estivesse melhor. Precisava pagar a dívida dos pais, já tinha netos que nunca vira —mas eram só bebês, então perdoava-se— e, em um instante, ela reconheceu que ela não era ela. Montada como um quebra-cabeças feito de peças que não se encaixam, ela era aquela que acordava todos os dias para honrar o trabalho que não escolhera e a vida que não viu se formar. Estava, sim, sobrevivendo, mas isso já não bastava.

Por até então não saber que poderia ser diferente, ela fez logo o que devia: resolveu os problemas que não eram dela, abandonou aqueles que eram seus, fez da angústia sua melhor amiga e dos pássaros os seres que mais invejava. Achava que a vida era isso — quando não duvidava se sabia mesmo o que era a vida — e seguiu, até seu coração parar. Não o físico, porque este andava bem, mas o da alma.

Ao despertar, não demorou para acarretar decisões. Terminou o casamento já acabado, deu adeus aos sonhos de seus pais, desistiu do faz de conta e, finalmente longe, livre e abatida, cruzou novos mares na esperança de se refazer em outros lugares para compensar o despedaço do vazio que tanto carregou dentro de si.




sábado, 8 de janeiro de 2022

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO, POR CAROLLINA COSTA



LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|01


A   C O R   D A   L I N G U A G E M 


Por Carollina Costa


Ora bem aceito, ora estigmatizado e símbolo de luta e empoderamento feminino desde 1912, o batom vermelho nunca passa despercebido onde quer que apareça. Os nuances de um batom vermelho são tão diferentes entre si quanto as mulheres que o usam — incluindo as várias mulheres que existem dentro de cada uma de nós — e em cada cor uma linguagem, uma vontade, uma potência, um significado.

Tal qual variadas forças, expressões e tons, nessa coluna pretendo apresentar a multiplicidade do ser mulher tanto quanto as mulheres que habitam em mim conseguirem alcançar. Para isso farei uso da ferramenta que mais me é cara: a escrita. Apresentarei poemas, resenhas, textos diversos que eu acredite mostrarem, cada um a seu modo, faces e fases presentes no universo feminino interno e externo.

Nessa minha postagem de estreia, compartilho aqui três poemas de minha autoria, dois publicados em duas coletâneas poéticas diferentes e um publicado no meu livro de poemas O Singular do DualSete Véus da Solidão, publicado na coletânea "Mulheres Brilhantes Escrevem Poesia – Uma Homenagem A Hilda Hilst" pela editora Versejar, Tornar-se, publicado na Coletânea Enluaradas I: Se essa Lua Fosse Nossa (Ser MulherArte Selo Editorial, 2021) e Eu ainda lembro da vitrola da minha avó, do meu livro de poemas O Singular do Dual (2018).
 
Para ouvir o podcast, clique AQUI.

Sete Véus da Solidão

Seu prazer não pode valer meu sofrimento
Já passei por muito desalento
De dormir com o corpo quente
E o coração ao vento
Demorei mas entendi
Que da tristeza não faço parte
Da solidão não quero nem metade
E não vou ser
A Sherazade
De nenhum harém

*_*    *_*    *_*    *_*
 
Tornar-se

A gente não é
A gente se torna
Mas a gente também nasce
E renasce
Porque ser mulher
É um eterno parir
De si mesma
 
*_*    *_*    *_*    *_*
 
[Sem título]

Eu ainda lembro da vitrola da minha avó
Ou já era um rádio?
Enquanto eu dançava pelos corredores
Piruetando
E sendo
Criança

 *_*    *_*    *_*    *_*




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